Jens Lehmann esteve no Rio de Janeiro (Foto: Zé Paulo Cardeal/Divulgação FOX Sports)
Foram os alemães que venceram a semifinal da Copa por 7 a 1, mas até eles estão incomodados com a queda da importância dos jogadores brasileiros no cenário futebolístico mundial. O ponto de vista do ex-goleiro da seleção da Alemanha, Jens Lehmann, é um exemplo. Lehmann esteve no Rio de Janeiro fim de semana passado, trazido pelos canais Fox Sports para promover a Bundesliga, depois de passar por Estados Unidos e México.
Lehmann, que chegou a colocar o ídolo Oliver Kahn no banco na Copa de 2006, conversou com o LANCE! no sofá da casa do cônsul da Alemanha no Brasil. Sentindo-se em casa no “inverno” carioca e tendo no jardim um visual hipnotizante da Zona Sul do Rio, ele não teve cerimônia e fez críticas ao desenvolvimento do futebol brasileiro, tanto em relação a jogadores quanto a treinadores.
– O Brasil tem bons jogadores, mas não são educados taticamente. O jogo moderno não funciona assim – disparou o ex-goleiro, que atualmente é comentarista e em seguida mandou mais uma:
E MAIS 7 A 1:
- Lar da Alemanha na Copa espera número recorde de turistas europeus
- Jornalistas gringos debatem sobre fim do respeito à Seleção Brasileira
- A visão do vexame de dentro da imprensa brasileira no Mineirão
- Mundo do futebol ainda está perplexo com vexame da Seleção
- Um vexame que mudou as carreiras de Felipão e Parreira
- Alemães não estão na crista da onda. Brasil afunda após Copa América
– Vemos o nível de técnicos ao olharmos as grandes ligas da Europa e procurarmos: Quem é o brasileiro que trabalha lá? Ninguém.
A mensagem é dura, mas é real: gol da Alemanha.
LANCE!: Como você avalia a Bundesliga atualmente, especialmente em comparação com a Premier League da Inglaterra?
LEHMANN: Se você comparar os dois jogos, não vai ter diferença de ritmo. Isso significa que a Bundesliga cresceu. A maior diferença há uns anos era física e de ritmo da Premier League. Agora a Bundesliga melhorou taticamente, provavelmente está melhor que a Premier League. A audiência nos estádios está maior, a infraestrutura é fantástica. É muito atrativo para as famílias irem. É um evento de família. É uma diferença, por exemplo, da Inglaterra. Você não vê tantas mulheres nos estádios.
LANCE!: Entende que seja um ponto-chave então a questão do público, estádios cheios?
LEHMANN: Quando você compara os grandes jogos da Inglaterra e da Alemanha, é a mesma coisa. Mas acho que, em média, a presença nos estádios na Alemanha é maior, a atmosfera é melhor. Você vê Cristal Palace e Aston Villa não é tão cheio. Na Alemanha, Eintracht Frankfurt x Mainz, tudo vendido. É muito interessante.
LANCE!: Não se preocupa com um domínio tão devastador do Bayern de Munique?
LEHMANN: Acho que o melhor time do Bayern dos últimos dois, três anos foi o melhor da história da Alemanha. Não sou um cara que diz que tudo no passado era melhor. Há um desenvolvimento baseado em tecnologia, conhecimento, o nível está sempre crescendo. Um técnico estrangeiro, Guardiola, veio e fez um time melhor do que já estava. Tem uma grande influência no futebol alemão. E isso também pôde ser visto na Copa do Mundo de 2014. A seleção alemã foi dominada por jogadores do Bayern de Munique e o posicionamento, educação, compreensão tática deles foi um grande benefício para a equipe.
LANCE!: Qual o melhor jogador da Alemanha hoje?
LEHMANN: Provavelmente Robben, em sua posição. Mas você tem em diferentes posições. Há jogadores maravilhosos. Temos grandes defensores, como Boateng. Neuer, de goleiro. É difícil apontar um só.
LANCE!: Se fosse um diretor de clube e tivesse que escolher entre Joachim Löw e Pep Guardiola, quem contrataria?
LEHMANN: Você não pode comparar, porque um é de seleção. Não sei como Löw trabalha no dia a dia (apesar de ter sido treinador por ele na seleção). Eu prefiro não comparar técnico de time com de seleção. Infelizmente eu não venci nada com ele, levou oito anos para ele ganhar, mas acho que Löw melhorou muito desde que era assistente técnico do Klinsmann. Ele tem um bom discernimento para pegar o time certo, a seleção certa.
LANCE!: Por que a Alemanha tem tantos goleiros bons? E isso não é algo que vem de hoje. Posso citar, além de você, Kahn, Köpke, Neuer, Ter Stegen...
