"Está vendo essa cabeça aqui? Cruza que ele faz". O brado de um enérgico Felipão, abraçado a Jardel, ressoava no vestiário do Grêmio em 1995, minutos antes dos embates pela Libertadores. A ordem do comandante, mantra do bicampeonato da América, era encarada como lema por Arce, Paulo Nunes e Carlos Miguel. Era certeira, quase uma premonição dos 11 gols que transformaram o camisa 16 no artilheiro do título.
O centroavante era o alvo preferido dos gremistas. Não só pelo faro de gol de um matador nato dentro da área. Também pelas "quebradas" ou erros na fala irreverente do companheiro na concentração, todas documentadas na caderneta do capitão Adilson Batista. Prova de que um grupo campeão precisa ser unido. E criativo na hora de se divertir.
Essas histórias engraçadas também davam dor de cabeça a Felipão, que precisava domar um elenco que, não raro, gostava de apreciar o que de melhor tinha a noite de Porto Alegre. Até retiro na serra gaúcha Scolari promoveu no intervalo entre as oitavas e as quartas do torneio continental para evitar desvio de foco. O churrasco interno, então, transformou-se no grande ponto de união.
A história em campo... a América conhece.
A precisão esbanjada por Jardel nos gramados dava lugar aos erros de seu português, combustível de risos e brincadeiras no quartel general que servia de segunda casa a jogadores e comissão técnica, no Estádio Olímpico, a chamada "caverna".
Ali, o centroavante e seu "cocão" - apelido dado a sua cabeça - eram protagonistas por expressões como "estou com dor na palma do pé", "dentro de campo minha naftalina sobe" e "clássico é clássico e vice-versa".
Ditos que não só animavam as disputas no baralho, mas levavam até mesmo Felipão a alterar o cronograma do elenco para que os atletas pudessem se divertir com seu artilheiro nas aparições na televisão.
- Era muito engraçado. A gente sabia que o Jardel quebrava. Na época, os programas que falavam de esporte iam ao ar às 19h30, na TV, e ele estava em boa fase. Os caras sempre convidavam ele. Então o Felipão liberava.
Antecipava ou retardava o jantar para a gente subir para a concentração para ver a hora em que ele ia quebrar. Aí, o pessoal gravava, pegava no pé dele a semana toda - recorda Arilson, então meia promissor que encantava a todos com seu pé esquerdo.
SUOR E UNIÃO NA SERRA
O ambiente de amizade começou a tomar forma em janeiro, ainda sem as “quebradas” de Jardel, que só chegaria mais tarde. Graças à pré-temporada realizada em Canela - depois, ocorreria nova subida à serra, no intervalo da competição. Período que, além de preparar os gremistas para embates ferrenhos pela América do Sul, deu vida à união e à química da equipe dentro de campo.
O ainda garoto goleiro Danrlei, aos 21 anos, se perguntava onde o carioca Paulo Paixão, preparador físico, encontrara tantos parques na serra gaúcha. A programação era severa durante uma semana que soou aos gremistas como um longo mês. Às 7h, sob frio e cerração, corridas, antes mesmo do café da manhã.
Depois, atividade na academia, sucedida de almoço e de uma preciosa hora para descanso nos quartos. À tarde, treinos com bola sob os gritos de Luiz Felipe Scolari. Tudo isso, em meio a conversas e brincadeiras. Afinal, a noite, com todos esgotados, era reservada para o merecido sono.
- Ali, fomos criando uma amizade mais forte, nos conhecendo. Nos conhecíamos, mas não tínhamos aquilo de dormir e de acordar juntos, de conversar depois dos treinos. Ainda mais com o Felipão, que tem esse poder de unir o grupo, que tem esse poder de fazer com que os atletas joguem por ele. Ele tem aquele jeito dele, mas tem um coração do tamanho do mundo - conta o volante Dinho.
CHURRASCOS NA CASA DO DIABO LOIRO
De volta a Porto Alegre, a afinidade entre os atletas cresceu ao ritmo das piadas, cantorias e gozações dos "infernais" Paulo Nunes, Dinho e Adilson Batista. Cresceu tanto que deixou a concentração para ganhar a casa dos jogadores, em especial a do "Diabo Loiro", principal reduto dos encontros dos gremistas, regados a cervejas e churrascos. Ali, nascia outro dos lemas que embalou o bicampeonato da América:
- Sem churrasco, não tem time que levanta taça.
