Análise: trocas de Roger e cansaço emperram o Grêmio em 1 a 1 em casa

Mesmo sem Miller Bolaños, as expectativas apontavam um Grêmio intenso, ao menos nos minutos iniciais, para bater o San Lorenzo, nesta quarta-feira, na Arena. O que se viu no 1 a 1 diante dos argentinos, porém, passou longe da dinâmica de jogo tão almejada por Roger Machado. O Grêmio não conseguiu transpor um rival que conseguia a recomposição muito rapidamente e apresentou um time descompactado em campo, em especial após as três alterações do comandante, no segundo tempo. Um somatório da postura do rival, do cansaço pela sequência de três jogos em sete dias e as trocas do treinador que não funcionaram.

Desesperado por uma vitória, o treinador mandou a campo três atacantes e sacou três meias citados por ele mesmo como opções para a função, deixando apenas Maicon com esta incumbência – mesmo mais recuado, o volante é motor importante das jogadas ofensivas do time gaúcho.

Transformou seu 4-2-3-1 praticamente num 4-2-4, com muita distância entre os homens de frente e os de meio. Abriu, assim, espaço para que seu rival ocupasse seu campo. E deixou o Tricolor com um leque diminuto de alternativas de jogadas. Everton, cansado, não conseguia vitória pessoal. Fernandinho, por outro lado, teve, mas pecou no acabamento das jogadas. E Henrique Almeida e Bobô ficaram desabastecidos.

Mais do que isso. Roger abriu ainda possibilidade para dúvidas e questionamentos sobre as opções que elegeu para figurar em seu banco de suplentes, conforme foi feito inclusive na entrevista coletiva após o empate em 1 a 1.

O regulamento da Libertadores permite apenas sete alternativas aos titulares para cada equipe. O próprio treinador já admitiu, em entrevistas anteriores à desta quinta-feira, que a norma configurava um quebra-cabeças a mais sobre o qual refletir antes de cada partida. Nesta quarta-feira, assim como no duelo com a LDU, o treinador elencou três atacantes para a formação. Desta vez, porém, sem a presença de Lincoln, armador de ofício. A justificativa de Roger tem a ver com a polivalência de cada peça que tem à disposição.

– Eu tinha, sim (peças para fazer o meio). O Luan faz essa função. O Giuliano e o Maicon, também. Eu tenho jogadores para essa função. Com a impossibilidade de se ter mais opções no banco, pelo regulamento da Conmebol, eu tenho que compor meu banco com jogadores com diferentes características. Componho com jogadores defensivos, com jogadores ofensivos. A organização do banco é o casamento dessas características – explica o treinador.
O GloboEsporte.com lista na tabela abaixo as peças à disposição no banco de reservas de Roger Machado nos três jogos da Libertadores. Diante do Toluca, o comandante combinou duas peças para o ataque, com um meia, um volante, um lateral, um zagueiro e um goleiro. Nos duelos seguintes, porém, preferiu escalar um jogador a mais para o ataque.



Assim, diante dos equatorianos, preteriu Kaio, que poderia atuar como volante e na lateral direita – e, em uma eventualidade, na lateral esquerda –, para escalar Bobô. O treinador tinha como opção ainda sacar Marcelo Hermes, que na teoria atuaria apenas pela esquerda. Contra o San Lorenzo, deixou Lincoln fora, com preferência por Fernandinho, com a justificativa de ter outras peças para o setor. O garoto, armador de origem, também poderia cair pelos lados, como já fez em duelos pelo Gauchão.

Atuação apática desde o início
Há de se ressaltar, é bem verdade, que os problemas do Grêmio nesta quarta-feira vão além da má formação do banco, ou das mudanças de Roger Machado, em suas tentativas de mudar a partida em busca da vitória. Ao contrário do que ocorreu no 4 a 0 sobre a LDU, o Tricolor não conseguiu empregar sua dinâmica de jogo sobre o rival, para pressioná-lo com intensidade e triangulações envolventes nos primeiros minutos de jogo.
O San Lorenzo soube se fechar atrás, ao bloquear os espaços pelo meio, e anular bem a saída de jogo com Maicon, municiador das jogadas de ataque do Grêmio. Ainda se aproveitou da velocidade de seus extremos para levar perigo com cruzamentos. Não à toa, o gol de Cauteruccio saiu em levantamento para a área, em cobrança de falta. Após a partida, Grohe admitiu a atuação abaixo do esperado.
– A equipe deles complicou bastante, desde o começo. Criou uma certa dificuldade. Temos que fazer a leitura exata das coisas e ver o que podemos melhorar para o jogo da volta. Como todos os jogos do grupo, é difícil. São quatro equipes parelhas – avalia.


Marcelo Grohe avaliou a atuação gremista (Foto: Eduardo Moura/Globoesporte.com)


Soma-se à atuação apática o desgaste decorrente da sequência de três jogos decisivos em uma semana – além do duelo contra o San Lorenzo, há as partidas com LDU e Inter. Roger, porém, evita atribuir o empate à questão física. De novo, a justificativa recai sobre as trocas.

– O jogo foi intenso para os dois lados. Não quero atribuir o empate ao cansaço que possa ter havido com os três jogos seguidos de intensidade. Eu não vi nosso time cansar. Ficou mais aberto em função das trocas que eu fiz, para buscar o gol – ressalta o treinador.

Mesmo que Roger tenha evitado o assunto, os jogadores deixaram claro que sentiram a sequência. Maicon, Pedro Geromel e Giuliano citaram o assunto no túnel, na zona mista. O desgaste de Maicon e Edinho, principalmente, impediu que os volantes estivessem próximo da linha de atacantes. E a transição para o ataque se quebrou.

Justificativas e fatores para o empate à parte, o Grêmio tem pela frente uma missão resoluta: somar pontos fora de casa para se classificar às oitavas de final. O próximo duelo é com o mesmo San Lorenzo, na próxima terça-feira, no Nuevo Gasômetro, em Buenos Aires.

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