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Com campeão decidido e G-4 quase completo, os holofotes da última rodada do Brasileirão 2015 se voltam para a luta contra o rebaixamento. Mais precisamente para os muros de São Januário e das Laranjeiras. Em 18º lugar, o Vasco precisa de uma ajuda do Fluminense para escapar da queda. Muitos torcedores tricolores pedem para o time "entregar" o jogo e prejudicar o rival. A polêmica, no entanto, não é nova e já tomou conta do noticiário em edições passadas do nacional e até em competições estaduais.
O GloboEsporte.com separou três jogos e trouxe depoimentos de jogadores que participaram deles. Os atletas relataram a pressão pelas quais passaram antes, durante e após essas partidas.
No Campeonato Paulista de 2004, o Corinthians chegou à última rodada ameaçado de rebaixamento. O time alvinegro perdeu seu jogo para a Portuguesa Santista e, para não cair, dependia de um triunfo do São Paulo diante do Juventus. O Tricolor paulista venceu por 2 a 1, com dois gols de Grafite, embora muitos torcedores preferissem a derrota. O artilheiro daquela partida, em matéria publicada em 2010 pelo GloboEsporte.com, lembrou o confronto e a pressão exercida por parte da torcida são-paulina.
Fala, Grafite:
"O corintiano me abraça e tudo mais. Já o são-paulino também me agradece pelos títulos que conquistei dentro do clube, mas lembra dos dois gols contra o Juventus. Mas tudo em tom de brincadeira. Nunca tive maiores problemas com isso, não. Essa rivalidade sadia e sem violência é até gostosa no futebol.
Fiz o que achei certo de acordo com os princípios e com a educação que os meus pais me deram. Não me arrependo nem um pouco. Um profissional digno e de bom caráter jamais irá fazer o contrário em seu trabalho. Eu estava ali para defender o São Paulo, clube que me pagava para jogar, ganhar jogos e marcar gols. As oportunidades apareceram e eu apenas fiz o que deveria ter sido feito. Simples.
Ninguém cai ou conquista título na última rodada. Em campeonato de pontos corridos, cada rodada conta muito. O peso dos três pontos da última rodada é o mesmo que o da primeira. Tenho certeza de que os profissionais irão fazer o melhor pelos seus clubes".
O Flamengo encerrou seu jejum de 17 anos sem título do Brasileiro com uma vitória de virada por 2 a 1 diante do Grêmio, no Maracanã. O time gaúcho foi muito pressionado por parte dos seus torcedores para perder o jogo. Se vencesse, o rival Internacional teria sido campeão. O ex-volante Túlio, titular pelo tricolor gaúcho naquela partida, lembra que alguns dirigentes tiveram comportamento diferente na semana que antecedeu ao confronto. Houve, segundo o ex-jogador, casos de atletas que não atuaram sem motivo explicado e agressão sofrida pelo goleiro Marcelo Grohe.
Fala, Túlio:
"Naquele ano a pressão foi muito forte para que a gente não empatasse o jogo, o que já dava condição para o Inter ser campeão. A pressão veio de todos os lados. Não só da torcida. O comportamento de alguns diretores mudou em relação ao jogo. Se você não tiver a cabeça no lugar acaba sendo influenciado para amolecer o jogo. Marcelo Rospide era o técnico interino. Foram mais garotos. Foram poucos que estavam mais acostumados a jogar no time titular: Eu, Adilson, Mario Fernandes e Thiego. O restante era molecada, incluindo o Douglas Costa. O Marcelo Grohe, que era o reserva do Victor, foi agredido no aeroporto quando voltamos a Porto Alegre. O torcedor disse que ele foi bem demais jogo e que não precisava daquilo tudo, achando que ele queria que o Inter fosse campeão, quando na verdade a gente estava fazendo nosso papel.
Túlio lembrou agressão sofrida pelo goleiro Marcelo Grohe (Foto: Reprodução / Site Oficial)
Antes do jogo, eu e os mais experientes conversamos com os mais novos dizendo que estava em jogo a nossa dignidade. O resultado não importava, se a gente entrega ficaria uma mancha na carreira. Se jogasse com comprometimento, era obrigação nossa. Não teve corpo mole de ninguém. Muito se falou, fantasiaram que um jogador que entrou transmitiu um recado de que não era para o nosso time atacar. O que teve é que tiraram a força máxima, sim. Vários jogadores ficaram fora sem motivo. Acho que só a diretoria do Grêmio pode explicar.
Quem estava em campo cumpriu seu papel. Era difícil ganhar do Flamengo, que estava bem naquele ano. Mesmo com nosso time titular, nós tínhamos vencido poucos jogos fora de casa naquele Brasileiro. Até usei isso como argumento quando um diretor comunicou a situação. Eu disse que deveria ir o time titular ou colocasse os juniores. Colocar reservas era um absurdo. Não era justo colocar uns três lá, botar a cara e o restante ficar fora. Acabou que foi isso que aconteceu. Alguns jogadores que não vou citar o nome até simularam contusão para não ir para aquele último jogo. A situação não é fácil, mas é coisa da profissão.
