Cristian Rodríguez dará certo como Dener ou errado como Luisão? Uruguaio segue sem poder atuar
Cada dia a mais também é um dia a menos. Assim é a vida de Cristian Rodríguez no Grêmio. Contratado debaixo de muita euforia da torcida, o titular da seleção uruguaia na última Copa do Mundo corre contra o tempo. Convocações a Celeste, punição da federação italiana e até uma lesão muscular teimam em abreviar uma trajetória que já iniciou curta, com um vínculo de quatro meses. A partida decisiva contra o Novo Hamburgo, nesta quinta-feira, será mais uma chance perdida por Cebolla, que segue fora, em tratamento. O gringo tem na história do clube bons e maus exemplos de quem também chegou a Porto Alegre com prazo de validade. Dener e Luizão que o digam.
Um dos objetivos de Rodríguez ao acertar com o Grêmio era ter sequência de jogo para assegurar sua convocação para a Copa América. Fora dos planos do Atlético de Madrid e emprestado ao Parma, em situação falimentar, Cebolla precisava de novos ares.
Poderia, no máximo, ter um vínculo até 30 de junho com os gaúchos, data do fim do contrato com o time italiano. Foi em contexto semelhante que o Tricolor acolhera, em 2002, o centroavante Luizão. O desfecho, todavia, deve ser bem diferente do que hoje almeja o uruguaio - com mais uma partida perdida, pode jogar no máximo sete jogos, sem contar possível a terceira fase da Copa do Brasil, ainda não alcançada.
Ídolo do Corinthians, Luizão rescindiu contrato com o Timão após briga e precisava estar ativo para seguir na lista de convocados de Felipão para a Copa daquele ano. O Grêmio tinha o preparador físico da Seleção na ocasião, Paulo Paixão. Em março, o artilheiro desembarcou na capital gaúcha sob grande festa da torcida. Sua passagem, todavia, foi discreta. Atuou em seis partidas no time de Tite, com apenas um gol marcado, no 4 a 0 sobre o River Plate, pelas oitavas da Libertadores.
O pior estava por vir. Luizão conseguiu ir ao Mundial. No retorno, com a medalha do pentacampeonato no peito, não cumpriu seu contrato, que iria até 31 de julho - ou até uma eventual final da Libertadores. Em entrevista coletiva dias depois, em São Paulo, anunciou que deixaria o clube com receito de que uma lesão no último mês de seu vínculo pudesse atrapalhar uma transferência para o exterior, deixando de participar da semifinal do torneio continental.
- Vai que eu me machuco num jogo desses. Quem vai pagar pelo tempo em que eu ficar parado? Eles me contrataram a um preço barato na época. Eles me usaram e eu usei o Grêmio - afirmou Luizão.
Estou sendo honesto e profissional . Ajudei o time do Grêmio a chegar onde chegou na Libertadores. E o clube lucrou com um pentacampeão no seu grupo de jogadores.
A tentativa foi válida, na opinião do então presidente José Alberto Guerreiro. Esteve, claro, longe dos resultados esperados pelo mandatário. Mas o tiro no escuro não causa arrependimentos a Guerreiro, que sustenta que só poderia ter um resultado, insatisfatório ou não, se arriscasse com o atacante. Além disso, como o Tricolor era forçado a assinar com Cristian até o final de junho, pelo vínculo com o Parma, o contexto é diferente da contratação do atacante.
- Não teve o desempenho que nós esperávamos, mas foi um contrato de risco com um grande jogador. Naquele momento não deu resultado. Se não tentares, perde a oportunidade de saber se deu certo ou não. É um jogador que não há dúvida em relação ao futebol dele, ao aproveitamento dele. Foi uma aposta válida. Se vai dar os resultados, só depois de ver acontecer. É uma chance excelente - destacou Guerreiro ao GloboEsporte.com.
A história do Grêmio, no entanto, aponta para outro exemplo, muito mais animador. A contratação de Dener em 1993 soa um tanto quanto surreal nos dias de hoje. Afinal, como conseguir por empréstimo um meia que já havia encantado o país pela Portuguesa e, inclusive, vestido a camisa da seleção brasileira em amistoso contra a Argentina? O presidente Fábio Koff conseguiu. A negociação foi longa, houve desistência e até o rival Inter se interessou.
A passagem do prodígio durou pouco, mas foi eterna até terminar. Foram 15 jogos oficiais, entre Gauchão e Copa do Brasil, além de amistosos em excursão no exterior - vestiu a camiseta tricolor de 20 de maio a 25 de agosto de 1993, para depois retornar a Portuguesa. Nesse intervalo, ajudou a levar o Grêmio de Sérgio Cosme à decisão do torneio nacional, que só não virou título por um frango do goleiro tricolor, diante do Cruzeiro, no Mineirão. A taça surgiu no estadual, com direito a quatro gols na campanha vitoriosa - fora as canetas e arrancadas que assombraram o Interior.