LEHMANN: O que posso comparar é entre mim e Neuer, temos o mesmo background. Nós dois jogamos na categoria de base do Schalke 04. Ele cresceu lá. Esse tipo de treinamento de goleiro poderia ver que é diferente dos outros países. É uma rotina diferente a qual estamos acostumados. Uma rotina de técnica e impulsão. Outros goleiros não estão acostumados. Kahn e Kopke, por exemplo, fizeram o mesmo tipo de exercício. É baseado em treinamento e na mentalidade alemã é de buscar a perfeição.
LANCE!: O que você acha sobre essa orientação moderna de o goleiro ter que jogar mais adiantado, praticamente como um líbero?
LEHMANN: Eu comecei jogando assim 20 anos atrás. Quando cheguei à Inglaterra, pensaram que eu estava maluco porque eu ficava a uns 15 metros do gol. Eles não tinham visto isso e acharam que eu tinha enlouquecido. Agora, veem isso dizem que é moderno, novo. Não me pergunte isso, porque foi parte do meu jogo há 20 anos. Não é novo para mim, é só algo que os outros não faziam.
LANCE!: Em quê isso muda o jogo?
LEHMANN: Isso ajuda o time a jogar avançado, adiantado. As pessoas olhavam para mim quando eu falava sobre marcar avançado e pensavam: “Que idiota”. Agora, na Alemanha todo mundo fala em jogar assim. Isso poupa a energia do time, porque se joga com o domínio. Provavelmente, o futuro pode ser jogar com um jogador que vai bem no gol e não com um goleiro de origem.
LANCE!: Qual foi sua reação e impressão sobre o 7 a 1?
LEHMANN: Foi triste para os brasileiros, porque em um jogo o mercado para todos os jogadores do Brasil entrou em colapso um pouco. Quando você contratava um jogador brasileiro, tinha certeza de qualidade. Agora, até com os melhores jogadores jogando daquela forma e você pensa: “Uhm, eles são tão bons assim?”. Acho que, de certa forma, poderia ser o começo de uma mudança no futebol brasileiro. Nós tivemos os mesmos problemas. Todos sabíamos que as 80 milhões de pessoas eram tão talentosas que não precisávamos focar em tática. Acho que com os brasileiros é o mesmo. Tem bons jogadores, mas não são educados taticamente. O jogo moderno não funciona assim.
Observado pelo ex-lateral Gilberto, Lehmann brinca com bola na casa do cônsul alemão (Divulgação/Fox Sports)
LANCE!: Pra você, isso tem a ver com o nível de técnicos do Brasil?
LEHMANN: Vemos o nível de técnicos ao olharmos as grandes ligas da Europa e procurarmos quem é o técnico brasileiro que trabalha lá. Ninguém. Infelizmente, isso tem que ser dito sobre os técnicos alemães também. Os times de topo na Inglaterra também não. Eles tem o mesmo problema. Treinar é uma questão importante. Quando você olha para os times, eles são parecidos. Poucos são fora do comum, como Bayern e Barcelona. Eles são treinados por espanhóis. Então, hoje, deve ter algo que separa os espanhóis de outros.
LANCE!: Como avalia o projeto dos centro de formação para jovens na Alemanha?
LEHMANN: Foi muito bom, implementado pelo presidente anterior Gerhard Mayer-Vorfelder (NR: o ex-dirigente morreu na última segunda-feira, um dia após a entrevista). Agora é a colheita dos frutos desse trabalho, dessa nova abordagem. Mas a Bundesliga ainda não tinha se desenvolvido a nível internacional e ela ainda precisa ir além. Os treinamentos e a compreensão tática dão espaço para desenvolvimento. Mas, de fato, as academias para os jovens fizeram um grande trabalho até aqui.
LANCE!: A Bundesliga é um bom lugar para que o jogador brasileiro se desenvolva?
LEHMANN: Claro, eles tem que aprender como o jogo trabalha. Tática não tem a ver com formações é saber quando e como tem que fazer cada coisa. É uma escola difícil. E você precisa ter bons técnicos.
COM A PALAVRA
Gilberto - ex-lateral-esquerdo
A Bundesliga é forte e isso vai além dos resultados da seleção. Os alemães estão trabalhando há tempo por isso. É um projeto montado para dar retorno a longo prazo. Você vê, por exemplo, o que eles fazem para promover a liga. O Lehmann veio ao Brasil, passou por México e Estados Unidos, mas eu nunca vi fazerem isso com o Brasileirão. Fico feliz por ter feito parte dessa competição quando defendi o Herta Berlin (entre 2004 e 2007). Pude conversar um pouco com o Lehmann no domingo. Ele disse que estava com uns planos para ser treinador em breve e tem dado muitas palestras por aí.
