Episódios de racismo verificados na Arena despertam discussão sobre intolerância no Estado
Foto: Fernando Gomes / Agencia RBS
A partir das 14h desta quarta-feira, o Grêmio será julgado pelos atos racistas praticados por torcedores durante a partida contra o Santos, pela Copa do Brasil, na Arena, na semana passada.
A ruidosa repercussão do caso em todo o país reforçou uma imagem de intolerância atribuída aos gaúchos, mas especialistas sustentam que, independentemente do resultado do julgamento na instância esportiva, o preconceito étnico não pode ser apontado como característica de uma torcida inteira, nem como uma exclusividade das arquibancadas no Rio Grande do Sul. A reação negativa da própria sociedade rio-grandense ao episódio poderia, ainda, se tornar um marco na luta contra a discriminação.
Casos de preconceito racial no universo do futebol são, infelizmente, ainda frequentes. O jogador Arouca, do Santos, foi chamado de “macaco” no interior de São Paulo. O volante Marino, do São Bernardo, ouviu torcedores gritarem “macaco” e “gorila” em um jogo contra o Paraná, em Curitiba. Torcedores peruanos imitaram sons de macaco diante do cruzeirense Tinga. O episódio registrado na Arena ganhou repercussão ainda maior porque as câmeras de TV registraram em close as ofensas lançadas contra o goleiro Aranha.
O receio da maioria de torcedores gremistas adeptos da civilidade, como o cineasta Carlos Gerbase, é de que o flagrante de preconceito resulte em uma outra forma de discriminação: a suposição de que os gaúchos, em geral, e os tricolores, em particular, são racistas.
– Temos de garantir que o racismo seja abolido dos estádios e de todos os lugares, e evitar a interpretação de que o Grêmio é um clube racista. Vou ao Olímpico desde que me conheço por gente, de mãos dadas com o meu pai, cumprimentar o Ortunho, o Paulo Lumumba e uma série de outros jogadores negros que o Grêmio teve. O que houve foi uma manifestação burra e absurda de uma parte da torcida – argumenta Gerbase.
Jogadores como Zé Roberto e Marcelo Grohe também lamentaram as ofensas direcionadas ao goleiro santista. Após o jogo, Zé Roberto se disse “indignado”. Grohe, nesta terça, se disse entristecido.
– A gente lamenta, fica triste. Nós, jogadores, estamos tristes com o que aconteceu – declarou.
Para o professor de Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Henrique Nardi, as manifestações de cunho racista ocorrem quando torcedores se sentem protegidos pelo anonimato e pela impunidade. Somente depois da repetição de cantos contendo o termo “macaco”, na partida contra o Bahia, a direção do Grêmio tomou a decisão de suspender a torcida Geral (responsável pelo cântico) por “tempo indeterminado”. Com isso, a organizada fica proibida de entrar na Arena com qualquer tipo de identificação ou de usar a marca do clube.
– Esse é o caminho (o da punição). Esse tipo de atitude não pode ser tolerado, porque tem efeito nas próximas gerações. Uma criança que ouve isso no estádio vai achar que pode ser feito – avalia Nardi.
O ex-juiz Márcio Chagas da Silva, que também foi alvo de preconceito por ser negro, tem a esperança de que a indignação atual sirva para produzir mudanças, em vez de estigmatizar a população gaúcha:
– Acredito que pode ser um momento de virada, porque o racismo está muito forte em todo o Brasil.
Para o doutorando em Educação e pesquisador do comportamento masculino nos estádios Gustavo Bandeira, o preconceito nas arenas brasileiras a que Márcio Chagas se refere segue uma máxima:
– Se o jogador branco erra, é porque é ruim. Se um negro erra, é porque é negro.
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Foto: Fernando Gomes / Agencia RBS
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A ruidosa repercussão do caso em todo o país reforçou uma imagem de intolerância atribuída aos gaúchos, mas especialistas sustentam que, independentemente do resultado do julgamento na instância esportiva, o preconceito étnico não pode ser apontado como característica de uma torcida inteira, nem como uma exclusividade das arquibancadas no Rio Grande do Sul. A reação negativa da própria sociedade rio-grandense ao episódio poderia, ainda, se tornar um marco na luta contra a discriminação.
Casos de preconceito racial no universo do futebol são, infelizmente, ainda frequentes. O jogador Arouca, do Santos, foi chamado de “macaco” no interior de São Paulo. O volante Marino, do São Bernardo, ouviu torcedores gritarem “macaco” e “gorila” em um jogo contra o Paraná, em Curitiba. Torcedores peruanos imitaram sons de macaco diante do cruzeirense Tinga. O episódio registrado na Arena ganhou repercussão ainda maior porque as câmeras de TV registraram em close as ofensas lançadas contra o goleiro Aranha.
O receio da maioria de torcedores gremistas adeptos da civilidade, como o cineasta Carlos Gerbase, é de que o flagrante de preconceito resulte em uma outra forma de discriminação: a suposição de que os gaúchos, em geral, e os tricolores, em particular, são racistas.
– Temos de garantir que o racismo seja abolido dos estádios e de todos os lugares, e evitar a interpretação de que o Grêmio é um clube racista. Vou ao Olímpico desde que me conheço por gente, de mãos dadas com o meu pai, cumprimentar o Ortunho, o Paulo Lumumba e uma série de outros jogadores negros que o Grêmio teve. O que houve foi uma manifestação burra e absurda de uma parte da torcida – argumenta Gerbase.
Jogadores como Zé Roberto e Marcelo Grohe também lamentaram as ofensas direcionadas ao goleiro santista. Após o jogo, Zé Roberto se disse “indignado”. Grohe, nesta terça, se disse entristecido.
– A gente lamenta, fica triste. Nós, jogadores, estamos tristes com o que aconteceu – declarou.
Para o professor de Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Henrique Nardi, as manifestações de cunho racista ocorrem quando torcedores se sentem protegidos pelo anonimato e pela impunidade. Somente depois da repetição de cantos contendo o termo “macaco”, na partida contra o Bahia, a direção do Grêmio tomou a decisão de suspender a torcida Geral (responsável pelo cântico) por “tempo indeterminado”. Com isso, a organizada fica proibida de entrar na Arena com qualquer tipo de identificação ou de usar a marca do clube.
– Esse é o caminho (o da punição). Esse tipo de atitude não pode ser tolerado, porque tem efeito nas próximas gerações. Uma criança que ouve isso no estádio vai achar que pode ser feito – avalia Nardi.
O ex-juiz Márcio Chagas da Silva, que também foi alvo de preconceito por ser negro, tem a esperança de que a indignação atual sirva para produzir mudanças, em vez de estigmatizar a população gaúcha:
– Acredito que pode ser um momento de virada, porque o racismo está muito forte em todo o Brasil.
Para o doutorando em Educação e pesquisador do comportamento masculino nos estádios Gustavo Bandeira, o preconceito nas arenas brasileiras a que Márcio Chagas se refere segue uma máxima:
– Se o jogador branco erra, é porque é ruim. Se um negro erra, é porque é negro.
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