O jogo termina, a torcida comemora. Mas Felipão invade o vestiário do Olímpico possuído. Chuta o que vem pela frente e assusta os jogadores. O Grêmio acabara de vencer o Nacional de Medellín por 3 a 1, no duelo da ida final da Libertadores de 1995. Uma vantagem e tanto. Scolari, todavia, não se conformava com o gol sofrido no final. Até porque, antes do tento solitário e doído do esperto Angel, o Tricolor poderia ter goleado, além de ter ido às redes com Marulanda (contra), Jardel e Paulo Nunes.
Como conter a fúria do gringo? Do bolo de jogadores, irrompe Danrlei, apenas 21 anos e ainda algumas espinhas no rosto juvenil. O goleiro ergue a voz:
- Fica tranquilo, Felipe. Eu nunca vou tomar dois gols na Colômbia. Nós já somos campeões.
Adilson levanta a taça ao lado de Fábio Koff (Foto: José Doval/Agência RBS)
A ousadia do garoto hoje virou história. Porque, uma semana depois, Danrlei cumpriu a promessa. Não levou dois gols na Colômbia. Há 20 anos, o suado 1 a 1 em Medellín, com o gol salvador em pênalti de Dinho, fez do 30 de agosto uma data especial aos gremistas, consagrados bicampeões da Libertadores.
- Passa tanta coisa na cabeça, e aí, sinceramente queria ter um braço gigante para abraçar todo mundo ao mesmo tempo - emociona-se o então meia Carlos Miguel.
23.08.1995 - Grêmio 3 x 1 Nacional-COL - Estádio Olímpico
Danrlei, goleiro:
"Posso dizer que a gente não entrou em campo caminhando, parecia que estava levitando, de tanta adrenalina. Tínhamos certeza de que em casa a gente venceria. A atmosfera que se criou, 60, 70 mil gremistas, nem as partes que era para as pessoas caminharem tinha espaço. Ali me veio na cabeça o ano de 1989, que eu não jogava, que eu morava na concentração, Me veio o Danrlei do juvenil do Grêmio, que se assustou quando viu aquele estádio lotado em 1989 que não tinha lugar para sentar. Me vieram todos aqueles cinco seis anos, história da minha vida, as dificuldades. Ali eu disse assim: a gente vai ser campeão da América de qualquer jeito".
Cacalo, vice de futebol:
"A torcida do nesses jogos da Libertadores foi inesquecível. Fez a diferença. Fechamos, todos nós, estávamos imbuídos daquela vontade de ganhar. O time entrava em campo e era um foguetório impressionante, 50 mil bandeirinhas azuis. Aquela motivação que o torcedor acreditava na equipe. O Paulo Nunes, que não é gaúcho, gritava: ah, eu sou gaúcho. Houve uma cumplicidade que eu nunca havia visto antes. Nem vi depois. Arrepiava todo mundo ver aquela torcida gritando, saudando a camisa, o time, o clube. É inacreditável isso".
Carlos Miguel, meia:
"É algo que eu não acreditava, chegar a uma final da competição sul-americana mais importante, principalmente pelo clube do coração, e aquela vontade de ser campeão. Faltavam dois jogos. tínhamos a ideia de que o primeiro jogo era muito decisivo para nós. Fizemos uma grande partida no Olímpico. Aquele gol no final, claro, de um clima diferente no final".
ÁRBITRO DÁ PÊNALTI NO FINAL: "FOI HOMEM DE VERDADE
30.08.1995 - Nacional-COL 1 x 1 Grêmio - Estádio Atanásio Girardot
Alexandre Gaúcho, atacante:
"O Nacional tinha o Higuita, o Aristizábal, encaramos com respeito. Tomamos o gol muito cedo, foi um sufoco. Parecia que o campo estava inclinado, a bola só descia para o nosso campo. Quando o Felipão me chamou no segundo tempo, eu pensei: 'é agora, é a tua vez. É a vez de fazer algo para que possamos ser campeões'. Eu tinha que fazer alguma coisa diferente. Eu era muito utilizado no contra-ataque, e me lançaram. Saí trocando tapa e soco com o lateral. Até que a bola quicou, e eu consegui enquadrar a bola com a cabeça. Pensei em encobrir o Higuita. Daí, veio o encontrão. Com a graça de Deus, ele (Salvatore Imperatore) deu o pênalti. Teve muita personalidade e hombridade para dar um pênalti no final do jogo, fora de casa, numa decisão. Foi homem de verdade".
Dinho, volante:
"Quantas pessoas estão no Rio Grande, no Brasil, no mundo, todas torcendo para a gente. Tudo está nos meus pés. Quando você pega a bola, vai em direção ao pênalti, eu pensava sempre assim. Principalmente com o estádio cheio. Você tem que fazer para deixar o torcedor feliz, sorrindo com seus familiares. Ainda mais numa decisão de Libertadores. Depois, me lembro daquela cara horrível do Paulo Nunes, chorando. O Xoxó chorando. O Felipão... Aquele choro de alegria. Pois sabíamos o que havia sido desde o início do campeonato, com muito sofrimento. O pessoal falando que o time não tinha chance de ser campeão, que era só time de dar porrada. No fim, ficou marcada que, para ganhar da gente, tinha que lutar e correr muito. Aquele time era guerreiro e peleador. Não se entregava nunca".