A frase proferida por Jaques, centroavante emergente e autor de um gol na vitória por 2 a 0 sobre o El Nacional-EQU, na primeira fase, retrata o ambiente de um time que gostava de "aprontar". Era uma rotina natural a uma equipe jovem, com média de de idade de pouco mais de 23 anos: vencer dentro de campo, comemorar nas saídas noturnas.
Dos 25 campeões da América, "dois ou três" não perambulavam pelas madrugadas na capital gaúcha. Tudo com certa parcimônia. A união e a seriedade em torno do objetivo principal, de conquistar a América, imperavam sobre a descontração. A história está aí para provar. E graças ao dedo conciliador de Luiz Carlos Martins, o Cacalo, vice-presidente de futebol.
Passados 20 anos, o ex-dirigente resguarda da mesma cumplicidade da época para falar dos causos daquela campanha. Sempre sem citar nomes. Certa feita, liberou um atleta, desgastado por tantos dias de concentração, para passar a noite com a família, a contragosto de Felipão. Mais tarde, soube que o tal jogador não apareceram nem em casa, nem no Estádio Olímpico. Teve de segurar a barra, assim como fez quando outro dos gremistas pediu uma cerveja antes de um embarque, já no aeroporto.
- Eu nunca tive problema em relação a isso. Sei que tinha jogador que saía na noite, chegava tarde. Ninguém é bobo no futebol. Claro que não exageravam, não chegavam bêbados. Quando se excediam na noite, eram os primeiros a chegar para treinar. Eu não acobertava erros. Quando tinha que punir, punia, mas foram muito poucas vezes. Eram pessoas extraordinárias. Eles diziam: "hoje fiz isso, mas amanhã a gente vai ganhar". Era assim. Eles respondiam conquistando títulos - relata.
CARTEADO À BASE DE PETELECOS
Além da conquista da América, o ano de 1995 reservou aos gremistas um calendário recheado de jogos e viagens longas. Foram, ao todo, 97 partidas disputadas sob o comando de Felipão naquela temporada tão exitosa.
Motivo para desgaste, mas também para dias e dias de concentração no Estádio Olímpico. Sem televisão no quarto, internet e bate-papos pelo Whatsapp, o ambiente era fértil para que os gremistas transformassem a sala de convivência do quartel general, no segundo andar do velho casarão em sua segunda casa.
Ali, enquanto assistiam a jogos na TV e viam os filhos dos atletas mais experientes fervilharem em brincadeiras, os gremistas ocupavam o tempo com carteado, em um animado jogo de 21, capaz de reunir todo o elenco em torno das disputas, normalmente com dois vencedores em especial. Ora, quem vencia era o finado massagista Banha, que limpava a mesa e tirava alguns reais dos bolsos dos atletas, ora o triunfante era Dinho. Aí, o pagamento da aposta era dolorido. Se materializava em petelecos nas orelhas dos colegas.
- Eu não jogava, que era bem orelhudo, até. Mas eu dava muita risada. Era muita pancada na orelha, ainda mais do Dinho, que tinha um peteleco fora de série. Tinha gente que até ficava com a orelha vermelha. Toda a concentração jogava. Virou rotina - recorda o goleiro Murilo.
Piadas, petelecos e churrascos. Combustíveis para a amizade e a convivência que deixam saudades aos 25 campeões da América em 1995. União eternizada na memória dos gremistas no choro de alegria que acometeu a todos, já com a taça erguida, no Atanasio Girardot, em Medellín, naquele 30 de agosto.
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Essas histórias engraçadas também davam dor de cabeça a Felipão, que precisava domar um elenco que, não raro, gostava de apreciar o que de melhor tinha a noite de Porto Alegre. Até retiro na serra gaúcha Scolari promoveu no intervalo entre as oitavas e as quartas do torneio continental para evitar desvio de foco. O churrasco interno, então, transformou-se no grande ponto de união.
A história em campo... a América conhece.
A precisão esbanjada por Jardel nos gramados dava lugar aos erros de seu português, combustível de risos e brincadeiras no quartel general que servia de segunda casa a jogadores e comissão técnica, no Estádio Olímpico, a chamada "caverna".
Ali, o centroavante e seu "cocão" - apelido dado a sua cabeça - eram protagonistas por expressões como "estou com dor na palma do pé", "dentro de campo minha naftalina sobe" e "clássico é clássico e vice-versa".
Ditos que não só animavam as disputas no baralho, mas levavam até mesmo Felipão a alterar o cronograma do elenco para que os atletas pudessem se divertir com seu artilheiro nas aparições na televisão.
- Era muito engraçado. A gente sabia que o Jardel quebrava. Na época, os programas que falavam de esporte iam ao ar às 19h30, na TV, e ele estava em boa fase. Os caras sempre convidavam ele. Então o Felipão liberava.
