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Alvejado por balas de borracha disparadas pela Brigada Militar antes de um jogo entre Grêmio e Santos, em frente à Arena, em agosto de 2013, o torcedor Evandro Kunrath, 44 anos, que perdeu a visão do olho direito, obteve vitória na ação que moveu contra o Estado na Justiça.
Na semana passada, o gremista recebeu a notícia de que o desembargador Tasso Caubi Soares Delabary, da 9ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do RS, deferiu indenização de R$ 150 mil por danos morais e estéticos. A decisão não cabe mais recurso, já que transitou em julgado. Agora, Kunrath iniciará outra batalha, mas na fila de precatórios do Estado, aguardando em
uma longa fila de credores.
A assessoria da Procuradoria Geral do RS não fez nenhum comentário sobre a decisão. Limitou-se, somente, a responder que o processo entrou na fase de cálculos junto à controladoria do Tribunal de Justiça e seguirá o trâmite de precatórios previsto para os credores do Estado.
Em entrevista a GaúchaZH, Evandro Kunrath falou sobre a decisão da Justiça, a espera até receber a indenização do Estado e as mudanças que o acidente ocasionou em sua vida. Veja abaixo.
Como você recebeu esta decisão? Foi feita a Justiça no teu caso?
Recebi com bastante alegria. Do ponto de vista de tudo que me aconteceu, foi feita a Justiça. Encerrou o processo, fiquei satisfeito com o acórdão que foi feito.
Há estimativa para o pagamento da indenização pelo Estado?
Agora entra para a fila dos precatórios, pelo o que sei não tem prazo. Como me tornei pessoa com deficiência, a lei me favorece.
Passo na frente de muita gente. Mas mesmo assim a espera será longa. Será uma aposentadoria.
De que forma sua vida mudou após aquele ocorrido na Arena?
Mudou bastante. Quando ocorreu o acidente, eu tinha saído de licença médica do meu trabalho por depressão. Com o acidente, isso potencializou. Fiquei quatro anos afastado do meu trabalho, tratando do meu olho e da cabeça também em função de tudo que aconteceu. Neste período, tive que ir no tribunal de justiça militar, os brigadianos foram processados. E também fui na esfera criminal, já que o ministério público moveu uma ação contra os soldados. Foi muito constrangedor ficar frente à frente com as pessoas que causaram uma sequela que fica para o resto da vida. Isso mexeu muito comigo, tive que intensificar meu tratamento. E, no meio deste ano, me julguei apto para voltar ao trabalho. Voltei faz quatro meses, com restrições médicas. Estou tentando readequar minha vida. Até o banco mudou, antes era o HSBC, que foi comprado pelo Bradesco. É um recomeçar, em todos os sentidos, para ver até onde consigo resistir.
O que tem a dizer da tese de recurso do Estado, de que você estaria na trajetória da bala?
Foi um argumento absurdo. É claro que o Estado tem de se defender, entendo. Mas não naquele sentido, como se eu tivesse provocado o acidente porque interceptei a trajetória da bala. Como se eu tivesse sido responsável porque na hora da confusão não me evadi do local. Felizmente, tanto o juiz de primeiro grau quanto o desembargador foram favoráveis à minha demanda.
O quanto ainda você tem de visão?
No olho direito não tenho nada, perdi toda a visão. É irreversível. No olho esquerdo, tenho entre 70% e 80% da visão. Não é plena, mas preciso usar óculos e tenho restrições. Não posso dirigir, por exemplo. Mas, como ficou sangue dentro do olho, que cristalizou perto da retina, pode se romper a qualquer momento e rasgar a retina. Hoje o risco é bem menor. Mas existe, o risco é para sempre.
Teve de colocar uma prótese no olho direito?
Não coloquei ainda. Meu oftalmologista acha que agora, quatro anos depois, acha que é o momento de colocar. Seria por motivo estético, a visão nunca mais voltará neste olho.
Como foi a agonia de ter de esperar quatro anos pelo trânsito em julgado da ação?
Em se tratando de Justiça, a gente já está acostumado. É o dia a dia de um processo. Chegou um momento em que eu não queria mais saber como estava o processo. Simplesmente não consultei mais. E, para minha surpresa, voltei a consultar na semana passada. Não tenho muito contato com meus advogados. Resolvi consultar no site do Tribunal de Justiça e já tinha saído o acórdão.
Apareceu como transitado em julgado, aí fiquei feliz. Acho que tem uns três meses isso, mas só soube agora.
A indenização deferida te pareceu justa?
O Juiz sentenciou em R$ 150 mil. Vai ter alguma correção agora, está na fase de cálculos. Diante de tudo o que aconteceu, acho que o valor poderia ser maior. Mas não está nas nossas mãos decidir. Pela perda da visão, acho um valor baixo.