Carlos Miguel, meia:
"Passa tanta coisa na cabeça, e aí, sinceramente queria ter um braço gigante para abraçar todo mundo ao mesmo tempo. É tanta gente que te ajudou, que batalhou para estar ali. Essa conquista é para aqueles jogadores que, como eu estavam começando e tiveram uma oportunidade única, ou que chegaram desacreditados, mesmo aqueles que já tinham títulos, o Dinho, o Adilson, sem dúvida, se perguntar para eles, a conquista que eles mais dão valor é essa libertadores".
* Por Eduardo Deconto, sob supervisão de Lucas Rizzatti
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- Fica tranquilo, Felipe. Eu nunca vou tomar dois gols na Colômbia. Nós já somos campeões.
Adilson levanta a taça ao lado de Fábio Koff (Foto: José Doval/Agência RBS)
A ousadia do garoto hoje virou história. Porque, uma semana depois, Danrlei cumpriu a promessa. Não levou dois gols na Colômbia. Há 20 anos, o suado 1 a 1 em Medellín, com o gol salvador em pênalti de Dinho, fez do 30 de agosto uma data especial aos gremistas, consagrados bicampeões da Libertadores.
- Passa tanta coisa na cabeça, e aí, sinceramente queria ter um braço gigante para abraçar todo mundo ao mesmo tempo - emociona-se o então meia Carlos Miguel.
23.08.1995 - Grêmio 3 x 1 Nacional-COL - Estádio Olímpico
Danrlei, goleiro:
"Posso dizer que a gente não entrou em campo caminhando, parecia que estava levitando, de tanta adrenalina. Tínhamos certeza de que em casa a gente venceria. A atmosfera que se criou, 60, 70 mil gremistas, nem as partes que era para as pessoas caminharem tinha espaço. Ali me veio na cabeça o ano de 1989, que eu não jogava, que eu morava na concentração, Me veio o Danrlei do juvenil do Grêmio, que se assustou quando viu aquele estádio lotado em 1989 que não tinha lugar para sentar. Me vieram todos aqueles cinco seis anos, história da minha vida, as dificuldades. Ali eu disse assim: a gente vai ser campeão da América de qualquer jeito".
Cacalo, vice de futebol:
"A torcida do nesses jogos da Libertadores foi inesquecível. Fez a diferença. Fechamos, todos nós, estávamos imbuídos daquela vontade de ganhar. O time entrava em campo e era um foguetório impressionante, 50 mil bandeirinhas azuis. Aquela motivação que o torcedor acreditava na equipe. O Paulo Nunes, que não é gaúcho, gritava: ah, eu sou gaúcho. Houve uma cumplicidade que eu nunca havia visto antes. Nem vi depois. Arrepiava todo mundo ver aquela torcida gritando, saudando a camisa, o time, o clube. É inacreditável isso".
Carlos Miguel, meia:
"É algo que eu não acreditava, chegar a uma final da competição sul-americana mais importante, principalmente pelo clube do coração, e aquela vontade de ser campeão. Faltavam dois jogos. tínhamos a ideia de que o primeiro jogo era muito decisivo para nós. Fizemos uma grande partida no Olímpico. Aquele gol no final, claro, de um clima diferente no final".
ÁRBITRO DÁ PÊNALTI NO FINAL: "FOI HOMEM DE VERDADE
30.08.1995 - Nacional-COL 1 x 1 Grêmio - Estádio Atanásio Girardot
Alexandre Gaúcho, atacante:
"O Nacional tinha o Higuita, o Aristizábal, encaramos com respeito. Tomamos o gol muito cedo, foi um sufoco. Parecia que o campo estava inclinado, a bola só descia para o nosso campo. Quando o Felipão me chamou no segundo tempo, eu pensei: 'é agora, é a tua vez. É a vez de fazer algo para que possamos ser campeões'. Eu tinha que fazer alguma coisa diferente. Eu era muito utilizado no contra-ataque, e me lançaram. Saí trocando tapa e soco com o lateral. Até que a bola quicou, e eu consegui enquadrar a bola com a cabeça. Pensei em encobrir o Higuita. Daí, veio o encontrão. Com a graça de Deus, ele (Salvatore Imperatore) deu o pênalti. Teve muita personalidade e hombridade para dar um pênalti no final do jogo, fora de casa, numa decisão. Foi homem de verdade".
Dinho, volante:
"Quantas pessoas estão no Rio Grande, no Brasil, no mundo, todas torcendo para a gente. Tudo está nos meus pés. Quando você pega a bola, vai em direção ao pênalti, eu pensava sempre assim. Principalmente com o estádio cheio. Você tem que fazer para deixar o torcedor feliz, sorrindo com seus familiares. Ainda mais numa decisão de Libertadores. Depois, me lembro daquela cara horrível do Paulo Nunes, chorando. O Xoxó chorando. O Felipão... Aquele choro de alegria. Pois sabíamos o que havia sido desde o início do campeonato, com muito sofrimento. O pessoal falando que o time não tinha chance de ser campeão, que era só time de dar porrada. No fim, ficou marcada que, para ganhar da gente, tinha que lutar e correr muito. Aquele time era guerreiro e peleador. Não se entregava nunca".
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