
Foto: Gonza Rodríguez / ZH
Ele era o lateral-direito daquele supertime do Inter nos anos 70. Pendurou as chuteiras jovem, aos 27 anos, com problemas no joelho. Começava a sua peregrinação pela nossa rivalidade provincial. Por sete vezes foi técnico no Beira-Rio. Noutras quatro comandou o Grêmio. Soma quatro títulos gaúchos em vermelho, mas foi de azul que se tornou o primeiro treinador a vencer a Copa do Brasil, em 1989. Como diretor técnico nas imediações da Padre Cacique, contratou um certo Muricy Ramalho, então no Figueirense.
Cláudio Pires Duarte, 65 anos, é um personagem Gre-Nal único. Viveu o clássico lá e cá dezenas de vezes. Há uma virtude nele que, se não supera o sucesso como homem do futebol do Rio Grande do Sul, chega perto. As histórias do Claudião são lendárias. Tanto quanto as piadas. O Claudião é um contador de piadas excepcional. Mesmo as sem graça, na sua gagueira agora suave, são de rolar de rir. Neste fim de semana importam suas histórias. Ele me contou duas, suficientes para mostrar como o Gre-Nal marca a ferro e fogo a vida de quem o viveu lá dentro do campo.
Em 1974, Claudião levou a pior numa dividida contra o Caxias, no Centenário. O tornozelo virou uma bola de futebol de salão, que na época se dizia futebol de salão, e não futsal. O domingo seguinte era o do Gre-Nal, e uma vitória daria ao Inter o hexa. Levaram-no para o hospital, em Porto Alegre. Passou a semana nos Estádio dos Eucalitptos, aos cuidados do massagista Edi Marques da Cruz, com o pé para cima. No sábado, baixou o departamento médico em peso na Rua Silvério. Serraram o gesso e infiltraram o tornozelo, roxo como uma beterraba graúda. Só que no seco, sem anestesia, de medo do antidoping. Claudião mordeu uma toalha e gritou o que pode para suportar a dor. Aplicaram-lhe nova bota de gesso, e tornaram a retirá-la na manhã de domingo, quando Rubens Minelli foi vê-lo em um teste no gramado. O técnico o mandou almoçar no Beira-Rio, diante do olhar apavorado de seus companheiros.
– Cláudio, precisamos muito deste título. Põe uma bota bem apertada e vamos para o jogo – ordenou Minelli.
Edi montava uma bota perfeita. Antes, besuntou-lhe com ervas e uma pomada milagrosa para junta de cavalo, que diziam ser maravilhosa no Jockey Club. Acrescentou tensoplast, material plástico revolucionário. Só que ,com tanta bandagem, a chuteira 42 não entrou no pé direito. O jeito foi usar uma 43, emprestada do goleiro Schneider.
Logo a cinco minutos, Loivo errou a bola e acertou o tornolezo inchado bem no ossinho. Quase desmaiou, agarrado às pernas do árbitro Agomar Martins, que veio ver o que tinha acontecido. O jogo seguiu, pegado. Valdomiro fez o gol da vitória. Quase no fim, Claudião errou um carrinho. Parou em Jorge Tabajara, que acertou-lhe um pisão. Veio o recado do banco:
– O Seu Minelli disse que se tu quiseres sair, tranquilo
– Pois manda o Seu Minelli para a %&*! Depois desse sofrimento todo, vou perder a volta olímpica?
O Inter foi hexa e Claudião deixou o Beira-Rio direto para o hospital, onde engessou a perna para ficar 30 dias de molho.
Quinze anos depois, era chegada a hora do primeiro Gre-Nal pelo Grêmio, como técnico, em 1989, depois de uma vida inteira do outro lado. Na chegada da delegação ao portão visitante, avistou um senhor imóvel. Era o Ervino, um velho marceneiro que havia trabalhado na construção do Beira-Rio. Ficaram a sós, pois Cláudio cultivava a superstição de ser o último a descer do ônibus, parea varrer as energias ruins, por algum motivo inexplicável.
Na época das vacas magras, Ervino se dispôs a fazer de graça o berço, a cômoda e o roupeiro do quarto da filha recém nascida Camila, hoje com 33 anos. Colorado até a medula, Ervino olhou firme nos olhos de Claudião e sussurou-lhe, ao pé do ouvido:
– Nunca imaginei.
Aquilo mexeu com Claudião. A torcida do Inter o vaiou com toda a força quando o viu com abrigo do Grêmio, e aquilo o magoou. Não esperava tanta animosidade. Não se abalou. Fez seu trabalho. O Grêmio aplicou 3 a 1 no Inter de Abel Braga e, naquele mesmo ano, sob o seu comando, ergueria a Copa do Brasil, no embalo de Assis e Cuca. Ao caminhar para o ônibus no portão 4, Ervino o esperava. Iria chamá-lo de traidor ou mal-agradecido, pensou Claudião. Mas não. Ervino abraçou-o como a um filho e disse:
– Tô triste pelo meu Inter, mas feliz por ti, que é como se fosse um filho para mim.
Claudião desabou na hora. Choraram juntos, abraçados. Durante as muitas outras vezes nas quais trabalhou no Grêmio e no Inter, o profissional reinou impávido, enérgico como sempre. Nada mais o afetou. Ali, naquele momento, virou um personagem Gre-Nal. Um Gre-Nal como o deste domingo, pelo Brasileirão, à espera de histórias para serem contadas como as de Cláudio Duarte, o Claudião.
