Foto: Adriana Franciosi / Agencia RBS
Francisco Novelletto não mede palavras ao falar sobre a Primeira Liga. O presidente da Federação Gaúcha de Futebol tem sido um crítico frequente do campeonato organizado pelos clubes de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e pela dupla Gre-Nal. E voltou a disparar contra o torneio que, na sua visão, foi criado para enfrentar a CBF em um momento de fraqueza.
Admitindo que a entidade que comanda o futebol "não tem moral" agora devido aos escândalos de corrupção que envolveram Ricardo Teixeira, José Maria Marín e Marco Polo del Nero, Novelletto disse que falta uma liderança para unir as equipes na hora de organizar uma competição. E ainda garantiu que, se estivesse no comando da CBF, passaria todo o comando do Brasileirão aos clubes – por acreditar que eles se arrependeriam disso depois.
Presidente, por que o senhor acha que a Primeira Liga não vai dar certo?
Não vai dar certo pelos interesses do Rio Grande do Sul. É um campeonato que não leva a lugar algum. Nós vamos apoiar, a federação vai apoiar, mas não é um campeonato para vencer. É um campeonato de enfrentamento.
Enfrentamento com quem?
Com a CBF.
Mas o senhor não acha que este é o momento de enfrentar a CBF?
Não é o melhor caminho. Dessa maneira, não. Não vão fazer bonito, vão fazer pior. Cada um, cada um: um joga, o outro organiza o campeonato. Não que nós tenhamos moral alguma – e não estou defendendo ninguém. Sei que não temos moral. Mas não adianta: para fazer o campeonato, tem que ter uma entidade. Vai tudo muito bem até a bola rolar ou a dividir o dinheiro. Esse amor, essa paixão, terminam quando a bola rola ou quando se divide o dinheiro.
Os clubes já tiveram uma organização, já se organizaram...
Mas tinha o Fábio Koff por trás.
Então é isso que o senhor acha que falta? Uma liderança?
Também. O Clube dos 13 não era de enfrentamento, estava alinhado à CBF. Agora é outra maneira, jogo de braço. Se eu sou o presidente da CBF, meu primeiro ato é dar a organização do campeonato aos clubes. "Toma aqui, é teu". A CBF não tem moral nenhuma. A CBF fica bilionária sem um campeonato por organizar, porque não ia gastar.
Mas a CBF já é bilionária.
Ia ficar ainda mais. Não ia gastar nada. A CBF gasta, no mínimo, R$ 50 milhões com o campeonato nacional. Mas ninguém reconhece, porque não tem moral. A CBF não pega um centavo dos clubes, e quando eles tivessem que gastar com passagem, arbitragem, aí iam reclamar. Não estou defendendo a CBF, que só tem safado. Mas gostei de uma explicação que o papa Francisco deu, quando perguntado sobre a questão de pedofilia na igreja católica: "Filha, a religião católica é uma plantação de milhões de árvores, que crescem e ninguém vê. Mas quando uma cai, todo mundo nota". É a CBF... Por não ter moral, ninguém fala que ela gasta R$ 50 milhões para fazer o Brasileirão, sem pegar um centavo dos clubes. Eles são muito bons em arrecadação, só que estão fazendo tanta sacanagem que vão estragar tudo. Se sou eu, não organizo nada. Ia deixar para os clubes na hora.
Para os clubes ou para uma entidade dos clubes?
Para os clubes, ou para a entidade. A imprensa fala, todo mundo fala. É assim que eles roubam na Europa. O dinheiro da TV vai todo para os clubes. A CBF não tira um centavo. Os caras são muito bons, mas são tão FDP que não são reconhecidos. E fazem a gente passar vergonha: no dia em que teve a manifestação, eu estava em um voo e fui reconhecido. O cara veio "e aí, vai aparecer na CBF hoje, para tomar um laço?". Fui para cima dele, a aeromoça veio apaziguar.
E como, neste momento tão conturbado – não só da CBF, mas da Fifa e da Conmebol, de todo o poder do futebol –, a CBF continua tão poderosa? Como os clubes seguem acatando?
