Identificação de torcedores e colaboração com a polícia são trunfos do Grêmio (Foto: Roberto Vinicius/ELEVEN/AE)
Era para Felipão e seus jogadores estarem preocupados com a dura tarefa de reverter os dois gols aplicados pelos Santos na última quinta, na Arena. Mas o episódio de injúrias raciais contra o goleiro Aranha levou a decisão das oitavas de final da Copa do Brasil para o Supremo Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), a partir das 14h desta quarta-feira. É quando o Grêmio será julgado pelas ofensas de torcedores, com risco de ser excluído do torneio. Para evitar uma punição histórica, o Tricolor monta força-tarefa pesada, com tática definida, em busca de uma discussão sem "comoção" e farto material para tentar provar engajamento social da instituição. A partida da volta, antes marcada para esta noite, está suspensa.
Serão quatro advogados escalados para tentar desmontar a denúncia feita pela procuradoria, baseada no artigo 243-G (e seus parágrafos) do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), que fala em "atos discriminatórios". Thiago Brunetto, Jorge Petersen e Gabriel Vieira são do clube. Haverá ainda Michel Assef Filho, que presta serviços ao Flamengo, e tem bom trânsito nos tribunais cariocas. Ele espera uma sessão longa, de até quatro horas. Para completar, o presidente Fábio Koff, com experiência na magistratura, também estará presente - o Grêmio conta muito com seu prestígio como dirigente. O resultado não é definitivo. Caberá recurso da procuradoria ou do clube para julgamento em segunda instância no Pleno do STJD, em prazo estimado de 15 dias.
- Fui procurado pelo Grêmio. E, como eu acredito na causa, aceitei fazer a defesa. O que precisa ser analisado é a eficácia de uma sanção disciplinar como essa por parte do STJD. Até que ponto punir o clube é realmente eficaz? - indaga-se Assef Filho, em contato com o GloboEsporte.com.
O tom da defesa será exatamente este. Ou seja, os advogados tentarão a todo o momento esfriar a inevitável "comoção", segundo o clube, criada em torno das injúrias raciais, tanto na mídia quanto nas redes sociais. Para o Grêmio, as reverberações dos atos não podem entrar no mérito do julgamento.
- Se entrarem os componentes emocionais, questões que permeiam a sociedade... há a chance de o Grêmio ser condenado além da autoria do fato, o que não pode acontecer, em tese. Não foi o Grêmio que ofendeu. A comoção cria o ambiente, mas não pode fazer justiça. Estamos preocupados em demonstrar tudo tecnicamente - sublinha o vice-presidente Romildo Bolzan Júnior. - De qualquer forma, estamos preparados para um dia tenso.
Tanto Bolzan quanto Assef Filho insistem na postura "proativa" do Grêmio desde que eclodiu a polêmica, na quinta-feira. Eles lembram as ações contra atos racistas, por meio de cartazes, mensagens em telões durante jogos e vídeos institucionais. Muitas dessas iniciativas existem há mais de um ano.
Há, claro, as ações relativas à identificação dos envolvidos nas injúrias raciais. O Grêmio garante ter encontrado cinco e também repassou mais de uma hora de vídeo para a Polícia Civil, que já intimou seis pessoas, entre elas Patrícia Moreira, flagrada pelo canal ESPN gritando "macaco". O clube ainda suspendeu direitos da torcida organizada Geral do Grêmio, responsável por cânticos de cunho racista, em direção ao maior rival, o Inter.
- Para ser punido, o clube tem que contribuir de uma certa forma, contribuir para que isso tenha ocorrido, ou seja, sendo omisso. O que não acontece com o Grêmio - afirma Assef Filho.
- O Grêmio enfrentou o processo de frente - reforça Bolzan.
(Foto: Diego Guichard)
A história também será ponto de apoio dos advogados. A ideia é mostrar que o Grêmio sempre esteve aliado à promoção da união entre diferentes culturas. Romildo Bolzan cita nomes de relevo, como o lateral-esquerdo Everaldo, representado na bandeira e no escudo por meio de uma estrela dourada, e o maior artilheiro do clube, Alcindo. O autor do hino, Lupicínio Rodrigues, também era negro. Até a figura de Bombardão, torcedor-símbolo do Grêmio na era amadora dos anos 1940, poderá ser mencionado.
Outro vice-presidente da gestão de Fábio Koff causou polêmica nas redes sociais na terça. Adalberto Preis postou mensagem em que se perguntava se Aranha não estava "encenando" a situação relativa às ofensas para retardar o reinício do jogo, então ganho pelo Santos. As declarações repercutiram fortemente, mas Bolzan não acredita em prejuízo no julgamento.
