Abel e Felipão: estilos diferentes em campo na Arena neste domingo (Foto: Infoesporte)
Se o Gre-Nal é o encontro de duas das correntes mais opostas do Rio Grande do Sul, o clássico do próximo domingo alarga ainda mais essas diferenças. Mais do que os tradicionais contrastes entre os clubes, entrarão no gramado da Arena a partir das 17h um duelo de escolas de futebol. De um lado, o batalhão de volantes de Felipão. Do outro, a legião de meias de Abel.
A biografia dos dois consagrados treinadores sempre apontou para essa dicotomia. Desta vez, no entanto, ela se mostra ainda mais acentuada pela disposição tática em campo. Scolari não abre mão de ao menos três volantes - já chegou a usar quatro atuando em casa em determinado momento da partida. Abel é o contrário: quanto mais meias, melhor. Testou algumas vezes até dois centroavantes juntos.
> O GloboEsporte.com apresenta números e opiniões sobre esse duelo à parte:
FELIPÃO E SEUS CINCO VOLANTES
Felipão chegou a iniciar sua trajetória no Grêmio em 2014 com uma formação mais tradicional, de dois volantes e dois meias - e justamente num Gre-Nal, em 10 de outubro, vencido pelo Inter, no Beira-Rio. Logo no segundo jogo, optou por três volantes e venceu o Criciúma.
No total, em 19 partidas no Brasileirão, usou dois volantes em apenas sete, como no último jogo, na vitória de 1 a 0 sobre o Vitória. O aproveitamento é semelhante ao do esquema mais resguardado. No entanto, já sinalizou que deve alterar a equipe para o clássico de domingo. Até porque, com três volantes, quase não perde: saiu derrotado apenas duas vezes, diante de São Paulo e Cruzeiro, num total de 13 confrontos. Um número alentador antes de um duelo que ninguém quer sair derrotado antes de qualquer situação.
Questionado sobre seu estilo, Felipão, que testou ao todo cinco volantes, é taxativo. Afirma que apenas trata de acomodar as melhores peças disponíveis, no que considera a "cara do Grêmio". Exemplo maior se deu na vitória por 1 a 0 sobre o Figueirense há duas semanas, em que o time, mesmo na Arena, terminou a partida com quatro marcadores no meio. Não à toa é a melhor defesa, com apenas 18 gols sofridos. No entanto, o ataque mingua: 27 gols, somente superior aos dois últimos colocados do Nacional.
- Não me preocupa nada em jogar bonito. Se não der, não deu. O 1 a 0 pode decidir, o 1 a 1 pode ser que não decida. Se nós conseguirmos, além dos três pontos, jogarmos bonitos, com qualidade, eu também ficaria feliz. Mas eu fico contente com os três pontos. É muito fácil falar. Caldo de galinha é bom de vez em quando - avaliou, em recente entrevista.
ABEL E SEUS SEIS MEIAS
Com Abel, a história é outra. Opta por colocar meias e mandar o time à frente. Já testou seis jogadores da função durante o Brasileirão. Normalmente, coloca dois volantes, sendo que um deles tem vocação ofensiva - Aránguiz -, três meias e um atacante. O resultado é o quarto melhor ataque, com 43 gols marcados. Há efeitos colaterais: antes de estancar a sangria contra o Bahia (2 a 0), o Inter havia levado 14 gols em seis partidas. No início do ano, chegou-se a questionar uma possível sobrecarga em Willians como único marcador nato no setor.
Em apenas cinco oportunidades, Abel utilizou três volantes no Brasileirão. Curiosamente, os resultados até satisfizeram. Venceu três partidas, entre eles o Gre-Nal do primeiro turno, e saiu derrotado em duas ocasiões. No entanto, as atuações ficaram aquém, como diante do Goiás, quando a vitória saiu em gol contra. Um dos fracassos com três volantes ocorreu justamente no momento em que o Colorado poderia ter colado no líder Cruzeiro e caiu no Mineirão.
Os meias colorados vão além da armação. Eles decidem as partidas. Tanto que, diante da ineficiência do ataque antes comandado por Rafael Moura ou Wellington Paulista e que agora Nilmar começa a suprir, chegam a marcar quase 40% dos gols do time no Brasileirão. D'Alessandro é o artilheiro vermelho no campeonato, com seis gols, seguido de outro meia, Alex, com cinco. Sem contar o protagonismo do volante Aránguiz, que atua com bastante liberdade. Com os dois gols diante do Santos, o chileno alcançou D'Ale na lista de goleadores do clube no Nacional.
