
Anderson, com suas arrancadas insinuantes (Foto: Ricardo Duarte/Agência RBS)
O chute sutil encontra as redes de Rodolpho e faz Anderson interromper a arrancada inabalada área do Náutico adentro. Não comemora o gol. De cara fechada, esbanja personalidade no andar e bate no escudo do Grêmio, carregado com orgulho no lado esquerdo do peito, para encarar a ira da torcida rival. Aos 17 anos, não se intimida com a chuva de objetos que parte das arquibancadas dos Aflitos, até ser carregado para o meio do campo por Marcelo Costa. Não se deixa afugentar por pouco.
Muito menos pelo futebol, singelo perto dos desafios impostos pela infância pobre, quando chegou a passar fome no bairro Rubem Berta, um dos mais carentes e violentos de Porto Alegre. O menino superou todas as mazelas com sua perna esquerda insinuante. Joia tricolor, era adulto já aos 17. Eternizou seu nome como herói e salvador do clube naquele 26 de novembro de 2005, em Recife. Ganhou a Europa, o mundo... E foi parar, 10 anos mais tarde, no maior rival. O esporte é a profissão, meio capaz de mudar de vida. E só. O resto, pouco importa. Até mesmo a glória com a camisa tricolor.
– É um menino prático. Hoje, ele não dá muita importância. Gosta de viver no momento – assegura uma pessoa próxima ao atleta.
Aos 27 anos, o agora colorado segue pragmático. A passagem pelo Inter é apenas mais um capítulo de uma vida de sucesso no futebol, iniciada em 2004.
O primeiro a se derramar pelo garoto, que desde cedo encantava a todos com a bola nos pés, e a lhe conceder uma oportunidade foi o técnico Cuca. Encheu os olhos ao mirar o pupilo, mesmo sem vê-lo desfilar em campo. Bastou um diálogo, no refeitório do Estádio Olímpico lotado, não fosse por um lugar vago: o de Anderson. O menino chegava atrasado, munido de dois celulares, um em cada ouvido. Logo ouviu o ato repreensor do comandante. Foi interpelado, desafiado. E não desapontou.
Em meio a idas e vindas, o desfecho do imbróglio sinalizou com sua venda ao Gestifute, grupo de investidores português, por 8 milhões de euros, dos quais cinco, para o Tricolor. E com lágrimas de parte do presidente Paulo Odone, emocionado com o garoto que, dias antes, havia optado por renovar o contrato com o Grêmio, para que pudesse sair com frutos ao clube do coração.
– Ele está ajudando o Grêmio na saída. Preferia estar trazendo ele. Tive que vender, mas ele é nosso – bradou Odone, em choro não contido, antes de abraçar o menino.
– Estou realizando meu sonho. Cedo. Fico chateado de não ter conseguido botar o Grêmio na primeira divisão – rebateu Anderson.
O meia-atacante podia optar entre os três grandes clubes de Portugal: Sporting, Benfica e Porto. Escolheu o último. A partida iminente do Grêmio, com direito a despedida e ida a Portugal para conhecer as dependências do clube.
Foi de egresso a "reforço" para a reta final da Série B, devido à legislação da Fifa, que proibia menores de idade de se transferir para fora de seu país natal. A costureira Doralice de Oliveira, sim que partiu de mudança ao país europeu e fixar residência em Portugal para acelerar o processo.
Entre a ida a Portugal, um período de férias no Nordeste, e a passagem pela Seleção sub-17 no Mundial da categoria, Anderson permaneceu um mês afastado do Grêmio. Eleito o melhor jogador da competição, retornou com um grave entorse no tornozelo direito, que o tirou de grande parte dos confrontos decisivos pela Série B.
Painel na Arena retrata gol de Anderson na Batalha dos Aflitos (Foto: Tomás Hammes / GloboEsporte.com)
Nos Aflitos, iniciou no banco devido às dores no local, que ainda o afligiam. No jogo anterior, seria surpresa de Mano Menezes, mas acabou preservado, após ver seus companheiros aplicarem 2 a 0 no Santa Cruz, no Olímpico. Em Recife, superou dores, quatro expulsões e dois pênaltis contra o Grêmio para entrar na história do clube.
Após acrescentar o último tijolo da reconstrução do Tricolor rumo à Série A, Anderson não pode colher os frutos de sua conquista. Logo rumou à Europa para desfilar suas arrancadas no Campeonato Português. Não desapontou. Em uma temporada e meia pelo Porto, ergueu um título nacional, além da Taça e da Supertaça de Portugal.