- Levei muitos socos e pontapés, mas acho que aprendi a jogar no Rio Grande. Estou plenamente adaptado ao frio, ao vento e ao barro dos campos do Sul - disse Dener, sempre humilde, em entrevista à revista Placar, naquele ano.
Foi a única conquista de Dener como profissional, que tinha uma Copa São Paulo de Futebol Júnior ao arrasar a defesa do Grêmio, em final de 1991. Em 1994, seria emprestado ao Vasco. No mesmo ano, morreria em acidente de carro no Rio de Janeiro. Não sem antes deixar sua marca e, sobretudo, muita saudade no clube gaúcho.
O então vice-presidente de futebol, Luís Carlos Silveira Martins, o Cacalo, nem acreditava que poderia fechar a contratação do projeto de craque enquanto tratava com os dirigentes da Portuguesa. Sob forte chuva, foi a um telefone público em Torres, balneário no litoral norte, na divisa com Santa Catarina, para acertar os detalhes da chegada do atleta, a quem compara a Ronaldinho Gaúcho e Renato.
- Era melhor tê-lo por quatro meses do que não tê-lo. Fui à final da Copa do Brasil por causa dele. E passamos por cima com um time médio, graças ao Dener - comentou Cacalo ao GloboEsporte.com.
Os elogios a Cebolla são rasgados. Embora o ex-dirigente não considere que o uruguaio tenha a mesma qualidade técnica que o falecido atacante. A capacidade coletiva do charrua, porém, faz a contratação, mesmo que fique apenas por três meses, valer a pena.
- Acho o Cristian um grande jogador, que organiza time, faz um bom trabalho coletivo. Vai ser muito bom no Grêmio. Mas não pode comparar com a capacidade técnica do Dener. Acho que vai ser muito importante, mas comparo o Dener a alguns craques, como Ronaldinho Gaúcho, Valdo, Renato, jogadores que sozinhos decidiam. É muito bom coletivamente, muito bom jogador, características de luta e raça. Acho excelente jogador, mas não é a mesma turma. Mas vale a pena, ele acrescenta sob muitos aspectos, pela qualidade, lutador que é, pela experiência - completou o ex-vice de futebol e presidente gremista.
Ou seja, é possível ser odiado e ser amado em poucos meses de clube. As passagens de Luizão e Dener estão aí para provar. Resta saber o que será feito em campo. Fora dele, uma negociação para Rodríguez permanecer em Porto Alegre ainda é difícil e tratada como distante. O Tricolor tem a preferência dentro do Brasil para acertar com o uruguaio, que foi procurado por outras equipes brasileiras antes de fechar a ida para Porto Alegre. O jogador não está nos planos do Atlético de Madrid - algo óbvio, senão não teria sido emprestado para o Parma. Mas recebeu sondagens de clubes de fora do Brasil antes de acertar com o Grêmio. Por isso, a cautela de todas as partes sobre a possível permanência.
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Um dos objetivos de Rodríguez ao acertar com o Grêmio era ter sequência de jogo para assegurar sua convocação para a Copa América. Fora dos planos do Atlético de Madrid e emprestado ao Parma, em situação falimentar, Cebolla precisava de novos ares.
Poderia, no máximo, ter um vínculo até 30 de junho com os gaúchos, data do fim do contrato com o time italiano. Foi em contexto semelhante que o Tricolor acolhera, em 2002, o centroavante Luizão. O desfecho, todavia, deve ser bem diferente do que hoje almeja o uruguaio - com mais uma partida perdida, pode jogar no máximo sete jogos, sem contar possível a terceira fase da Copa do Brasil, ainda não alcançada.
Ídolo do Corinthians, Luizão rescindiu contrato com o Timão após briga e precisava estar ativo para seguir na lista de convocados de Felipão para a Copa daquele ano. O Grêmio tinha o preparador físico da Seleção na ocasião, Paulo Paixão. Em março, o artilheiro desembarcou na capital gaúcha sob grande festa da torcida. Sua passagem, todavia, foi discreta. Atuou em seis partidas no time de Tite, com apenas um gol marcado, no 4 a 0 sobre o River Plate, pelas oitavas da Libertadores.
O pior estava por vir. Luizão conseguiu ir ao Mundial. No retorno, com a medalha do pentacampeonato no peito, não cumpriu seu contrato, que iria até 31 de julho - ou até uma eventual final da Libertadores. Em entrevista coletiva dias depois, em São Paulo, anunciou que deixaria o clube com receito de que uma lesão no último mês de seu vínculo pudesse atrapalhar uma transferência para o exterior, deixando de participar da semifinal do torneio continental.
- Vai que eu me machuco num jogo desses. Quem vai pagar pelo tempo em que eu ficar parado? Eles me contrataram a um preço barato na época. Eles me usaram e eu usei o Grêmio - afirmou Luizão.
Estou sendo honesto e profissional . Ajudei o time do Grêmio a chegar onde chegou na Libertadores. E o clube lucrou com um pentacampeão no seu grupo de jogadores.