Sempre fui muito sério e nunca dei liberdade para o torcedor duvidar de nada. Não que o Marcelo Grohe não fosse. O Marcelo era reserva do Victor, que já era um ídolo. Cheguei no aeroporto sério e saí antes, depois fui saber do tapa que o Marcelo levou. Tinha torcedor do grêmio hostilizando a gente, gritaram um monte de besteira. Ouvi muito palavrão, só que entrou por um ouvido e saiu pelo outro, não discuti com ninguém".
O Fluminense entrou como líder do Brasileirão na penúltima rodada da competição em 2010. Na sua cola na tabela estava o Corinthians, principal rival do Palmeiras. A equipe paulista mandou o confronto em Barueri e boa parte dos seus torcedores torceu muito para o Flu no duelo, como pode ser visto na comemoração dos gols tricolores na virada por 2 a 1. O goleiro alviverde na partida foi Deola, que teve ótima atuação e irritou muitos palmeirenses no estádio. Ele recorda o confronto:
Fala, Deola:
“Não lembro de ter tido contato com torcedor durante a semana. A pressão ali foi grande porque, na quarta-feira anterior, a gente foi eliminado pelo Goiás, em São Paulo, pela Sul-Americana. A torcida não aceitou aquilo, era uma final que deixamos de disputar. Por isso o protesto foi mais forte.
Dinei fez 1 a 0 Palmeiras e comemorou sem muita empolgação o seu gol (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
A nossa estratégia era armar um jeito para suportar a pressão e conseguir a vitória. Infelizmente ela não veio, mas por merecimento do Fluminense. A gente não esmoreceu em momento algum, fizemos nossa obrigação dentro de campo. Jogador que se preze, tem hombridade, entra em campo e joga seu futebol.
Por mais que a torcida peça para perder, tem que ser racional, não pode agir por impulso. O torcedor vai querer que o rival não se dê bem. Tem de pensar na instituição, ter bom senso, ser racional com a camisa que veste. No caso, do Palmeiras, que é muito maior que qualquer um.
É a última rodada do campeonato. O jogador tem que pensar sobre a imagem que vai ficar. Alguns lances ficam marcados. Ele quer que pensem daqui a alguns anos: “Será que deixou, será que não deixou?”. Jogue naturalmente. Ninguém entra para perder, abrir o jogo. Se alguém faz isso, não tem respeito pela profissão”.
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Com campeão decidido e G-4 quase completo, os holofotes da última rodada do Brasileirão 2015 se voltam para a luta contra o rebaixamento. Mais precisamente para os muros de São Januário e das Laranjeiras. Em 18º lugar, o Vasco precisa de uma ajuda do Fluminense para escapar da queda. Muitos torcedores tricolores pedem para o time "entregar" o jogo e prejudicar o rival. A polêmica, no entanto, não é nova e já tomou conta do noticiário em edições passadas do nacional e até em competições estaduais.
O GloboEsporte.com separou três jogos e trouxe depoimentos de jogadores que participaram deles. Os atletas relataram a pressão pelas quais passaram antes, durante e após essas partidas.
No Campeonato Paulista de 2004, o Corinthians chegou à última rodada ameaçado de rebaixamento. O time alvinegro perdeu seu jogo para a Portuguesa Santista e, para não cair, dependia de um triunfo do São Paulo diante do Juventus. O Tricolor paulista venceu por 2 a 1, com dois gols de Grafite, embora muitos torcedores preferissem a derrota. O artilheiro daquela partida, em matéria publicada em 2010 pelo GloboEsporte.com, lembrou o confronto e a pressão exercida por parte da torcida são-paulina.
Fala, Grafite:
"O corintiano me abraça e tudo mais. Já o são-paulino também me agradece pelos títulos que conquistei dentro do clube, mas lembra dos dois gols contra o Juventus. Mas tudo em tom de brincadeira. Nunca tive maiores problemas com isso, não. Essa rivalidade sadia e sem violência é até gostosa no futebol.
Fiz o que achei certo de acordo com os princípios e com a educação que os meus pais me deram. Não me arrependo nem um pouco. Um profissional digno e de bom caráter jamais irá fazer o contrário em seu trabalho. Eu estava ali para defender o São Paulo, clube que me pagava para jogar, ganhar jogos e marcar gols. As oportunidades apareceram e eu apenas fiz o que deveria ter sido feito. Simples.
Ninguém cai ou conquista título na última rodada. Em campeonato de pontos corridos, cada rodada conta muito. O peso dos três pontos da última rodada é o mesmo que o da primeira. Tenho certeza de que os profissionais irão fazer o melhor pelos seus clubes".