Tanto correspondeu que encantou Sir Alex Ferguson, lendário técnico do Manchester United, que fez o clube britânico despender 31,7 milhões de euros (valor superior a R$ 80 milhões à época) para tirá-lo do Porto. Anderson, de fato, brilhou ao lado de estrelas como Cristiano Ronaldo, Wayne Rooney e Ryan Giggs. Ganhou músicas da torcida e taças. As empilhou dentro e fora da Inglaterra. Seu quarto de medalhas ostenta quatro títulos do Campeonato Inglês, dois da Copa da Liga Inglesa, um da Liga dos Campeões e do Mundial.
Foram quase oito anos ininterruptos no United. Ali, até mudou de função. Sem ostentar a mesma explosão dos tempos de garoto, graças a uma série de seis lesões – de maior ou maior gravidade – nos joelhos, foi recuado para atuar como segundo volante. Ganhou brecha após problema médico de Paul Scholes. Das arrancadas insinuantes, passou a municiar os companheiros, dando início às jogadas. Sem conseguir render o esperado, acabou emprestado à Fiorentina em 2013/2014, mas também não empolgou.
Retornou para encerrar seu contrato, já no início do ano. Tomou novos rumos. Rumos surpreendentes. Em fevereiro, retornou a Porto Alegre para defender o maior rival gremista, o Inter, com status de principal contratação da temporada.
Assinou por quatro anos, com a esperança de recuperar o talento esquecido em Manchester.
Entre altos e baixos, ainda não engrenou para conquistar de vez a confiança dos colorados. Chegou até a perder pênalti em sua estreia, diante do Cruzeiro-RS, pelo Gauchão. Penou para entrar em forma e, inclusive, chegou a sobrar do banco de reservas com Diego Aguirre. Fora das principais decisões da temporada, ganhou fôlego e novo ânimo com Argel. Tem três assistências e um gol com a camiseta do Inter. Pouco para quem já conquistou o mundo. Mas nada que demova o sorriso de seu rosto.
Hoje, Anderson veste o vermelho do Inter com idêntica alegria juvenil dos tempos de Grêmio. Era menino aos 17, é menino aos 27 e vive o momento. Segue sem deixar-se intimidar. Segue com a admiração dos gremistas, dirigentes e ex-companheiros de Batalha dos Aflitos. Fez muito pelo Grêmio e
desfruta do nada mais do que justo perdão.
> Confira depoimentos de dirigentes e ex-companheiros sobre Anderson:

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O chute sutil encontra as redes de Rodolpho e faz Anderson interromper a arrancada inabalada área do Náutico adentro. Não comemora o gol. De cara fechada, esbanja personalidade no andar e bate no escudo do Grêmio, carregado com orgulho no lado esquerdo do peito, para encarar a ira da torcida rival. Aos 17 anos, não se intimida com a chuva de objetos que parte das arquibancadas dos Aflitos, até ser carregado para o meio do campo por Marcelo Costa. Não se deixa afugentar por pouco.
Muito menos pelo futebol, singelo perto dos desafios impostos pela infância pobre, quando chegou a passar fome no bairro Rubem Berta, um dos mais carentes e violentos de Porto Alegre. O menino superou todas as mazelas com sua perna esquerda insinuante. Joia tricolor, era adulto já aos 17. Eternizou seu nome como herói e salvador do clube naquele 26 de novembro de 2005, em Recife. Ganhou a Europa, o mundo... E foi parar, 10 anos mais tarde, no maior rival. O esporte é a profissão, meio capaz de mudar de vida. E só. O resto, pouco importa. Até mesmo a glória com a camisa tricolor.
– É um menino prático. Hoje, ele não dá muita importância. Gosta de viver no momento – assegura uma pessoa próxima ao atleta.
Aos 27 anos, o agora colorado segue pragmático. A passagem pelo Inter é apenas mais um capítulo de uma vida de sucesso no futebol, iniciada em 2004.
O primeiro a se derramar pelo garoto, que desde cedo encantava a todos com a bola nos pés, e a lhe conceder uma oportunidade foi o técnico Cuca. Encheu os olhos ao mirar o pupilo, mesmo sem vê-lo desfilar em campo. Bastou um diálogo, no refeitório do Estádio Olímpico lotado, não fosse por um lugar vago: o de Anderson. O menino chegava atrasado, munido de dois celulares, um em cada ouvido. Logo ouviu o ato repreensor do comandante. Foi interpelado, desafiado. E não desapontou.
