Em “Babel”, Marrocos, Estados Unidos, Japão e México narram quatro histórias que, mesmo com suas particularidades e atores, estão interligadas por ideologias e mistérios. Inevitável não remeter o filme americano à mítica e bíblica “Torre de Babel”, na qual as línguas se confundem ante a miscigenação das raças. Nos campeonatos estaduais de 2015, sobram localidades, personagens, sotaques, tramas e, como não podia deixar de ser, infrações disciplinares.
Em Goiás, uma mão nunca rendeu tamanho gancho. E não foi no boxe. Na terra do massagista Esquerdinha (cujo time chegou à final sem ninguém salvando gol em cima da linha), o atleta Bruno Henrique dominou a bola com a mão e fez o gol para seu time, o Goiás. Alto lá, disseram os membros do TJD-GO, que lhe deram uma suspensão de aviltantes 12 jogos. E qual infração? Lei de Gérson? Não, uma incluída no capítulo de corrupção no esporte ou manipulação de resultado. A aberração jurídica foi corrigida em segunda instância, mas não deixou de ser um alerta: Diego Maradona que não passe perto destas terras, deste estadual e desta comissão disciplinar. Pela “Mano de Dios” de 1986, seria certamente banido do futebol.
No Ceará, outro caso que até parecia anedota contada pelo saudoso Chico Anysio. O Fortaleza foi sumariamente rebaixado e excluído do campeonato cearense por ter ingressado na justiça comum quando nem o CBJD, de 2003, existia. Pelo bem do futebol, esta serôdia decisão do TJD-CE já deve estar fulminada quando um dos dois grandes der a volta olímpica, deixando o humor ser exclusivo do mestre cearense e seus eternos personagens.
No Rio de Janeiro, os jogos nem tinham começado quando, já no conselho técnico, dirigentes promoveram ríspida discussão de fazer inveja em atletas desbocados. E ainda teve a polêmica “Lei da mordaça” constante no regulamento, que foi derrubada antes do primeiro pênalti anotado. Fogo aceso e resultado da labareda: TJD-RJ foi o 17º time do certame. Invasão de torcedores no vestiário de Macaé; agressão covarde em Ricardo Berna; Fred desejando o fim do campeonato após expulsão; Vanderlei Luxemburgo se calando com esparadrapo na boca depois de ser alijado de um Fla x Flu. Ofensa à honra, desrespeito à arbitragem, faixas e ameaças à entidade regional, perdas de mandos, jogadores desfalcando seus clubes em jogos finais, clube perdendo pontos. Que o estadual de 2016 comece com nota dez em harmonia. Caso contrário, o TJD-RJ terá mais iluminação e público que os jogos de Nova Iguaçu e Barra Mansa.
Luxemburgo de esparadrapo na boca: uma das cenas da Babel dos estaduais (Foto: Gilvan de Souza / Flamengo)
Na Bahia, arretado foi o atleta Meidson, da Jacuipense. Insatisfeito com uma decisão do árbitro Arilson Bispo, o jogador não se fez de rogado e lhe desferiu um soco na barriga. Expulsão foi pouco: 210 dias de suspensão no TJD-BA para refletir se quer jogar futebol ou talvez tentar a sorte no MMA.
No Rio Grande do Sul, o TJD-RS teve que se deparar com fúrias. Primeiro, do jogador Fabrício, possivelmente em cumprimento de aviso prévio no Internacional. Gestos obscenos e impropérios dirigidos à sua própria torcida, em resposta às vaias. Em seguida, supostas ofensas de cunho racista (de novo, não!). Incitação à violência e infração à ética e disciplina. Ainda da arquibancada, mas em grau acentuado, o G. E. Brasil, clube de feridas não cicatrizadas desde a tragédia de 2009, presenciou seus torcedores torcerem pelas tortuosas estradas do estado e pelos difíceis julgamentos nos tribunais. A interdição do Bento de Freitas após queda de parte da arquibancada forçou a saída para outras plagas. Spray de pimenta, gás lacrimogênio e bomba de efeito moral marcaram e mancharam outro jogo do time, desta feita no Aldo Dapuzzo. No próximo estadual, menos TJD-RS julgando perdas de mandos e desmandos, e mais paz nas arquibancadas, como bem fizeram os grandes da capital ao mesclarem parte de suas torcidas em um mesmo setor do estádio.
Torcida mista no Gre-Nal: alento em tempos de interdições e brigas no RS (Foto: Eduardo Moura/Globoesporte.com)
Em outros estaduais, destaque para o uso incorreto da água. No campeonato amazonense, um jogador do Princesa do Solimões arremessou sua garrafa d´água em um torcedor. O caso foi parar no TJD-AM, por conduta mais do que antidesportiva, e na delegacia. No Acre, o mesmo utensílio foi usado, mas para banho (indesejado) de um atleta enquanto concedia entrevista. No jogo Galvez x Rio Branco, sobrou água fria dentro de campo, um ato hostil entre colegas de profissão em tempos de racionamento.
Outros dois estaduais também tiveram luz própria. No Espírito Santo, mais precisamente, a falta. Um apagão no jogo disputado no Engenheiro Araripe gerou dúvidas. Seria o divino o responsável pela queda abrupta de energia? Mais abaixo no mapa, em Santa Catarina, clubes brilharam em perdas de pontos por irregularidades de atletas, colocando asteriscos na tabela e mostrando, mais uma vez, que o “Caso Héverton” nunca foi, e nunca será, episódio isolado.