Preis ainda ponderou que, se o árbitro Wilton Pereira Sampaio não ouvira os xingamentos, colocando só depois um adendo na súmula por meio de testemunhas, o próprio Aranha também poderia não ter ouvido. Por não ter feito tal relato na primeira versão do documento, o juiz e seus auxiliares igualmente serão julgados.
(Foto: Edgard Maciel de Sá)
Apesar do discurso otimista do Grêmio, o procurador-geral do STJD, Paulo Schmitt, acredita que o mais provável seja a exclusão do clube da Copa do Brasil. Schmitt não entrou em detalhes sobre expectativa em relação ao julgamento, mas sublinhou o artigo em que o Grêmio foi colocado na denúncia, que prevê perda de pontos, mas apenas em campeonatos ou torneios em que eles são computados, o que não ocorre na Copa do Brasil.
- Não se trata de expectativa, mas de que haja responsabilização nos termos da denúncia apresentada. Caso não haja atribuição de pontos pelo regulamento da competição, a entidade de prática desportiva será excluída da competição, torneio ou equivalente - disse, em contato com o GloboEsporte.com.
Paulo Schmitt não irá atuar no julgamento. Ele deve participar do segundo grau, no Pleno, ainda sem data marcada. No julgamento desta quarta-feira, a denúncia será feita pelo subprocurador geral, Rafael Vanzin.
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Era para Felipão e seus jogadores estarem preocupados com a dura tarefa de reverter os dois gols aplicados pelos Santos na última quinta, na Arena. Mas o episódio de injúrias raciais contra o goleiro Aranha levou a decisão das oitavas de final da Copa do Brasil para o Supremo Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), a partir das 14h desta quarta-feira. É quando o Grêmio será julgado pelas ofensas de torcedores, com risco de ser excluído do torneio. Para evitar uma punição histórica, o Tricolor monta força-tarefa pesada, com tática definida, em busca de uma discussão sem "comoção" e farto material para tentar provar engajamento social da instituição. A partida da volta, antes marcada para esta noite, está suspensa.
Serão quatro advogados escalados para tentar desmontar a denúncia feita pela procuradoria, baseada no artigo 243-G (e seus parágrafos) do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), que fala em "atos discriminatórios". Thiago Brunetto, Jorge Petersen e Gabriel Vieira são do clube. Haverá ainda Michel Assef Filho, que presta serviços ao Flamengo, e tem bom trânsito nos tribunais cariocas. Ele espera uma sessão longa, de até quatro horas. Para completar, o presidente Fábio Koff, com experiência na magistratura, também estará presente - o Grêmio conta muito com seu prestígio como dirigente. O resultado não é definitivo. Caberá recurso da procuradoria ou do clube para julgamento em segunda instância no Pleno do STJD, em prazo estimado de 15 dias.
- Fui procurado pelo Grêmio. E, como eu acredito na causa, aceitei fazer a defesa. O que precisa ser analisado é a eficácia de uma sanção disciplinar como essa por parte do STJD. Até que ponto punir o clube é realmente eficaz? - indaga-se Assef Filho, em contato com o GloboEsporte.com.
O tom da defesa será exatamente este. Ou seja, os advogados tentarão a todo o momento esfriar a inevitável "comoção", segundo o clube, criada em torno das injúrias raciais, tanto na mídia quanto nas redes sociais. Para o Grêmio, as reverberações dos atos não podem entrar no mérito do julgamento.
- Se entrarem os componentes emocionais, questões que permeiam a sociedade... há a chance de o Grêmio ser condenado além da autoria do fato, o que não pode acontecer, em tese. Não foi o Grêmio que ofendeu. A comoção cria o ambiente, mas não pode fazer justiça. Estamos preocupados em demonstrar tudo tecnicamente - sublinha o vice-presidente Romildo Bolzan Júnior. - De qualquer forma, estamos preparados para um dia tenso.
Tanto Bolzan quanto Assef Filho insistem na postura "proativa" do Grêmio desde que eclodiu a polêmica, na quinta-feira. Eles lembram as ações contra atos racistas, por meio de cartazes, mensagens em telões durante jogos e vídeos institucionais. Muitas dessas iniciativas existem há mais de um ano.
Há, claro, as ações relativas à identificação dos envolvidos nas injúrias raciais. O Grêmio garante ter encontrado cinco e também repassou mais de uma hora de vídeo para a Polícia Civil, que já intimou seis pessoas, entre elas Patrícia Moreira, flagrada pelo canal ESPN gritando "macaco". O clube ainda suspendeu direitos da torcida organizada Geral do Grêmio, responsável por cânticos de cunho racista, em direção ao maior rival, o Inter.
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(Foto: Diego Guichard)
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