É porque os clubes tiram proveito. Eu pedi pra dupla Gre-Nal não votar no Marco Polo Del Nero (na eleição para presidente da CBF, realizada em abril de 2014). Apresentei um projeto de pegar 30% do faturamento da CBF para administrar para os 500 clubes em atividade no Brasil. Não ia haver unanimidade entre as federações, e o Marco Polo, por vaidade, queria unanimidade entre os clubes. Cheguei pro Inter e pro Grêmio e disse "olha, é só não votar nele" que a gente ia negociar. Mas adivinha se não votaram... Tiveram suas vantagens, que eu sei quais são. Foi a mesma coisa na reunião da Sul-Minas-Rio, no Beira-Rio. Acompanhei com meu colega da Federação Mineira, e deu vontade de chorar. Uma hora de reunião e os caras tentando inventar a roda. Aí deu um piti no (Mário Celso) Petraglia (presidente do Atlético-PR): nós dissemos que aprovávamos a Liga, mas que precisava seguir as normas da Fifa. O presidente Romildo (Bolzan, do Grêmio) disse que seria bom saber quais são essas regras, para evitar problemas, uma desfiliação, algo assim. E ele estava certo, tranquilo, numa boa. Aí o Petraglia começou: "É uma cambada de sem-vergonha, tudo ladrão". Estufei o peito e pedi a palavra: "O chapéu serviu, mas fui convidado e quero o direito de falar. Concordo que são todos canalhas, tem um preso e outro escondido debaixo da cama. São todos sem-vergonha, faz parte. Mas vocês também não têm moral: os 20 clubes votaram na CBF, 20 votos. E aí querem vir aqui. De nossa parte, deu duas federações contra". Ele baixou a bola.
Quais federações votaram contra?
A gaúcha e a paranaense. Por isso, esse campeonato não é para ganhar. É para medir forças com a CBF.
O senhor não acha que vale essa experiência para os clubes?
Vale a experiência, mas vão devolver depois. Precisa de uma entidade, com transparência, dignidade. Os clubes fizeram a Copa União e não saiu a segunda edição. Foi uma esculhambação. É como eu querer fazer o que tu fazes, e tu querer fazer o que eu faço. Vai sair errado.
Sobre o Gauchão, presidente: o senhor não teme que a dupla Gre-Nal deixe de lado o campeonato numa possível segunda edição da Liga?
Mas eu já tive problemas neste ano. Vocês não participam da assembleia, mas o bicho pegou. Pô: eu matei quatro clubes do interior, degolei quatro clubes. Usei minha credibilidade para pedir mais tempo de treinamento, pois sempre temos time na Libertadores. Foi uma gritaria, mas eles (os clubes do interior) me ouvem. Tu sabes o que é baixar quatro clubes na marra? Um desses pode acabar. É muito mais fácil subir do que descer. Nós degolamos quatro clubes para apoiar Grêmio e Inter, para dar mais prazo entre os jogos, como pediram. Aí inventaram outro campeonato... A Federação Paulista não entrou. A Globo ofereceu aumento e todos assinaram. Ofereceram também o aumento a Grêmio e Inter, na véspera da assembleia, se não assinassem com a Sul-Minas-Rio. Fui na reunião com a TV e falei com os clubes, e o presidente Piffero afirmou que seguraria para ver. No dia seguinte, ouço no rádio que os dois assinaram com a Liga. Era um aumento de 40%. Ia dar R$ 2 milhões para cada clube do interior por ano, com cinco anos de contrato. Grêmio e Inter iam ganhar R$ 11 milhões por ano. No dia da assembleia, a coisa esquentou. "Presidente, o que o senhor tem a explicar? Derrubou quatro clubes para dar mais prazo para a Dupla, e agora eles inventam um campeonato?". O que eu ia dizer? Passei para os representantes de Grêmio e Inter explicarem. Por isso que digo que é um campeonato de enfrentamento. E é uma besteira: se amanhã está o Novelletto (na presidência da CBF), dá de presente.
Com essa proposta, de passar a organização aos clubes, o senhor não pensa em concorrer à presidência da CBF?
A eleição é só daqui a três anos. Mas se eu sou presidente, superintendente ou secretário, oferecia a organização aos clubes no dia seguinte. Os clubes não podem reclamar da CBF. Não gastam um centavo. E aí choram quando tem convocação, mas vai ver se algum deles não quer que o jogador seja convocado. "Ah, a CBF não paga salário de jogador convocado..." Mas olha a valorização! Pergunta para o Piffero se ele quer ou não quer que o jogador seja convocado! Só de botar a camisa, o cara vale mais. Eu faria, no caso de lesões, um seguro. Isso cai bem. Mas quantos jogadores os clubes não vendem porque são convocados?
Qual sua relação com o Grêmio hoje?
Tranquila. Sempre boa. Nunca pedi nada a eles que foi negado, e nunca me pediram nada que eu neguei. O conflito foi no apito, visão do Romildo. Mas isso faz parte. O problema é quando alguém pedir algo e eu não der porque é o Grêmio. O Romildo disse "Novelletto, nada contra ti, mas tenho que dar uma satisfação para minha torcida". Eu não faria isso, ele fez. Não sei brigar.
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- CASA CHEIA! Grêmio espera recorde de público na Arena para o duelo decisivo contra o Juventude!