VEJA TAMBÉM
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Foram os alemães que venceram a semifinal da Copa por 7 a 1, mas até eles estão incomodados com a queda da importância dos jogadores brasileiros no cenário futebolístico mundial. O ponto de vista do ex-goleiro da seleção da Alemanha, Jens Lehmann, é um exemplo. Lehmann esteve no Rio de Janeiro fim de semana passado, trazido pelos canais Fox Sports para promover a Bundesliga, depois de passar por Estados Unidos e México.
Lehmann, que chegou a colocar o ídolo Oliver Kahn no banco na Copa de 2006, conversou com o LANCE! no sofá da casa do cônsul da Alemanha no Brasil. Sentindo-se em casa no “inverno” carioca e tendo no jardim um visual hipnotizante da Zona Sul do Rio, ele não teve cerimônia e fez críticas ao desenvolvimento do futebol brasileiro, tanto em relação a jogadores quanto a treinadores.
– O Brasil tem bons jogadores, mas não são educados taticamente. O jogo moderno não funciona assim – disparou o ex-goleiro, que atualmente é comentarista e em seguida mandou mais uma:
E MAIS 7 A 1:
- Lar da Alemanha na Copa espera número recorde de turistas europeus
- Jornalistas gringos debatem sobre fim do respeito à Seleção Brasileira
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- Mundo do futebol ainda está perplexo com vexame da Seleção
- Um vexame que mudou as carreiras de Felipão e Parreira
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– Vemos o nível de técnicos ao olharmos as grandes ligas da Europa e procurarmos: Quem é o brasileiro que trabalha lá? Ninguém.
A mensagem é dura, mas é real: gol da Alemanha.
LANCE!: Como você avalia a Bundesliga atualmente, especialmente em comparação com a Premier League da Inglaterra?
LEHMANN: Se você comparar os dois jogos, não vai ter diferença de ritmo. Isso significa que a Bundesliga cresceu. A maior diferença há uns anos era física e de ritmo da Premier League. Agora a Bundesliga melhorou taticamente, provavelmente está melhor que a Premier League. A audiência nos estádios está maior, a infraestrutura é fantástica. É muito atrativo para as famílias irem. É um evento de família. É uma diferença, por exemplo, da Inglaterra. Você não vê tantas mulheres nos estádios.
LANCE!: Entende que seja um ponto-chave então a questão do público, estádios cheios?
LEHMANN: Quando você compara os grandes jogos da Inglaterra e da Alemanha, é a mesma coisa. Mas acho que, em média, a presença nos estádios na Alemanha é maior, a atmosfera é melhor. Você vê Cristal Palace e Aston Villa não é tão cheio. Na Alemanha, Eintracht Frankfurt x Mainz, tudo vendido. É muito interessante.
LANCE!: Não se preocupa com um domínio tão devastador do Bayern de Munique?
LEHMANN: Acho que o melhor time do Bayern dos últimos dois, três anos foi o melhor da história da Alemanha. Não sou um cara que diz que tudo no passado era melhor. Há um desenvolvimento baseado em tecnologia, conhecimento, o nível está sempre crescendo. Um técnico estrangeiro, Guardiola, veio e fez um time melhor do que já estava. Tem uma grande influência no futebol alemão. E isso também pôde ser visto na Copa do Mundo de 2014. A seleção alemã foi dominada por jogadores do Bayern de Munique e o posicionamento, educação, compreensão tática deles foi um grande benefício para a equipe.
LANCE!: Qual o melhor jogador da Alemanha hoje?
LEHMANN: Provavelmente Robben, em sua posição. Mas você tem em diferentes posições. Há jogadores maravilhosos. Temos grandes defensores, como Boateng. Neuer, de goleiro. É difícil apontar um só.
LANCE!: Se fosse um diretor de clube e tivesse que escolher entre Joachim Löw e Pep Guardiola, quem contrataria?
LEHMANN: Você não pode comparar, porque um é de seleção. Não sei como Löw trabalha no dia a dia (apesar de ter sido treinador por ele na seleção). Eu prefiro não comparar técnico de time com de seleção. Infelizmente eu não venci nada com ele, levou oito anos para ele ganhar, mas acho que Löw melhorou muito desde que era assistente técnico do Klinsmann. Ele tem um bom discernimento para pegar o time certo, a seleção certa.
LANCE!: Por que a Alemanha tem tantos goleiros bons? E isso não é algo que vem de hoje. Posso citar, além de você, Kahn, Köpke, Neuer, Ter Stegen...