- Tem muito pouco time que ataca no Brasil. O Inter é um deles. O Inter nunca deixou de jogar com meias ofensivos. Joga com um jogador que sai para o jogo, que é o Willians. Não vamos mudar nossa maneira. Não tem que ser mais, nem menos. Tem que manter o equilíbrio - afirmou Abel.
A VEZ DOS ESPECIALISTAS
Consultados pelo GloboEsporte.com, ex-treinadores da dupla Gre-Nal comentaram a diferença de posturas das equipes no Brasileirão. Rubens Minelli e Cláudio Duarte foram unânimes num ponto: Felipão e Abel nada mais fazem do que o natural, ou seja, adaptam a questão tática ao material humano que receberam para trabalhar.
Apesar de ter treinado o Grêmio em duas oportunidades, Minelli está cravado na história do Inter como o mentor do time bicampeão nacional em 1975 e 1976. Na ocasião, aliou uma postura extremamente ofensiva com pegada e forte marcação.
- Está mais ou menos uma cópia de que tudo é feito. Quando eu estava no Inter, jogávamos o futebol que hoje é o ideal. É uma cópia. Como dizia Chacrinha: nada se cria, tudo se copia. Não vejo exatamente um choque de escolas. São dois treinadores de filosofia idênticas, mas com algumas diferenças. Me parece que o Abel tem tendência mais ofensiva. Vê o jogo de maneira mais arrojada. Felipão é mais comedido e prefere uma equipe equilibrada - analisa.
Aspas Rubens Minelli Cláudio Duarte (Foto: Editoria de Arte)
Lateral-direito desses times vencedores de Minelli, Cláudio Duarte se tornaria técnico anos depois, com várias passagens pelos gigantes do estado. Pelo Grêmio, tornou-se campeão da primeira Copa do Brasil, de 1989. E aprendeu a valorizar esse estilo mais marcador que costuma caracterizar os times do Tricolor. Embora, na sua visão, o Inter de Abel não seja completamente ofensivo.
- A formatação tática das duas equipes têm origem na qualificação individual dos treinadores. No Grêmio, não tem meia qualificado para fazer essa função. É jogar por uma bola, ser marcador, que é como a história do time sempre apontou. O time do Inter hoje joga ofensivamente? Não. Ele joga com muita gente que vai chegar na frente depois. Primeiro, recua, ocupa espaço, jogando no erro.
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Se o Gre-Nal é o encontro de duas das correntes mais opostas do Rio Grande do Sul, o clássico do próximo domingo alarga ainda mais essas diferenças. Mais do que os tradicionais contrastes entre os clubes, entrarão no gramado da Arena a partir das 17h um duelo de escolas de futebol. De um lado, o batalhão de volantes de Felipão. Do outro, a legião de meias de Abel.
A biografia dos dois consagrados treinadores sempre apontou para essa dicotomia. Desta vez, no entanto, ela se mostra ainda mais acentuada pela disposição tática em campo. Scolari não abre mão de ao menos três volantes - já chegou a usar quatro atuando em casa em determinado momento da partida. Abel é o contrário: quanto mais meias, melhor. Testou algumas vezes até dois centroavantes juntos.
> O GloboEsporte.com apresenta números e opiniões sobre esse duelo à parte:
FELIPÃO E SEUS CINCO VOLANTES
Felipão chegou a iniciar sua trajetória no Grêmio em 2014 com uma formação mais tradicional, de dois volantes e dois meias - e justamente num Gre-Nal, em 10 de outubro, vencido pelo Inter, no Beira-Rio. Logo no segundo jogo, optou por três volantes e venceu o Criciúma.
No total, em 19 partidas no Brasileirão, usou dois volantes em apenas sete, como no último jogo, na vitória de 1 a 0 sobre o Vitória. O aproveitamento é semelhante ao do esquema mais resguardado. No entanto, já sinalizou que deve alterar a equipe para o clássico de domingo. Até porque, com três volantes, quase não perde: saiu derrotado apenas duas vezes, diante de São Paulo e Cruzeiro, num total de 13 confrontos. Um número alentador antes de um duelo que ninguém quer sair derrotado antes de qualquer situação.
Questionado sobre seu estilo, Felipão, que testou ao todo cinco volantes, é taxativo. Afirma que apenas trata de acomodar as melhores peças disponíveis, no que considera a "cara do Grêmio". Exemplo maior se deu na vitória por 1 a 0 sobre o Figueirense há duas semanas, em que o time, mesmo na Arena, terminou a partida com quatro marcadores no meio. Não à toa é a melhor defesa, com apenas 18 gols sofridos. No entanto, o ataque mingua: 27 gols, somente superior aos dois últimos colocados do Nacional.