Em meio a idas e vindas, o desfecho do imbróglio sinalizou com sua venda ao Gestifute, grupo de investidores português, por 8 milhões de euros, dos quais cinco, para o Tricolor. E com lágrimas de parte do presidente Paulo Odone, emocionado com o garoto que, dias antes, havia optado por renovar o contrato com o Grêmio, para que pudesse sair com frutos ao clube do coração.
– Ele está ajudando o Grêmio na saída. Preferia estar trazendo ele. Tive que vender, mas ele é nosso – bradou Odone, em choro não contido, antes de abraçar o menino.
– Estou realizando meu sonho. Cedo. Fico chateado de não ter conseguido botar o Grêmio na primeira divisão – rebateu Anderson.
O meia-atacante podia optar entre os três grandes clubes de Portugal: Sporting, Benfica e Porto. Escolheu o último. A partida iminente do Grêmio, com direito a despedida e ida a Portugal para conhecer as dependências do clube.
Foi de egresso a "reforço" para a reta final da Série B, devido à legislação da Fifa, que proibia menores de idade de se transferir para fora de seu país natal. A costureira Doralice de Oliveira, sim que partiu de mudança ao país europeu e fixar residência em Portugal para acelerar o processo.
Entre a ida a Portugal, um período de férias no Nordeste, e a passagem pela Seleção sub-17 no Mundial da categoria, Anderson permaneceu um mês afastado do Grêmio. Eleito o melhor jogador da competição, retornou com um grave entorse no tornozelo direito, que o tirou de grande parte dos confrontos decisivos pela Série B.

Nos Aflitos, iniciou no banco devido às dores no local, que ainda o afligiam. No jogo anterior, seria surpresa de Mano Menezes, mas acabou preservado, após ver seus companheiros aplicarem 2 a 0 no Santa Cruz, no Olímpico. Em Recife, superou dores, quatro expulsões e dois pênaltis contra o Grêmio para entrar na história do clube.
Após acrescentar o último tijolo da reconstrução do Tricolor rumo à Série A, Anderson não pode colher os frutos de sua conquista. Logo rumou à Europa para desfilar suas arrancadas no Campeonato Português. Não desapontou. Em uma temporada e meia pelo Porto, ergueu um título nacional, além da Taça e da Supertaça de Portugal.
Tanto correspondeu que encantou Sir Alex Ferguson, lendário técnico do Manchester United, que fez o clube britânico despender 31,7 milhões de euros (valor superior a R$ 80 milhões à época) para tirá-lo do Porto. Anderson, de fato, brilhou ao lado de estrelas como Cristiano Ronaldo, Wayne Rooney e Ryan Giggs. Ganhou músicas da torcida e taças. As empilhou dentro e fora da Inglaterra. Seu quarto de medalhas ostenta quatro títulos do Campeonato Inglês, dois da Copa da Liga Inglesa, um da Liga dos Campeões e do Mundial.
Foram quase oito anos ininterruptos no United. Ali, até mudou de função. Sem ostentar a mesma explosão dos tempos de garoto, graças a uma série de seis lesões – de maior ou maior gravidade – nos joelhos, foi recuado para atuar como segundo volante. Ganhou brecha após problema médico de Paul Scholes. Das arrancadas insinuantes, passou a municiar os companheiros, dando início às jogadas. Sem conseguir render o esperado, acabou emprestado à Fiorentina em 2013/2014, mas também não empolgou.
Retornou para encerrar seu contrato, já no início do ano. Tomou novos rumos. Rumos surpreendentes. Em fevereiro, retornou a Porto Alegre para defender o maior rival gremista, o Inter, com status de principal contratação da temporada.
Assinou por quatro anos, com a esperança de recuperar o talento esquecido em Manchester.
Entre altos e baixos, ainda não engrenou para conquistar de vez a confiança dos colorados. Chegou até a perder pênalti em sua estreia, diante do Cruzeiro-RS, pelo Gauchão. Penou para entrar em forma e, inclusive, chegou a sobrar do banco de reservas com Diego Aguirre. Fora das principais decisões da temporada, ganhou fôlego e novo ânimo com Argel. Tem três assistências e um gol com a camiseta do Inter. Pouco para quem já conquistou o mundo. Mas nada que demova o sorriso de seu rosto.
Hoje, Anderson veste o vermelho do Inter com idêntica alegria juvenil dos tempos de Grêmio. Era menino aos 17, é menino aos 27 e vive o momento. Segue sem deixar-se intimidar. Segue com a admiração dos gremistas, dirigentes e ex-companheiros de Batalha dos Aflitos. Fez muito pelo Grêmio e
desfruta do nada mais do que justo perdão.
> Confira depoimentos de dirigentes e ex-companheiros sobre Anderson:

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