Na volta ao trabalho você ainda teve limitações?
Dentro de algumas limitações funcionais que tenho, consigo trabalhar. Eu era gerente de pessoa jurídica e continuo neste cargo. Mas, quando voltei, o banco me colocou em um processo de reabilitação profissional. Sou gerente de pessoa jurídica, mas não estou atuando no cargo pelas restrições que tenho. Estou em um processo de reabilitação para voltar a exercer minha atividade.
Você recebeu algum auxílio do Grêmio?
Recebi no início, depois não mais. Foram me visitar em casa, fizeram algumas visitas. Até foi o doutor Odorico Roman que me visitou. Por seis meses, mantive contato com ele, me ligava perguntando como eu estava. Depois, não mais.
Já voltou à Arena depois do ocorrido?
Voltei. Fui, no máximo, em cinco jogos. Eu voltei em 2014, quando o Grêmio enfrentou o Atlético Nacional, da Colômbia, na fase de grupos da Libertadores. Pedi ao doutor Odorico para o meu filho entrar junto em campo com o time. Tiramos algumas fotos, foi bem bacana.
Você teve algum receio ao entrar no estádio?
Lembro que quando cheguei na Arena eu chorei bastante. Estava muito recente na minha cabeça como tudo aconteceu, fiquei emocionado por tudo o que aconteceu. A tristeza por ter perdido a visão. Com 40 anos na época, nunca tinha tido internação em hospital. E a primeira experiência foi altamente negativa.
Pretende ir ao jogo com o Barcelona nesta quarta-feira?
Não. Eu procuro evitar jogos grandes. Mas fui no Gre-Nal do 5 a 0 e na final da Copa do Brasil no ano passado. Mas, participando de jogos desta grandeza, fiquei com medo. Fui para experimentar como estava meu emocional. Mas hoje não tenho mais estrutura para participar deste tipo de jogo, é muito tumulto, a visão não ajuda muito. Ainda mais de noite. Por isso, prefiro ver em casa. Só em jogo menor, aí dá para ir.
Esta decisão pode evitar que algo assim ocorra novamente?
Espero que vire jurisprudência. Fui pesquisar casos de pessoas que perderam a visão por ação da polícia com bala de borracha e é raro. No Brasil, tem dois ou três. Teve um menino de São Paulo, que era repórter, estava cobrindo manifestações de 2013 e foi alvejado. Só que no caso dele, a decisão não foi favorável. Então espero que a minha vire jurisprudência, até no sentido pedagógico para que a polícia tenha outro comportamento. O que eles tiveram foi totalmente inaceitável. O desembargador fala isso no acórdão.
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uma longa fila de credores.
A assessoria da Procuradoria Geral do RS não fez nenhum comentário sobre a decisão. Limitou-se, somente, a responder que o processo entrou na fase de cálculos junto à controladoria do Tribunal de Justiça e seguirá o trâmite de precatórios previsto para os credores do Estado.
Em entrevista a GaúchaZH, Evandro Kunrath falou sobre a decisão da Justiça, a espera até receber a indenização do Estado e as mudanças que o acidente ocasionou em sua vida. Veja abaixo.
Como você recebeu esta decisão? Foi feita a Justiça no teu caso?
Recebi com bastante alegria. Do ponto de vista de tudo que me aconteceu, foi feita a Justiça. Encerrou o processo, fiquei satisfeito com o acórdão que foi feito.
Há estimativa para o pagamento da indenização pelo Estado?
Agora entra para a fila dos precatórios, pelo o que sei não tem prazo. Como me tornei pessoa com deficiência, a lei me favorece.
Passo na frente de muita gente. Mas mesmo assim a espera será longa. Será uma aposentadoria.
De que forma sua vida mudou após aquele ocorrido na Arena?
Mudou bastante. Quando ocorreu o acidente, eu tinha saído de licença médica do meu trabalho por depressão. Com o acidente, isso potencializou. Fiquei quatro anos afastado do meu trabalho, tratando do meu olho e da cabeça também em função de tudo que aconteceu. Neste período, tive que ir no tribunal de justiça militar, os brigadianos foram processados. E também fui na esfera criminal, já que o ministério público moveu uma ação contra os soldados. Foi muito constrangedor ficar frente à frente com as pessoas que causaram uma sequela que fica para o resto da vida. Isso mexeu muito comigo, tive que intensificar meu tratamento. E, no meio deste ano, me julguei apto para voltar ao trabalho. Voltei faz quatro meses, com restrições médicas. Estou tentando readequar minha vida. Até o banco mudou, antes era o HSBC, que foi comprado pelo Bradesco. É um recomeçar, em todos os sentidos, para ver até onde consigo resistir.