- Não me preocupa nada em jogar bonito. Se não der, não deu. O 1 a 0 pode decidir, o 1 a 1 pode ser que não decida. Se nós conseguirmos, além dos três pontos, jogarmos bonitos, com qualidade, eu também ficaria feliz. Mas eu fico contente com os três pontos. É muito fácil falar. Caldo de galinha é bom de vez em quando - avaliou, em recente entrevista.
ABEL E SEUS SEIS MEIAS
Com Abel, a história é outra. Opta por colocar meias e mandar o time à frente. Já testou seis jogadores da função durante o Brasileirão. Normalmente, coloca dois volantes, sendo que um deles tem vocação ofensiva - Aránguiz -, três meias e um atacante. O resultado é o quarto melhor ataque, com 43 gols marcados. Há efeitos colaterais: antes de estancar a sangria contra o Bahia (2 a 0), o Inter havia levado 14 gols em seis partidas. No início do ano, chegou-se a questionar uma possível sobrecarga em Willians como único marcador nato no setor.
Em apenas cinco oportunidades, Abel utilizou três volantes no Brasileirão. Curiosamente, os resultados até satisfizeram. Venceu três partidas, entre eles o Gre-Nal do primeiro turno, e saiu derrotado em duas ocasiões. No entanto, as atuações ficaram aquém, como diante do Goiás, quando a vitória saiu em gol contra. Um dos fracassos com três volantes ocorreu justamente no momento em que o Colorado poderia ter colado no líder Cruzeiro e caiu no Mineirão.
Os meias colorados vão além da armação. Eles decidem as partidas. Tanto que, diante da ineficiência do ataque antes comandado por Rafael Moura ou Wellington Paulista e que agora Nilmar começa a suprir, chegam a marcar quase 40% dos gols do time no Brasileirão. D'Alessandro é o artilheiro vermelho no campeonato, com seis gols, seguido de outro meia, Alex, com cinco. Sem contar o protagonismo do volante Aránguiz, que atua com bastante liberdade. Com os dois gols diante do Santos, o chileno alcançou D'Ale na lista de goleadores do clube no Nacional.
- Tem muito pouco time que ataca no Brasil. O Inter é um deles. O Inter nunca deixou de jogar com meias ofensivos. Joga com um jogador que sai para o jogo, que é o Willians. Não vamos mudar nossa maneira. Não tem que ser mais, nem menos. Tem que manter o equilíbrio - afirmou Abel.
A VEZ DOS ESPECIALISTAS
Consultados pelo GloboEsporte.com, ex-treinadores da dupla Gre-Nal comentaram a diferença de posturas das equipes no Brasileirão. Rubens Minelli e Cláudio Duarte foram unânimes num ponto: Felipão e Abel nada mais fazem do que o natural, ou seja, adaptam a questão tática ao material humano que receberam para trabalhar.
Apesar de ter treinado o Grêmio em duas oportunidades, Minelli está cravado na história do Inter como o mentor do time bicampeão nacional em 1975 e 1976. Na ocasião, aliou uma postura extremamente ofensiva com pegada e forte marcação.
- Está mais ou menos uma cópia de que tudo é feito. Quando eu estava no Inter, jogávamos o futebol que hoje é o ideal. É uma cópia. Como dizia Chacrinha: nada se cria, tudo se copia. Não vejo exatamente um choque de escolas. São dois treinadores de filosofia idênticas, mas com algumas diferenças. Me parece que o Abel tem tendência mais ofensiva. Vê o jogo de maneira mais arrojada. Felipão é mais comedido e prefere uma equipe equilibrada - analisa.
Aspas Rubens Minelli Cláudio Duarte (Foto: Editoria de Arte)
Lateral-direito desses times vencedores de Minelli, Cláudio Duarte se tornaria técnico anos depois, com várias passagens pelos gigantes do estado. Pelo Grêmio, tornou-se campeão da primeira Copa do Brasil, de 1989. E aprendeu a valorizar esse estilo mais marcador que costuma caracterizar os times do Tricolor. Embora, na sua visão, o Inter de Abel não seja completamente ofensivo.
- A formatação tática das duas equipes têm origem na qualificação individual dos treinadores. No Grêmio, não tem meia qualificado para fazer essa função. É jogar por uma bola, ser marcador, que é como a história do time sempre apontou. O time do Inter hoje joga ofensivamente? Não. Ele joga com muita gente que vai chegar na frente depois. Primeiro, recua, ocupa espaço, jogando no erro.
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