Antecipava ou retardava o jantar para a gente subir para a concentração para ver a hora em que ele ia quebrar. Aí, o pessoal gravava, pegava no pé dele a semana toda - recorda Arilson, então meia promissor que encantava a todos com seu pé esquerdo.
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O ambiente de amizade começou a tomar forma em janeiro, ainda sem as “quebradas” de Jardel, que só chegaria mais tarde. Graças à pré-temporada realizada em Canela - depois, ocorreria nova subida à serra, no intervalo da competição. Período que, além de preparar os gremistas para embates ferrenhos pela América do Sul, deu vida à união e à química da equipe dentro de campo.
O ainda garoto goleiro Danrlei, aos 21 anos, se perguntava onde o carioca Paulo Paixão, preparador físico, encontrara tantos parques na serra gaúcha. A programação era severa durante uma semana que soou aos gremistas como um longo mês. Às 7h, sob frio e cerração, corridas, antes mesmo do café da manhã.
Depois, atividade na academia, sucedida de almoço e de uma preciosa hora para descanso nos quartos. À tarde, treinos com bola sob os gritos de Luiz Felipe Scolari. Tudo isso, em meio a conversas e brincadeiras. Afinal, a noite, com todos esgotados, era reservada para o merecido sono.
- Ali, fomos criando uma amizade mais forte, nos conhecendo. Nos conhecíamos, mas não tínhamos aquilo de dormir e de acordar juntos, de conversar depois dos treinos. Ainda mais com o Felipão, que tem esse poder de unir o grupo, que tem esse poder de fazer com que os atletas joguem por ele. Ele tem aquele jeito dele, mas tem um coração do tamanho do mundo - conta o volante Dinho.
CHURRASCOS NA CASA DO DIABO LOIRO
De volta a Porto Alegre, a afinidade entre os atletas cresceu ao ritmo das piadas, cantorias e gozações dos "infernais" Paulo Nunes, Dinho e Adilson Batista. Cresceu tanto que deixou a concentração para ganhar a casa dos jogadores, em especial a do "Diabo Loiro", principal reduto dos encontros dos gremistas, regados a cervejas e churrascos. Ali, nascia outro dos lemas que embalou o bicampeonato da América:
- Sem churrasco, não tem time que levanta taça.
A frase proferida por Jaques, centroavante emergente e autor de um gol na vitória por 2 a 0 sobre o El Nacional-EQU, na primeira fase, retrata o ambiente de um time que gostava de "aprontar". Era uma rotina natural a uma equipe jovem, com média de de idade de pouco mais de 23 anos: vencer dentro de campo, comemorar nas saídas noturnas.
Dos 25 campeões da América, "dois ou três" não perambulavam pelas madrugadas na capital gaúcha. Tudo com certa parcimônia. A união e a seriedade em torno do objetivo principal, de conquistar a América, imperavam sobre a descontração. A história está aí para provar. E graças ao dedo conciliador de Luiz Carlos Martins, o Cacalo, vice-presidente de futebol.
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Motivo para desgaste, mas também para dias e dias de concentração no Estádio Olímpico. Sem televisão no quarto, internet e bate-papos pelo Whatsapp, o ambiente era fértil para que os gremistas transformassem a sala de convivência do quartel general, no segundo andar do velho casarão em sua segunda casa.
Ali, enquanto assistiam a jogos na TV e viam os filhos dos atletas mais experientes fervilharem em brincadeiras, os gremistas ocupavam o tempo com carteado, em um animado jogo de 21, capaz de reunir todo o elenco em torno das disputas, normalmente com dois vencedores em especial. Ora, quem vencia era o finado massagista Banha, que limpava a mesa e tirava alguns reais dos bolsos dos atletas, ora o triunfante era Dinho. Aí, o pagamento da aposta era dolorido. Se materializava em petelecos nas orelhas dos colegas.
- Eu não jogava, que era bem orelhudo, até. Mas eu dava muita risada. Era muita pancada na orelha, ainda mais do Dinho, que tinha um peteleco fora de série. Tinha gente que até ficava com a orelha vermelha. Toda a concentração jogava. Virou rotina - recorda o goleiro Murilo.
Piadas, petelecos e churrascos. Combustíveis para a amizade e a convivência que deixam saudades aos 25 campeões da América em 1995. União eternizada na memória dos gremistas no choro de alegria que acometeu a todos, já com a taça erguida, no Atanasio Girardot, em Medellín, naquele 30 de agosto.
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