Desbravando a América Latina e fazendo história com a Geral do Grêmio

Eu sou um sonhador. Sonho com um mundo mais igualitário e justo. Sonho com um mundo sem preconceitos. Sonho quando me desconecto do mundo e viajo nas palavras de um livro ou nos frames de um filme. Sonho com a mulher que permeia meus sonhos. E sonho em viajar pelo mundo, conhecer novas culturas e aprender ainda mais sobre o ser humano. Recém-completados 30 anos, sinto que muito vivi, mas pouco realizei. Prefiro ser um derrotado a festejar ao lado dos vencedores neste mundo cruel, violento e sem escrúpulos, onde poucos exploradores mandam em bilhões de explorados e estes acham uma maravilha. Seguirei lutando. E sonhando.


Outra fonte inesgotável de sonhos para este que vos escreve chama-se Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense. O Grêmio é parte essencial da minha vida e a Libertadores é parte essencial na vida de todos os gremistas. Já conquistamos a Copa em duas oportunidades - 1983 e 1995. Já somos um dos clubes mais copeiros do continente. Mas a América sente a falta do Imortal. O sonho do tricampeonato está cada dia mais real. Vamos voltar um pouco no tempo e reviver a aventura. Semifinal da competição. O adversário é o Barcelona. O primeiro jogo é no Equador. Tudo pela Copa Libertadores.

A missão: Desbravar a América Latina atrás do Grêmio
Destino: Guaiaquil, no Equador
Transporte: Ônibus com a Geral do Grêmio
Na bagagem: O sonho de conhecer novas culturas e copar a Libertadores
Distância: 11.786 Km entre ida e volta
Previsão: 11 dias para ir e voltar

Ernesto Guevara de la Serna teve como companheiro Alberto Granado quando viajou pelo continente nos anos 50, para conhecer a essência e os anseios do povo latino. Os meus companheiros de jornada foram os enlouquecidos e apaixonados pelo Imortal da Geral do Grêmio, torcida da qual eu tenho orgulho em fazer parte. Desbravar a América Latina como Che, um dos personagens mais marcantes da história. Era um sonho que eu tinha desde a infância. Ganhar o tri da Libertadores com o Grêmio. É um sonho que eu tenho desde a infância. Nesta viagem histórica, juntei os dois.

Na sexta-feira, dia 20 de outubro, da frente do Bar do Ito, nas cercanias da Arena, começou a jornada de 40 sócios e doentes pelo Grêmio. O ônibus partia para o Equador e na mente destes sonhadores estava a Libertadores da América. Rio Grande do Sul, Argentina, Chile, Peru e finalmente o Equador. Equador, Peru, Chile, Argentina e finalmente o Rio Grande do Sul. Este o nosso destino. 11 dias, mais de 11 mil Km e a Copa no nosso imaginário e coração.

América Latina

Quando partimos, o jogo era algo distante. Então tratei de aproveitar ao máximo a viagem pela nossa linda e poderosa América Latina. Além de seguir o Grêmio, o motivo máximo desta jornada, tive uma aula de cultura e humanidade conforme íamos percorrendo as entranhas do continente. A cada cidade e vilarejo em que paramos, explorei como pude as localidades, falei com os moradores e pude aprender bastante com o modo com que levam a vida e pensam o mundo.

O nosso roteiro nos levou, essencialmente, pelo interior dos países e nele conhecemos um povo que sofre com a desigualdade social. Um povo que é esquecido pelo resto do mundo e pelo Brasil, que, de forma errada e arrogante, ainda não entendeu a importância de termos a união da América Latina. Pude conversar sobre Che com centenas de pessoas e, embora algumas demonstrassem restrições a ele, a maioria esmagadora o admira por justamente ter tentado unir o continente para que sobrevivêssemos sem depender do imperialismo. Temos potencial para isso. Vivermos fortes como uma América Latina unida e que distribua sua renda e terras de forma justa. Infelizmente parece um sonho cada vez mais distante.