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Ele era o lateral-direito daquele supertime do Inter nos anos 70. Pendurou as chuteiras jovem, aos 27 anos, com problemas no joelho. Começava a sua peregrinação pela nossa rivalidade provincial. Por sete vezes foi técnico no Beira-Rio. Noutras quatro comandou o Grêmio. Soma quatro títulos gaúchos em vermelho, mas foi de azul que se tornou o primeiro treinador a vencer a Copa do Brasil, em 1989. Como diretor técnico nas imediações da Padre Cacique, contratou um certo Muricy Ramalho, então no Figueirense.
Cláudio Pires Duarte, 65 anos, é um personagem Gre-Nal único. Viveu o clássico lá e cá dezenas de vezes. Há uma virtude nele que, se não supera o sucesso como homem do futebol do Rio Grande do Sul, chega perto. As histórias do Claudião são lendárias. Tanto quanto as piadas. O Claudião é um contador de piadas excepcional. Mesmo as sem graça, na sua gagueira agora suave, são de rolar de rir. Neste fim de semana importam suas histórias. Ele me contou duas, suficientes para mostrar como o Gre-Nal marca a ferro e fogo a vida de quem o viveu lá dentro do campo.
Em 1974, Claudião levou a pior numa dividida contra o Caxias, no Centenário. O tornozelo virou uma bola de futebol de salão, que na época se dizia futebol de salão, e não futsal. O domingo seguinte era o do Gre-Nal, e uma vitória daria ao Inter o hexa. Levaram-no para o hospital, em Porto Alegre. Passou a semana nos Estádio dos Eucalitptos, aos cuidados do massagista Edi Marques da Cruz, com o pé para cima. No sábado, baixou o departamento médico em peso na Rua Silvério. Serraram o gesso e infiltraram o tornozelo, roxo como uma beterraba graúda. Só que no seco, sem anestesia, de medo do antidoping. Claudião mordeu uma toalha e gritou o que pode para suportar a dor. Aplicaram-lhe nova bota de gesso, e tornaram a retirá-la na manhã de domingo, quando Rubens Minelli foi vê-lo em um teste no gramado. O técnico o mandou almoçar no Beira-Rio, diante do olhar apavorado de seus companheiros.
– Cláudio, precisamos muito deste título. Põe uma bota bem apertada e vamos para o jogo – ordenou Minelli.
Edi montava uma bota perfeita. Antes, besuntou-lhe com ervas e uma pomada milagrosa para junta de cavalo, que diziam ser maravilhosa no Jockey Club. Acrescentou tensoplast, material plástico revolucionário. Só que ,com tanta bandagem, a chuteira 42 não entrou no pé direito. O jeito foi usar uma 43, emprestada do goleiro Schneider.
Logo a cinco minutos, Loivo errou a bola e acertou o tornolezo inchado bem no ossinho. Quase desmaiou, agarrado às pernas do árbitro Agomar Martins, que veio ver o que tinha acontecido. O jogo seguiu, pegado. Valdomiro fez o gol da vitória. Quase no fim, Claudião errou um carrinho. Parou em Jorge Tabajara, que acertou-lhe um pisão. Veio o recado do banco:
– O Seu Minelli disse que se tu quiseres sair, tranquilo
– Pois manda o Seu Minelli para a %&*! Depois desse sofrimento todo, vou perder a volta olímpica?
O Inter foi hexa e Claudião deixou o Beira-Rio direto para o hospital, onde engessou a perna para ficar 30 dias de molho.
Quinze anos depois, era chegada a hora do primeiro Gre-Nal pelo Grêmio, como técnico, em 1989, depois de uma vida inteira do outro lado. Na chegada da delegação ao portão visitante, avistou um senhor imóvel. Era o Ervino, um velho marceneiro que havia trabalhado na construção do Beira-Rio. Ficaram a sós, pois Cláudio cultivava a superstição de ser o último a descer do ônibus, parea varrer as energias ruins, por algum motivo inexplicável.
Na época das vacas magras, Ervino se dispôs a fazer de graça o berço, a cômoda e o roupeiro do quarto da filha recém nascida Camila, hoje com 33 anos. Colorado até a medula, Ervino olhou firme nos olhos de Claudião e sussurou-lhe, ao pé do ouvido:
– Nunca imaginei.
Aquilo mexeu com Claudião. A torcida do Inter o vaiou com toda a força quando o viu com abrigo do Grêmio, e aquilo o magoou. Não esperava tanta animosidade. Não se abalou. Fez seu trabalho. O Grêmio aplicou 3 a 1 no Inter de Abel Braga e, naquele mesmo ano, sob o seu comando, ergueria a Copa do Brasil, no embalo de Assis e Cuca. Ao caminhar para o ônibus no portão 4, Ervino o esperava. Iria chamá-lo de traidor ou mal-agradecido, pensou Claudião. Mas não. Ervino abraçou-o como a um filho e disse:
– Tô triste pelo meu Inter, mas feliz por ti, que é como se fosse um filho para mim.
Claudião desabou na hora. Choraram juntos, abraçados. Durante as muitas outras vezes nas quais trabalhou no Grêmio e no Inter, o profissional reinou impávido, enérgico como sempre. Nada mais o afetou. Ali, naquele momento, virou um personagem Gre-Nal. Um Gre-Nal como o deste domingo, pelo Brasileirão, à espera de histórias para serem contadas como as de Cláudio Duarte, o Claudião.
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