O que tem a dizer da tese de recurso do Estado, de que você estaria na trajetória da bala?
Foi um argumento absurdo. É claro que o Estado tem de se defender, entendo. Mas não naquele sentido, como se eu tivesse provocado o acidente porque interceptei a trajetória da bala. Como se eu tivesse sido responsável porque na hora da confusão não me evadi do local. Felizmente, tanto o juiz de primeiro grau quanto o desembargador foram favoráveis à minha demanda.
O quanto ainda você tem de visão?
No olho direito não tenho nada, perdi toda a visão. É irreversível. No olho esquerdo, tenho entre 70% e 80% da visão. Não é plena, mas preciso usar óculos e tenho restrições. Não posso dirigir, por exemplo. Mas, como ficou sangue dentro do olho, que cristalizou perto da retina, pode se romper a qualquer momento e rasgar a retina. Hoje o risco é bem menor. Mas existe, o risco é para sempre.
Teve de colocar uma prótese no olho direito?
Não coloquei ainda. Meu oftalmologista acha que agora, quatro anos depois, acha que é o momento de colocar. Seria por motivo estético, a visão nunca mais voltará neste olho.
Como foi a agonia de ter de esperar quatro anos pelo trânsito em julgado da ação?
Em se tratando de Justiça, a gente já está acostumado. É o dia a dia de um processo. Chegou um momento em que eu não queria mais saber como estava o processo. Simplesmente não consultei mais. E, para minha surpresa, voltei a consultar na semana passada. Não tenho muito contato com meus advogados. Resolvi consultar no site do Tribunal de Justiça e já tinha saído o acórdão.
Apareceu como transitado em julgado, aí fiquei feliz. Acho que tem uns três meses isso, mas só soube agora.
A indenização deferida te pareceu justa?
O Juiz sentenciou em R$ 150 mil. Vai ter alguma correção agora, está na fase de cálculos. Diante de tudo o que aconteceu, acho que o valor poderia ser maior. Mas não está nas nossas mãos decidir. Pela perda da visão, acho um valor baixo.
Na volta ao trabalho você ainda teve limitações?
Dentro de algumas limitações funcionais que tenho, consigo trabalhar. Eu era gerente de pessoa jurídica e continuo neste cargo. Mas, quando voltei, o banco me colocou em um processo de reabilitação profissional. Sou gerente de pessoa jurídica, mas não estou atuando no cargo pelas restrições que tenho. Estou em um processo de reabilitação para voltar a exercer minha atividade.
Você recebeu algum auxílio do Grêmio?
Recebi no início, depois não mais. Foram me visitar em casa, fizeram algumas visitas. Até foi o doutor Odorico Roman que me visitou. Por seis meses, mantive contato com ele, me ligava perguntando como eu estava. Depois, não mais.
Já voltou à Arena depois do ocorrido?
Voltei. Fui, no máximo, em cinco jogos. Eu voltei em 2014, quando o Grêmio enfrentou o Atlético Nacional, da Colômbia, na fase de grupos da Libertadores. Pedi ao doutor Odorico para o meu filho entrar junto em campo com o time. Tiramos algumas fotos, foi bem bacana.
Você teve algum receio ao entrar no estádio?
Lembro que quando cheguei na Arena eu chorei bastante. Estava muito recente na minha cabeça como tudo aconteceu, fiquei emocionado por tudo o que aconteceu. A tristeza por ter perdido a visão. Com 40 anos na época, nunca tinha tido internação em hospital. E a primeira experiência foi altamente negativa.
Pretende ir ao jogo com o Barcelona nesta quarta-feira?
Não. Eu procuro evitar jogos grandes. Mas fui no Gre-Nal do 5 a 0 e na final da Copa do Brasil no ano passado. Mas, participando de jogos desta grandeza, fiquei com medo. Fui para experimentar como estava meu emocional. Mas hoje não tenho mais estrutura para participar deste tipo de jogo, é muito tumulto, a visão não ajuda muito. Ainda mais de noite. Por isso, prefiro ver em casa. Só em jogo menor, aí dá para ir.
Esta decisão pode evitar que algo assim ocorra novamente?
Espero que vire jurisprudência. Fui pesquisar casos de pessoas que perderam a visão por ação da polícia com bala de borracha e é raro. No Brasil, tem dois ou três. Teve um menino de São Paulo, que era repórter, estava cobrindo manifestações de 2013 e foi alvejado. Só que no caso dele, a decisão não foi favorável. Então espero que a minha vire jurisprudência, até no sentido pedagógico para que a polícia tenha outro comportamento. O que eles tiveram foi totalmente inaceitável. O desembargador fala isso no acórdão.
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150 mil é pouco pelo prejuízo moral, psicológico e físico. Isso se receber.
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