LEHMANN: O que posso comparar é entre mim e Neuer, temos o mesmo background. Nós dois jogamos na categoria de base do Schalke 04. Ele cresceu lá. Esse tipo de treinamento de goleiro poderia ver que é diferente dos outros países. É uma rotina diferente a qual estamos acostumados. Uma rotina de técnica e impulsão. Outros goleiros não estão acostumados. Kahn e Kopke, por exemplo, fizeram o mesmo tipo de exercício. É baseado em treinamento e na mentalidade alemã é de buscar a perfeição.
LANCE!: O que você acha sobre essa orientação moderna de o goleiro ter que jogar mais adiantado, praticamente como um líbero?
LEHMANN: Eu comecei jogando assim 20 anos atrás. Quando cheguei à Inglaterra, pensaram que eu estava maluco porque eu ficava a uns 15 metros do gol. Eles não tinham visto isso e acharam que eu tinha enlouquecido. Agora, veem isso dizem que é moderno, novo. Não me pergunte isso, porque foi parte do meu jogo há 20 anos. Não é novo para mim, é só algo que os outros não faziam.
LANCE!: Em quê isso muda o jogo?
LEHMANN: Isso ajuda o time a jogar avançado, adiantado. As pessoas olhavam para mim quando eu falava sobre marcar avançado e pensavam: “Que idiota”. Agora, na Alemanha todo mundo fala em jogar assim. Isso poupa a energia do time, porque se joga com o domínio. Provavelmente, o futuro pode ser jogar com um jogador que vai bem no gol e não com um goleiro de origem.
LANCE!: Qual foi sua reação e impressão sobre o 7 a 1?
LEHMANN: Foi triste para os brasileiros, porque em um jogo o mercado para todos os jogadores do Brasil entrou em colapso um pouco. Quando você contratava um jogador brasileiro, tinha certeza de qualidade. Agora, até com os melhores jogadores jogando daquela forma e você pensa: “Uhm, eles são tão bons assim?”. Acho que, de certa forma, poderia ser o começo de uma mudança no futebol brasileiro. Nós tivemos os mesmos problemas. Todos sabíamos que as 80 milhões de pessoas eram tão talentosas que não precisávamos focar em tática. Acho que com os brasileiros é o mesmo. Tem bons jogadores, mas não são educados taticamente. O jogo moderno não funciona assim.
Observado pelo ex-lateral Gilberto, Lehmann brinca com bola na casa do cônsul alemão (Divulgação/Fox Sports)
LANCE!: Pra você, isso tem a ver com o nível de técnicos do Brasil?
LEHMANN: Vemos o nível de técnicos ao olharmos as grandes ligas da Europa e procurarmos quem é o técnico brasileiro que trabalha lá. Ninguém. Infelizmente, isso tem que ser dito sobre os técnicos alemães também. Os times de topo na Inglaterra também não. Eles tem o mesmo problema. Treinar é uma questão importante. Quando você olha para os times, eles são parecidos. Poucos são fora do comum, como Bayern e Barcelona. Eles são treinados por espanhóis. Então, hoje, deve ter algo que separa os espanhóis de outros.
LANCE!: Como avalia o projeto dos centro de formação para jovens na Alemanha?
LEHMANN: Foi muito bom, implementado pelo presidente anterior Gerhard Mayer-Vorfelder (NR: o ex-dirigente morreu na última segunda-feira, um dia após a entrevista). Agora é a colheita dos frutos desse trabalho, dessa nova abordagem. Mas a Bundesliga ainda não tinha se desenvolvido a nível internacional e ela ainda precisa ir além. Os treinamentos e a compreensão tática dão espaço para desenvolvimento. Mas, de fato, as academias para os jovens fizeram um grande trabalho até aqui.
LANCE!: A Bundesliga é um bom lugar para que o jogador brasileiro se desenvolva?
LEHMANN: Claro, eles tem que aprender como o jogo trabalha. Tática não tem a ver com formações é saber quando e como tem que fazer cada coisa. É uma escola difícil. E você precisa ter bons técnicos.
COM A PALAVRA
Gilberto - ex-lateral-esquerdo
A Bundesliga é forte e isso vai além dos resultados da seleção. Os alemães estão trabalhando há tempo por isso. É um projeto montado para dar retorno a longo prazo. Você vê, por exemplo, o que eles fazem para promover a liga. O Lehmann veio ao Brasil, passou por México e Estados Unidos, mas eu nunca vi fazerem isso com o Brasileirão. Fico feliz por ter feito parte dessa competição quando defendi o Herta Berlin (entre 2004 e 2007). Pude conversar um pouco com o Lehmann no domingo. Ele disse que estava com uns planos para ser treinador em breve e tem dado muitas palestras por aí.
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