Sem carrão e vigilantes do peso: como uma joia de R$ 42 milhões é preparada para a fama


Fonte: Esporte Interativo

Sem carrão e vigilantes do peso: como uma joia de R$ 42 milhões é preparada para a fama
O volante Walace é um exemplo de jogador assessorado e bem trabalhado psicologicamente

Uns craques do futebol são completos. Têm o passe perfeito, o drible desconcertante, o chute preciso ou a noção tática apurada. Outros, têm um pouco disso tudo e, de quebra, são preparados psicologicamente para a fama. Um exemplo deste tipo de jogador é Walace Souza Silva, de apenas 20 anos de idade.

Recebido em uma troca pelo meia Marquinhos com o Avaí, o volante recém-promovido ao time de cima do Grêmio foi, em pouco tempo, de desconhecido a uma das grandes joias a serem lapidadas pelo time tricolor gaúcho. Segundo o jornal italiano Gazetta dello Sport, a equipe não aceitaria negociar o jovem por menos de 10 milhões de euros (cerca de 42 milhões de reais). E, além dele, há alguns outros culpados para tamanha ascenção.

Se dentro de campo é Roger Machado quem mostra os atalhos do gramado, fora dele uma equipe de cinco pessoas trabalha direta e incessantemente orientando os rumos de Walace.

"Meu empresário veio falar comigo sobre isso e achei interessante porque não conhecia muito desta área e está sendo muito bom. Com esse trabalho eu fico mais tranquilo e mais focado em jogar futebol. Eu confio neles para cuidarem dessa parte extracampo para mim", disse, em contato com a reportagem do ESPN.com.br.

Vigilantes do peso... e do horário

Rogério Braun, agente e representante da empresa Football Capital, que gere a carreira do atleta natural de Salvador, é um deles. O trabalho começou há cerca de dois anos e meio, na Copa BH, um dos grandes torneios de base do Brasil.

"Pela postura e pelas informações que a gente tinha dele, vimos que tinha um perfil de jogador de alto nível e potencial de jogar na Europa. Cuidamos dos contratos dele, das renovações que ele fará e de possíveis transferências no futuro. Nós orientamos o jogador na postura, de como se portar no grupo e nos treinamentos. Nós acompanhamos até o percentual de gordura e peso do atleta. Se ele atrasar no treino, nós cobramos", contou Braun, também em entrevista ao ESPN.com.br.

Carrão? Querer não é poder!

Muitas coisas são analisadas para que a carreira de Walace não seja prejudicada logo no início. E, apesar de apartamentos grandes e carros de marca serem os grandes sonhos dos jogadores, com o gremista isso tudo foi vetado.

Garoto de 20 anos é treinado para dar entrevistas

"Nosso grande desafio é atender o que ele precisa e não o que ele quer. Walace jogava na base, foi promovido ao profissional e alugamos um apartamento perto do CT para ele não se desgastar muito. Depois, o assessoramos a comprar um carro bom, mas que não fosse muito vistoso e não fosse zero, o carrão da moda de ostentação", disse.

O objetivo por enquanto é, portanto, não expor o garoto à badalação.

"Até porque não é momento disso, é um instrumento para que ele não apareça demais, seja degrau a degrau e ele não tem um salário compatível ainda com isso", completou Braun.

Não vai falar besteira, hein...

Outro aspecto importante para qualquer figura pública é o chamado "Media Training", que nada mais é o que nome sugere: o treinamento para como dizer certas coisas, além da forma a qual deve se comportar em entrevistas na presença de repórteres.

"Nós fazemos alguns media training para aprender a dar entrevistas, para que ele seja verdadeiro e seja de acordo com ele. A gente orienta isso em alinhar com o próprio time, de não dar entrevista em momento errado ou dar exposição demais. Para que ele tenha uma noção que mesmo jovem é uma figura pública e representa uma instituição centenária como o Grêmio", contou Rogério Braun.

PH Ganso é marcado por Walace, pelo Brasileiro

Ator protagonista neste aspecto é seu assessor de imprensa, Flávio Dias. Diferentemente de alguns jogadores que são altamente blindados, com Walace o caso é distinto.

