10 anos da Batalha: o fotógrafo que 'dedurou' o pênalti de Ademar

Enquanto o jogo estava paralisado, ele pulava atrás do gol e chamava o goleiro Gallatto e o zagueiro Pereira: 'Eu sei onde esse cabra bate, vai ser desse jeito'


Fonte: Globoesporte.com

10 anos da Batalha: o fotógrafo que dedurou o pênalti de Ademar

Estádio Alfredo Jaconi, outubro de 2015. Treino do Juventude. O goleiro Gallatto e o zagueiro Pereira, companheiros de Grêmio de 2005 a 2007, reencontram-se no Alviverde. Entre uma lembrança e outra daquela época, recordam de um personagem de dez anos atrás - mais especificamente no dia 26 de novembro de 2005, quando enfrentaram o Náutico no jogo que ficou marcado como a Batalha dos Aflitos. Na ocasião, os gremistas chegaram a ficar com quatro jogadores a menos e viram os alvirrubros desperdiçarem duas penalidades na vitória por 1 a 0 no estádio pernambucano.

O GloboEsporte.com inicia nesta segunda-feira uma série de matérias especiais contando histórias peculiares daquele episódio que ficou marcado no futebol nacional. A primeira diz respeito a um certo fotógrafo.

- Rapaz, lembra daquele jogo? E o fotógrafo? - indaga Pereira.
- Lembro demais - recorda Gallatto.

Na memória dos dois, os ponteiros do relógio pareciam parados. Djalma Beltrami havia apontado pênalti, aos 34 minutos do segundo tempo, alegando um toque de mão de Nunes. A marcação gerou revolta no time do Grêmio. Ameaças para lá, gritos para cá, cartões, indignação e perplexidade geral. Ao todo, 25 minutos que pareciam não passar. Tudo potencializava ainda mais a angústia na torcida do Náutico.

A Polícia Militar interveio, tentou proteger o árbitro, mediu força com os gremistas, que pensaram em deixar o campo após quatro expulsões. Tudo isso aconteceu neste tempo - 25 minutos.

A cada segundo da paralisação, atrás da meta da Rua da Angustura, um fotógrafo pulava, esgoelava-se. Tentava, a todo custo, chamar a atenção do goleiro Gallato. Ele oferecia algo mais valioso que dinheiro: o lugar exato onde Ademar, que chamou a responsabilidade para si, cobraria a penalidade.

Genival Fernandes, conhecido no Recife como Paparazzi, tinha 35 anos à época. Mas já era conhecido pelos boleiros por transitar pelos três clubes. Oferecia trabalhos freelancer, como nos dias atuais. Inclusive, dirigiu-se ao hotel onde o Grêmio estava hospedado um dia antes com fotos emolduradas para vender.

- Ele vendia uns quadros. Ele faz fotos, não é? Ele ia no hotel vender. Era a quarta vez que estávamos indo ao Recife, ou a terceira, e ele vivia no hotel. Eu tinha 22 anos e guardava as fotos. Eu acho que ele chamou Pereira e até falou mais ou menos assim: "Esse cabra (Ademar) nunca bate pênalti!" - revelou Gallatto, após dez anos.

O tempo todo, Paparazzi tentou chamar a atenção. O clima hostil desenhado não só com policiais, mas com uma invasão sem precedentes no campo - a diretoria do Grêmio estava em peso no gramado -, transformava-o num ser invisível. Até que, em determinado momento, Pereira olhou. "Vem aqui, vem aqui", dizia Genival.

Pereira e Gallatto se entreolharam. Surgiu a dúvida: o que ele queria? O fotógrafo, que frequentava os treinos do Náutico, tinha muito mais do que uma foto a oferecer.
- No começo, ele não acreditou muito. Eu daqui do Recife... Mas, depois, eu o vi falando com Gallato e apontando pra mim - confidenciou Genival.
Com certo receio, Pereira se aproximou de Genival. E ele disse, em alto e bom som, que conhecia Ademar desde que ele jogava na base do Sport. E revelou que o lateral-esquerdo nunca batia pênaltis. E que, no caso de uma cobrança do atleta, saberia o local.
- Isso aconteceu. É um fato verídico. No meio da confusão, não sabíamos se o jogo iria continuar e tinha muita gente dentro do campo. Não sei direito quem era a pessoa, se era repórter ou fotógrafo. Mas aconteceu. Não tínhamos ideia da veracidade do que ele estava dizendo, porque a situação se tornou muito complicada. A cidade se uniu contra nós. Estava rolando os dois jogos, no mesmo horário, e dois times do Recife podendo subir. Tudo o que surgia do Recife para nós tínhamos o pé atrás - disse Pereira.

O barulho emanado do estádio e a confusão deixaram Pereira e Gallatto atordoados. Seria verdade? Um pernambucano diria onde Ademar bateria um pênalti decisivo daquele? O plano era objetivo, perfeito, detalhado. Sem firulas. Genival disse que Ademar cobraria o pênalti no canto esquerdo do goleiro, à meia altura.

- Ele chegou e disse: "Quem bate é Ademar e ele cobra assim". Eu e Gallatto olhávamos desconfiados. Não dava para ter tanta confiança. Mas o pênalti foi batido da forma que ele nos falou. Gallatto pulou para o canto que ele disse que ia ser - revelou Pereira.

O arremate foi exatamente no canto que Gallatto pulou. Apesar do goleiro ter negado que Genival o tenha influenciado, pulou para o lado indicado. Ele pegou a bola com o pé. Talvez a indecisão, até o último segundo, tenha feito o goleiro saltar de maneira atrasada, executando a defesa.

Depois, Genival foi até o vestiário do Grêmio e fez fotos da festa - que se perderam nos seus arquivos. Foi até presentado por Pereira.
- Fui eu que fiz as fotos da festa lá do Grêmio, dentro do vestiário. Pereira me deu até a camisa dele daquele jogo. Eu botei na moldura - disse Genival, que se esquivou das perguntas sobre o motivo de ter dado uma mãozinha ao time gaúcho.

O destino da camisa, um artefato que muito torcedor do Grêmio daria um belo dinheiro para ter em suas mãos, está em um local improvável, em um estabelecimento localizado num município a pouco mais de 70 quilômetros da capital pernambucana. Quer dizer, isso se a memória de Paparazzi estiver afiada.

- A camisa, eu dei ou vendi. Não lembro. Acho que dei. Acho que está em um bar lá em Limoeiro.

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