A tentativa foi válida, na opinião do então presidente José Alberto Guerreiro. Esteve, claro, longe dos resultados esperados pelo mandatário. Mas o tiro no escuro não causa arrependimentos a Guerreiro, que sustenta que só poderia ter um resultado, insatisfatório ou não, se arriscasse com o atacante. Além disso, como o Tricolor era forçado a assinar com Cristian até o final de junho, pelo vínculo com o Parma, o contexto é diferente da contratação do atacante.
- Não teve o desempenho que nós esperávamos, mas foi um contrato de risco com um grande jogador. Naquele momento não deu resultado. Se não tentares, perde a oportunidade de saber se deu certo ou não. É um jogador que não há dúvida em relação ao futebol dele, ao aproveitamento dele. Foi uma aposta válida. Se vai dar os resultados, só depois de ver acontecer. É uma chance excelente - destacou Guerreiro ao GloboEsporte.com.
A história do Grêmio, no entanto, aponta para outro exemplo, muito mais animador. A contratação de Dener em 1993 soa um tanto quanto surreal nos dias de hoje. Afinal, como conseguir por empréstimo um meia que já havia encantado o país pela Portuguesa e, inclusive, vestido a camisa da seleção brasileira em amistoso contra a Argentina? O presidente Fábio Koff conseguiu. A negociação foi longa, houve desistência e até o rival Inter se interessou.
A passagem do prodígio durou pouco, mas foi eterna até terminar. Foram 15 jogos oficiais, entre Gauchão e Copa do Brasil, além de amistosos em excursão no exterior - vestiu a camiseta tricolor de 20 de maio a 25 de agosto de 1993, para depois retornar a Portuguesa. Nesse intervalo, ajudou a levar o Grêmio de Sérgio Cosme à decisão do torneio nacional, que só não virou título por um frango do goleiro tricolor, diante do Cruzeiro, no Mineirão. A taça surgiu no estadual, com direito a quatro gols na campanha vitoriosa - fora as canetas e arrancadas que assombraram o Interior.
- Levei muitos socos e pontapés, mas acho que aprendi a jogar no Rio Grande. Estou plenamente adaptado ao frio, ao vento e ao barro dos campos do Sul - disse Dener, sempre humilde, em entrevista à revista Placar, naquele ano.
Foi a única conquista de Dener como profissional, que tinha uma Copa São Paulo de Futebol Júnior ao arrasar a defesa do Grêmio, em final de 1991. Em 1994, seria emprestado ao Vasco. No mesmo ano, morreria em acidente de carro no Rio de Janeiro. Não sem antes deixar sua marca e, sobretudo, muita saudade no clube gaúcho.
O então vice-presidente de futebol, Luís Carlos Silveira Martins, o Cacalo, nem acreditava que poderia fechar a contratação do projeto de craque enquanto tratava com os dirigentes da Portuguesa. Sob forte chuva, foi a um telefone público em Torres, balneário no litoral norte, na divisa com Santa Catarina, para acertar os detalhes da chegada do atleta, a quem compara a Ronaldinho Gaúcho e Renato.
- Era melhor tê-lo por quatro meses do que não tê-lo. Fui à final da Copa do Brasil por causa dele. E passamos por cima com um time médio, graças ao Dener - comentou Cacalo ao GloboEsporte.com.
Os elogios a Cebolla são rasgados. Embora o ex-dirigente não considere que o uruguaio tenha a mesma qualidade técnica que o falecido atacante. A capacidade coletiva do charrua, porém, faz a contratação, mesmo que fique apenas por três meses, valer a pena.
- Acho o Cristian um grande jogador, que organiza time, faz um bom trabalho coletivo. Vai ser muito bom no Grêmio. Mas não pode comparar com a capacidade técnica do Dener. Acho que vai ser muito importante, mas comparo o Dener a alguns craques, como Ronaldinho Gaúcho, Valdo, Renato, jogadores que sozinhos decidiam. É muito bom coletivamente, muito bom jogador, características de luta e raça. Acho excelente jogador, mas não é a mesma turma. Mas vale a pena, ele acrescenta sob muitos aspectos, pela qualidade, lutador que é, pela experiência - completou o ex-vice de futebol e presidente gremista.
Ou seja, é possível ser odiado e ser amado em poucos meses de clube. As passagens de Luizão e Dener estão aí para provar. Resta saber o que será feito em campo. Fora dele, uma negociação para Rodríguez permanecer em Porto Alegre ainda é difícil e tratada como distante. O Tricolor tem a preferência dentro do Brasil para acertar com o uruguaio, que foi procurado por outras equipes brasileiras antes de fechar a ida para Porto Alegre. O jogador não está nos planos do Atlético de Madrid - algo óbvio, senão não teria sido emprestado para o Parma. Mas recebeu sondagens de clubes de fora do Brasil antes de acertar com o Grêmio. Por isso, a cautela de todas as partes sobre a possível permanência.
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