- Grêmio deve ter foco total em fugir do Z4 e carimbar vaga na Sul-Americana: não é hora de xingar Renato nem de especular em público novo treinador
Francisco Novelletto não mede palavras ao falar sobre a Primeira Liga. O presidente da Federação Gaúcha de Futebol tem sido um crítico frequente do campeonato organizado pelos clubes de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e pela dupla Gre-Nal. E voltou a disparar contra o torneio que, na sua visão, foi criado para enfrentar a CBF em um momento de fraqueza.
Admitindo que a entidade que comanda o futebol "não tem moral" agora devido aos escândalos de corrupção que envolveram Ricardo Teixeira, José Maria Marín e Marco Polo del Nero, Novelletto disse que falta uma liderança para unir as equipes na hora de organizar uma competição. E ainda garantiu que, se estivesse no comando da CBF, passaria todo o comando do Brasileirão aos clubes – por acreditar que eles se arrependeriam disso depois.
Presidente, por que o senhor acha que a Primeira Liga não vai dar certo?
Não vai dar certo pelos interesses do Rio Grande do Sul. É um campeonato que não leva a lugar algum. Nós vamos apoiar, a federação vai apoiar, mas não é um campeonato para vencer. É um campeonato de enfrentamento.
Enfrentamento com quem?
Com a CBF.
Mas o senhor não acha que este é o momento de enfrentar a CBF?
Não é o melhor caminho. Dessa maneira, não. Não vão fazer bonito, vão fazer pior. Cada um, cada um: um joga, o outro organiza o campeonato. Não que nós tenhamos moral alguma – e não estou defendendo ninguém. Sei que não temos moral. Mas não adianta: para fazer o campeonato, tem que ter uma entidade. Vai tudo muito bem até a bola rolar ou a dividir o dinheiro. Esse amor, essa paixão, terminam quando a bola rola ou quando se divide o dinheiro.
Os clubes já tiveram uma organização, já se organizaram...
Mas tinha o Fábio Koff por trás.
Então é isso que o senhor acha que falta? Uma liderança?
Também. O Clube dos 13 não era de enfrentamento, estava alinhado à CBF. Agora é outra maneira, jogo de braço. Se eu sou o presidente da CBF, meu primeiro ato é dar a organização do campeonato aos clubes. "Toma aqui, é teu". A CBF não tem moral nenhuma. A CBF fica bilionária sem um campeonato por organizar, porque não ia gastar.
Mas a CBF já é bilionária.
Ia ficar ainda mais. Não ia gastar nada. A CBF gasta, no mínimo, R$ 50 milhões com o campeonato nacional. Mas ninguém reconhece, porque não tem moral. A CBF não pega um centavo dos clubes, e quando eles tivessem que gastar com passagem, arbitragem, aí iam reclamar. Não estou defendendo a CBF, que só tem safado. Mas gostei de uma explicação que o papa Francisco deu, quando perguntado sobre a questão de pedofilia na igreja católica: "Filha, a religião católica é uma plantação de milhões de árvores, que crescem e ninguém vê. Mas quando uma cai, todo mundo nota". É a CBF... Por não ter moral, ninguém fala que ela gasta R$ 50 milhões para fazer o Brasileirão, sem pegar um centavo dos clubes. Eles são muito bons em arrecadação, só que estão fazendo tanta sacanagem que vão estragar tudo. Se sou eu, não organizo nada. Ia deixar para os clubes na hora.
Para os clubes ou para uma entidade dos clubes?
Para os clubes, ou para a entidade. A imprensa fala, todo mundo fala. É assim que eles roubam na Europa. O dinheiro da TV vai todo para os clubes. A CBF não tira um centavo. Os caras são muito bons, mas são tão FDP que não são reconhecidos. E fazem a gente passar vergonha: no dia em que teve a manifestação, eu estava em um voo e fui reconhecido. O cara veio "e aí, vai aparecer na CBF hoje, para tomar um laço?". Fui para cima dele, a aeromoça veio apaziguar.
E como, neste momento tão conturbado – não só da CBF, mas da Fifa e da Conmebol, de todo o poder do futebol –, a CBF continua tão poderosa? Como os clubes seguem acatando?