"Eu me preocupo para que ele esteja preparado para a entrevista, muitos caras blindam demais os clientes, eu os preparo para guerra. Porque não vai ter ninguém para auxiliá-lo na entrevista depois do jogo, se não estiver preparado poderá falar alguma besteira. A gente quer que o jogador pense pela cabeça dele e seja um cara que saiba falar muito bem", comentou, outro que atendeu à reportagem.

"A gente alerta que tipo de perguntas ele vão fazer e procura orientar para que não seja ofensivo na resposta. Eu não digo o que ele precisa falar. Quase toda semana a gente conversa com ele, não fazemos um treinamento de mídia em uma sala tradicional, é mais uma conversa. Vemos uma entrevista que deu e analisamos o que ele falou, no que errou, no que pode melhorar", disse.

Volante, em entrevista coletiva na Arena Grêmio

"Procuramos aproveitar os bons momentos e as boas atuações dele. Quando ele não estava jogando, a gente o preparava também para as críticas e as perguntas do tipo 'por que você não esta jogando?' Não é pra ele fugir em um momento desses, é saber responder de uma forma que não o prejudique."

E tudo depende para qual mídia ele dará essa entrevista...

"É importante ele saber para qual público ele está falando, se for para um programa de TV como o Bola da Vez é uma coisa, para um site o perfil do leitor é outro", completou.

"O Walace é um menino de 20 anos e tem as coisas da idade. A gente procura orientar em algumas coisas quando erra no português, como ‘opito', 'sejem', ‘houveram', essas coisas", concluiu.

Apesar da ajuda da eficiente equipe, Walace não se deixa esquecer-se da educação dada por sua mãe na capital baiana.

"Eles me ajudam quando vou dar entrevista, é algo bem leve. Eles ajudam em vários aspectos da minha vida, no meu jeito de falar, sempre me orientam. Tive muita instrução da minha mãe que me deu uma cabeça muito boa", disse o volante gremista.

Dinheiro na mão é vendaval

Jogar fora do Brasil é o provável destino do meio-campista. Mesmo assim, ele não será nenhum dos novos "centros ricos do futebol". China, Emirados Árabes e Arábia Saudita estão fora dos planos.

"Ele veio de uma família muito humilde ajudamos a dar uma condição melhor financeira. Estamos tentando divulgar o nome dele no exterior como gestor para, num futuro, jogar na Europa. Temos uma preocupação de direcionar no futuro para ele ir a um mercado em que se desenvolva e que seja dentro das características dele, não é só dinheiro da transferência", comentou Braun.

"A gente vai no banco para abrir conta para ele, faz gerenciamento da carreira dele, a gente tem sorte dele ser muito inteligente e escutar muito e absorver rápido", relatou ao ESPN.com.br Fabiano Soares, que cuida de toda a logística do atleta e mais um elemento da equipe.

A marca "Walace"

Todo jogador passa por uma construção de marca própria. Quem cuida disso no caso de Walace é Bernardo Krebs, diretor de negócios da empresa Gama - Gestão de Imagem.

"A gente administra a marca Walace. A empresa procura transmitir todos os valores dele. Em cima disso, fazemos o negócio em cima do que o mercado aparece. A gente administra junto com o assessor a rede social. Aproximar ele do fã e que tenha um retorno pessoal. Isso abre portas, ativando negócios e campanhas e vamos atrás de empresas que queiram entrar no esporte", comentou ao ESPN.com.br.

Walace possui página própria no Facebook

O caso da rede social mencionada por Krebs é o Facebook, página oficial criada há apenas três meses, mas que já possui mais de 13 mil curtidas, em sua maioria torcedores do Grêmio.

"Fizemos uma ação em que uma menina ganhou uma camisa autografada. Queremos que a rede social se misture com a vida real dele, como uma forma dos fãs chegarem mais perto no contato direto com o Walace", completa.

"Não queremos que ele fique postando o tempo todo, até porque ele não gosta. Nosso objetivo maior é criar mais interação. A página é um reflexo dele, se ele quiser postar mais, sem problema", concluiu.


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