Embora tenha ficado triste com o contraste econômico que encontrei, passei a admirar ainda mais o povo latino. Humilde, trabalhador, carismático e que, ao saber que éramos brasileiros, nos tratou como se fôssemos reis. A realidade que encontramos no Rio Grande do Sul, por exemplo, e isso que estamos vivendo tempos de crise, é luxuosa perto do que vimos no interior da Argentina e do Peru. Isso me fez ter raiva desta lógica perversa que rege o mundo, mas também de ter ainda mais orgulho de pertencer a este continente cheio de mazelas, mas também cheio de cultura e sonhos.

América Latina!

Voltei um ser humano melhor desta viagem. Espero continuar assim. E com vontade de repetir a dose, com mais calma e tempo para estudar e aproveitar o caminho, ficando mais tempo nas cidades e acrescentando outros países no roteiro. Com condições muito piores que as nossas, vivendo muitas vezes no meio do deserto, no meio do nada, este povo não foge nunca da batalha, reclama pouco, trabalha muito e é feliz com as coisas simples da vida. Estamos tão inseridos em redes sociais e planos mirabolantes que nos esquecemos de curtir a vida real que está ao nosso alcance.

Em uma das maiores provas de amor que fiz pelo Grêmio, voltei ainda mais apaixonado pela América Latina. O sonho de um continente mais unido e próspero nunca sairá de meu coração. Assim como os sonhos que tive e ainda terei com o Grêmio. Argentina, Chile, Peru e Equador. Foi a jornada de uma vida percorrer estes países e conhecer um pouco dos seus povos e cultura. O 3 a 0 foi o ponto alto deste roteiro e desta jornada que certamente estará entre os principais momentos do filme que estou escrevendo na minha vida. No dia 25 de outubro, dia da partida no Equador, completei 30 anos. Com mais fracassos que sucessos, mas com belos momentos vividos e muitos sonhos ainda a percorrer neste destino perigoso que aguarda os poetas, lúdicos e loucos neste mundo.

Valeu a pena!

Geral do Grêmio faz história na América Latina

América Latina!

A Geral do Grêmio fez história ao desbravar a América Latina para apoiar o clube do coração na semifinal da Copa Libertadores diante do Barcelona no Equador. De ônibus, esses enlouquecidos pelo Tricolor percorreram 11.786 Km entre ida e volta, em uma jornada que durou 11 dias. Certamente uma das maiores viagens de torcida feitas via terrestre do futebol mundial.

É preciso deixar bem claro que a torcida não contou com nenhum apoio financeiro da direção do clube, fazendo esta epopeia com a força própria e com o esforço dos seus torcedores que, literalmente, deixam a vida de lado para alentar o Grêmio onde o Grêmio estiver.

Ao atravessar a Argentina, Chile, Peru e finalmente chegar ao Equador, a Geral do Grêmio percorreu as entranhas da nossa América Latina para seguir o Imortal em busca do sonho de conquistar a Libertadores pela terceira vez. Dificuldades como alimentação escassa, estradas perigosas, falta de recurso financeiro, burocracia e atrasos nas fronteiras, entre outros, foram superadas pela parceria entre os 40 doentes pelo Tricolor nesta viagem histórica.

Todo mundo se ajudando, seguindo o lema do Trago, Alento e Amizade, consagrado pela Geral do Grêmio desde a sua fundação. E a vitória de 3 a 0 fechou com chave de ouro este roteiro inesquecível protagonizado pela torcida. O resultado que garantiu a equipe de Renato Portaluppi na final da Libertadores. A Argentina ficou mais perto depois desta peregrinação pelo continente. Estaremos ainda mais fortes na final.

A Geral do Grêmio se coloca entre as mais pesadas torcidas do continente e a festa fortalece a marca do clube. A avalanche fazia parte das chamadas dos programas esportivos. Será que um dia volta? Recebimentos históricos, festas inesquecíveis, tudo isso agrega valor ao Grêmio, comprovadamente trazendo associados à instituição, ajudando a fanatizar os futuros torcedores, além de ajudar o time a conquistar as vitórias. Esta viagem histórica repercutiu em diversos veículos de comunicação do continente. A direção do Grêmio tem a obrigação de olhar com mais carinho para a Geral do Grêmio e ser parceira desta torcida que revoluciona e faz história a cada dia que passa.

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