É porque os clubes tiram proveito. Eu pedi pra dupla Gre-Nal não votar no Marco Polo Del Nero (na eleição para presidente da CBF, realizada em abril de 2014). Apresentei um projeto de pegar 30% do faturamento da CBF para administrar para os 500 clubes em atividade no Brasil. Não ia haver unanimidade entre as federações, e o Marco Polo, por vaidade, queria unanimidade entre os clubes. Cheguei pro Inter e pro Grêmio e disse "olha, é só não votar nele" que a gente ia negociar. Mas adivinha se não votaram... Tiveram suas vantagens, que eu sei quais são. Foi a mesma coisa na reunião da Sul-Minas-Rio, no Beira-Rio. Acompanhei com meu colega da Federação Mineira, e deu vontade de chorar. Uma hora de reunião e os caras tentando inventar a roda. Aí deu um piti no (Mário Celso) Petraglia (presidente do Atlético-PR): nós dissemos que aprovávamos a Liga, mas que precisava seguir as normas da Fifa. O presidente Romildo (Bolzan, do Grêmio) disse que seria bom saber quais são essas regras, para evitar problemas, uma desfiliação, algo assim. E ele estava certo, tranquilo, numa boa. Aí o Petraglia começou: "É uma cambada de sem-vergonha, tudo ladrão". Estufei o peito e pedi a palavra: "O chapéu serviu, mas fui convidado e quero o direito de falar. Concordo que são todos canalhas, tem um preso e outro escondido debaixo da cama. São todos sem-vergonha, faz parte. Mas vocês também não têm moral: os 20 clubes votaram na CBF, 20 votos. E aí querem vir aqui. De nossa parte, deu duas federações contra". Ele baixou a bola.
Quais federações votaram contra?
A gaúcha e a paranaense. Por isso, esse campeonato não é para ganhar. É para medir forças com a CBF.
O senhor não acha que vale essa experiência para os clubes?
Vale a experiência, mas vão devolver depois. Precisa de uma entidade, com transparência, dignidade. Os clubes fizeram a Copa União e não saiu a segunda edição. Foi uma esculhambação. É como eu querer fazer o que tu fazes, e tu querer fazer o que eu faço. Vai sair errado.
Sobre o Gauchão, presidente: o senhor não teme que a dupla Gre-Nal deixe de lado o campeonato numa possível segunda edição da Liga?
Mas eu já tive problemas neste ano. Vocês não participam da assembleia, mas o bicho pegou. Pô: eu matei quatro clubes do interior, degolei quatro clubes. Usei minha credibilidade para pedir mais tempo de treinamento, pois sempre temos time na Libertadores. Foi uma gritaria, mas eles (os clubes do interior) me ouvem. Tu sabes o que é baixar quatro clubes na marra? Um desses pode acabar. É muito mais fácil subir do que descer. Nós degolamos quatro clubes para apoiar Grêmio e Inter, para dar mais prazo entre os jogos, como pediram. Aí inventaram outro campeonato... A Federação Paulista não entrou. A Globo ofereceu aumento e todos assinaram. Ofereceram também o aumento a Grêmio e Inter, na véspera da assembleia, se não assinassem com a Sul-Minas-Rio. Fui na reunião com a TV e falei com os clubes, e o presidente Piffero afirmou que seguraria para ver. No dia seguinte, ouço no rádio que os dois assinaram com a Liga. Era um aumento de 40%. Ia dar R$ 2 milhões para cada clube do interior por ano, com cinco anos de contrato. Grêmio e Inter iam ganhar R$ 11 milhões por ano. No dia da assembleia, a coisa esquentou. "Presidente, o que o senhor tem a explicar? Derrubou quatro clubes para dar mais prazo para a Dupla, e agora eles inventam um campeonato?". O que eu ia dizer? Passei para os representantes de Grêmio e Inter explicarem. Por isso que digo que é um campeonato de enfrentamento. E é uma besteira: se amanhã está o Novelletto (na presidência da CBF), dá de presente.
Com essa proposta, de passar a organização aos clubes, o senhor não pensa em concorrer à presidência da CBF?
A eleição é só daqui a três anos. Mas se eu sou presidente, superintendente ou secretário, oferecia a organização aos clubes no dia seguinte. Os clubes não podem reclamar da CBF. Não gastam um centavo. E aí choram quando tem convocação, mas vai ver se algum deles não quer que o jogador seja convocado. "Ah, a CBF não paga salário de jogador convocado..." Mas olha a valorização! Pergunta para o Piffero se ele quer ou não quer que o jogador seja convocado! Só de botar a camisa, o cara vale mais. Eu faria, no caso de lesões, um seguro. Isso cai bem. Mas quantos jogadores os clubes não vendem porque são convocados?
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Tranquila. Sempre boa. Nunca pedi nada a eles que foi negado, e nunca me pediram nada que eu neguei. O conflito foi no apito, visão do Romildo. Mas isso faz parte. O problema é quando alguém pedir algo e eu não der porque é o Grêmio. O Romildo disse "Novelletto, nada contra ti, mas tenho que dar uma satisfação para minha torcida". Eu não faria isso, ele fez. Não sei brigar.
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