O Flamengo encerrou seu jejum de 17 anos sem título do Brasileiro com uma vitória de virada por 2 a 1 diante do Grêmio, no Maracanã. O time gaúcho foi muito pressionado por parte dos seus torcedores para perder o jogo. Se vencesse, o rival Internacional teria sido campeão. O ex-volante Túlio, titular pelo tricolor gaúcho naquela partida, lembra que alguns dirigentes tiveram comportamento diferente na semana que antecedeu ao confronto. Houve, segundo o ex-jogador, casos de atletas que não atuaram sem motivo explicado e agressão sofrida pelo goleiro Marcelo Grohe.
Fala, Túlio:
"Naquele ano a pressão foi muito forte para que a gente não empatasse o jogo, o que já dava condição para o Inter ser campeão. A pressão veio de todos os lados. Não só da torcida. O comportamento de alguns diretores mudou em relação ao jogo. Se você não tiver a cabeça no lugar acaba sendo influenciado para amolecer o jogo. Marcelo Rospide era o técnico interino. Foram mais garotos. Foram poucos que estavam mais acostumados a jogar no time titular: Eu, Adilson, Mario Fernandes e Thiego. O restante era molecada, incluindo o Douglas Costa. O Marcelo Grohe, que era o reserva do Victor, foi agredido no aeroporto quando voltamos a Porto Alegre. O torcedor disse que ele foi bem demais jogo e que não precisava daquilo tudo, achando que ele queria que o Inter fosse campeão, quando na verdade a gente estava fazendo nosso papel.
Túlio lembrou agressão sofrida pelo goleiro Marcelo Grohe (Foto: Reprodução / Site Oficial)
Antes do jogo, eu e os mais experientes conversamos com os mais novos dizendo que estava em jogo a nossa dignidade. O resultado não importava, se a gente entrega ficaria uma mancha na carreira. Se jogasse com comprometimento, era obrigação nossa. Não teve corpo mole de ninguém. Muito se falou, fantasiaram que um jogador que entrou transmitiu um recado de que não era para o nosso time atacar. O que teve é que tiraram a força máxima, sim. Vários jogadores ficaram fora sem motivo. Acho que só a diretoria do Grêmio pode explicar.
Quem estava em campo cumpriu seu papel. Era difícil ganhar do Flamengo, que estava bem naquele ano. Mesmo com nosso time titular, nós tínhamos vencido poucos jogos fora de casa naquele Brasileiro. Até usei isso como argumento quando um diretor comunicou a situação. Eu disse que deveria ir o time titular ou colocasse os juniores. Colocar reservas era um absurdo. Não era justo colocar uns três lá, botar a cara e o restante ficar fora. Acabou que foi isso que aconteceu. Alguns jogadores que não vou citar o nome até simularam contusão para não ir para aquele último jogo. A situação não é fácil, mas é coisa da profissão.
Sempre fui muito sério e nunca dei liberdade para o torcedor duvidar de nada. Não que o Marcelo Grohe não fosse. O Marcelo era reserva do Victor, que já era um ídolo. Cheguei no aeroporto sério e saí antes, depois fui saber do tapa que o Marcelo levou. Tinha torcedor do grêmio hostilizando a gente, gritaram um monte de besteira. Ouvi muito palavrão, só que entrou por um ouvido e saiu pelo outro, não discuti com ninguém".
O Fluminense entrou como líder do Brasileirão na penúltima rodada da competição em 2010. Na sua cola na tabela estava o Corinthians, principal rival do Palmeiras. A equipe paulista mandou o confronto em Barueri e boa parte dos seus torcedores torceu muito para o Flu no duelo, como pode ser visto na comemoração dos gols tricolores na virada por 2 a 1. O goleiro alviverde na partida foi Deola, que teve ótima atuação e irritou muitos palmeirenses no estádio. Ele recorda o confronto:
Fala, Deola:
“Não lembro de ter tido contato com torcedor durante a semana. A pressão ali foi grande porque, na quarta-feira anterior, a gente foi eliminado pelo Goiás, em São Paulo, pela Sul-Americana. A torcida não aceitou aquilo, era uma final que deixamos de disputar. Por isso o protesto foi mais forte.
Dinei fez 1 a 0 Palmeiras e comemorou sem muita empolgação o seu gol (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
A nossa estratégia era armar um jeito para suportar a pressão e conseguir a vitória. Infelizmente ela não veio, mas por merecimento do Fluminense. A gente não esmoreceu em momento algum, fizemos nossa obrigação dentro de campo. Jogador que se preze, tem hombridade, entra em campo e joga seu futebol.
Por mais que a torcida peça para perder, tem que ser racional, não pode agir por impulso. O torcedor vai querer que o rival não se dê bem. Tem de pensar na instituição, ter bom senso, ser racional com a camisa que veste. No caso, do Palmeiras, que é muito maior que qualquer um.
É a última rodada do campeonato. O jogador tem que pensar sobre a imagem que vai ficar. Alguns lances ficam marcados. Ele quer que pensem daqui a alguns anos: “Será que deixou, será que não deixou?”. Jogue naturalmente. Ninguém entra para perder, abrir o jogo. Se alguém faz isso, não tem respeito pela profissão”.
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