Histórias, contos, tramas e punições nos tribunais dos nossos 27 estaduais, mas o GloboEsporte.com acabaria suspendendo esta coluna por excesso de caractere se todos fossem destacados!
O fato é que a Babel dos tribunais desportivos mostrou que os estaduais estão longe de serem monótonos e rotineiros. Os TJDs, cada um com seu sotaque e independência funcional, tiveram trabalho árduo e agora lançam, em conjunto, a bola para o STJD, responsável pelas Séries A, B, C e D. A confusão de linguagem deve ficar na bíblia e no cinema, não na nossa justiça desportiva, na qual torcedores, jogadores e clubes devem sempre tentar se comunicar no mesmo idioma.
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No Ceará, outro caso que até parecia anedota contada pelo saudoso Chico Anysio. O Fortaleza foi sumariamente rebaixado e excluído do campeonato cearense por ter ingressado na justiça comum quando nem o CBJD, de 2003, existia. Pelo bem do futebol, esta serôdia decisão do TJD-CE já deve estar fulminada quando um dos dois grandes der a volta olímpica, deixando o humor ser exclusivo do mestre cearense e seus eternos personagens.
No Rio de Janeiro, os jogos nem tinham começado quando, já no conselho técnico, dirigentes promoveram ríspida discussão de fazer inveja em atletas desbocados. E ainda teve a polêmica “Lei da mordaça” constante no regulamento, que foi derrubada antes do primeiro pênalti anotado. Fogo aceso e resultado da labareda: TJD-RJ foi o 17º time do certame. Invasão de torcedores no vestiário de Macaé; agressão covarde em Ricardo Berna; Fred desejando o fim do campeonato após expulsão; Vanderlei Luxemburgo se calando com esparadrapo na boca depois de ser alijado de um Fla x Flu. Ofensa à honra, desrespeito à arbitragem, faixas e ameaças à entidade regional, perdas de mandos, jogadores desfalcando seus clubes em jogos finais, clube perdendo pontos. Que o estadual de 2016 comece com nota dez em harmonia. Caso contrário, o TJD-RJ terá mais iluminação e público que os jogos de Nova Iguaçu e Barra Mansa.
Luxemburgo de esparadrapo na boca: uma das cenas da Babel dos estaduais (Foto: Gilvan de Souza / Flamengo)
Na Bahia, arretado foi o atleta Meidson, da Jacuipense. Insatisfeito com uma decisão do árbitro Arilson Bispo, o jogador não se fez de rogado e lhe desferiu um soco na barriga. Expulsão foi pouco: 210 dias de suspensão no TJD-BA para refletir se quer jogar futebol ou talvez tentar a sorte no MMA.
No Rio Grande do Sul, o TJD-RS teve que se deparar com fúrias. Primeiro, do jogador Fabrício, possivelmente em cumprimento de aviso prévio no Internacional. Gestos obscenos e impropérios dirigidos à sua própria torcida, em resposta às vaias. Em seguida, supostas ofensas de cunho racista (de novo, não!). Incitação à violência e infração à ética e disciplina. Ainda da arquibancada, mas em grau acentuado, o G. E. Brasil, clube de feridas não cicatrizadas desde a tragédia de 2009, presenciou seus torcedores torcerem pelas tortuosas estradas do estado e pelos difíceis julgamentos nos tribunais. A interdição do Bento de Freitas após queda de parte da arquibancada forçou a saída para outras plagas. Spray de pimenta, gás lacrimogênio e bomba de efeito moral marcaram e mancharam outro jogo do time, desta feita no Aldo Dapuzzo. No próximo estadual, menos TJD-RS julgando perdas de mandos e desmandos, e mais paz nas arquibancadas, como bem fizeram os grandes da capital ao mesclarem parte de suas torcidas em um mesmo setor do estádio.
Torcida mista no Gre-Nal: alento em tempos de interdições e brigas no RS (Foto: Eduardo Moura/Globoesporte.com)
Em outros estaduais, destaque para o uso incorreto da água. No campeonato amazonense, um jogador do Princesa do Solimões arremessou sua garrafa d´água em um torcedor. O caso foi parar no TJD-AM, por conduta mais do que antidesportiva, e na delegacia. No Acre, o mesmo utensílio foi usado, mas para banho (indesejado) de um atleta enquanto concedia entrevista. No jogo Galvez x Rio Branco, sobrou água fria dentro de campo, um ato hostil entre colegas de profissão em tempos de racionamento.
Outros dois estaduais também tiveram luz própria. No Espírito Santo, mais precisamente, a falta. Um apagão no jogo disputado no Engenheiro Araripe gerou dúvidas. Seria o divino o responsável pela queda abrupta de energia? Mais abaixo no mapa, em Santa Catarina, clubes brilharam em perdas de pontos por irregularidades de atletas, colocando asteriscos na tabela e mostrando, mais uma vez, que o “Caso Héverton” nunca foi, e nunca será, episódio isolado.
Histórias, contos, tramas e punições nos tribunais dos nossos 27 estaduais, mas o GloboEsporte.com acabaria suspendendo esta coluna por excesso de caractere se todos fossem destacados!
O fato é que a Babel dos tribunais desportivos mostrou que os estaduais estão longe de serem monótonos e rotineiros. Os TJDs, cada um com seu sotaque e independência funcional, tiveram trabalho árduo e agora lançam, em conjunto, a bola para o STJD, responsável pelas Séries A, B, C e D. A confusão de linguagem deve ficar na bíblia e no cinema, não na nossa justiça desportiva, na qual torcedores, jogadores e clubes devem sempre tentar se comunicar no mesmo idioma.
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