Foto: Fernando Gomes / Agencia RBS
A obstinação é uma das características de Fernandinho, o reforço que o Grêmio pretende ter em campo dia 27, na Arena, contra o Coritiba, pela 12ª rodada do Brasileirão.
A vida nunca foi fácil para o atacante de 28 anos, desde a separação dos pais, ainda menino, a morte do melhor amigo de adolescência, o risco de paralisia, o abandono na Coreia do Sul e a sequência de lesões no São Paulo. Nesses momentos, sempre prevaleceu o desejo de dar certo em uma profissão com a qual já sonhava desde a infância.
— Sinceramente, não sei o que seria se não fosse jogador. Nunca terminei os estudos — conta.
Também não faltou coragem para dizer a Alexandre Kalil, o todo-poderoso presidente do Atlético-MG, que só aceitaria disputar a sétima partida pelo Brasileirão com a garantia de um novo contrato. Se entrasse em campo contra o Criciúma, em Ipatinga, completaria a cota de jogos que impede a venda de jogadores para outros clubes do país.
— Fui sincero com eles, só queria que retribuíssem. Era minha carreira que estava em jogo. Se jogasse, seria foçado a aceitar qualquer proposta do Atlético-MG ou voltar para o mundo árabe — esclarece.
Fernandinho também foi firme ao negociar com o Al-Jazira e dizer que gostaria de atuar no Grêmio. Negociação concluída em 10 de julho, após pelo menos 20 dias de conversas. Agora, só falta a estreia, tão logo o condicionamento físico permita.
Por enquanto, a nova casa só lhe dá alegrias. No dia da apresentação, um dos primeiros jogadores que encontrou foi o zagueiro Bressan, de quem havia sofrido uma entrada forte dia 27 de abril, na Arena, quando Grêmio e Atlético-MG se enfrentaram.
— Falei para ele: agora chega, estamos do mesmo lado — sorri.
As recordações também não são boas do volante Edinho, a quem já enfrentou como jogador do São Paulo.
— Ele falou que agora estamos juntos. Mas o que é dele está guardado — provoca.
A serviço do Grêmio, Fernandinho quer usar a disciplina tática adquirida no Exterior. "Você aprende mesmo sem querer. Ou volta para casa", diz. Ele avisa que não será uma solução como centroavante. Gosta mesmo é de jogar pelos lados do campo.
— Mas também consigo chegar na cara do gol pelas diagonais — garante.
Morte a cavalo
Antes de virar profissional, Fernandinho foi reprovado em dois testes no Santa Cruz-PE. Aos 17 anos, tentou pela terceira vez e foi aprovado. Contrato assinado, foi comemorar com os amigos em
Ameixas, a 110 quilômetros de Recife. Era 25 de novembro, dia de seu aniversário. Eufórico, o atacante aceitou um passeio a cavalo na garupa do melhor amigo. O saldo foi trágico. O animal, sem arreios, chocou-se contra um poste, o amigo teve morte instantânea, e Fernandinho fraturou a bacia.
— Por pouco, não fiquei paralítico — recorda.
Foram três meses parado. Quando reapresentou-se ao Santa Cruz, exigiram um novo teste. Fernandinho disse não, tentou o Náutico, onde também foi reprovado, e, por fim, acertou-se com o Central, de Caruaru. Hoje, ele é casado com Giane, a irmã do amigo morto.
Aventura sul-coreana
No Central, Fernandinho foi descoberto pelo empresário Juan Figer, que o levou para o Iraty-PR. Foram dois meses no interior paranaense, até ser negociado com um clube sul-coreano. A sorte começava a mudar. Saltou de um salário de R$ 1,2 mil para US$ 25 mil, o equivalente, na época, a R$ 25 mil.
— Viajei sozinho, sem saber falar nada de inglês. Por aquela grana, iria de qualquer jeito. Cheguei em Seul perdidaço, depois de 30 horas de viagem — sorri.
Após quatro meses e dois clubes, o atacante viu-se no centro de uma disputa de empresários por US$ 30 mil e precisou voltar ao Brasil.
— Eu era um garoto, chorava todas as noites, de saudade da família. Com o fuso horário, não dormia de noite e sentia sono durante os treinamentos. Mas valeu a pena, aprendi demais — conta.
Rei de Barueri
A escala seguinte depois da Coreia do Sul foi em Barueri, interior paulista. Fernandinho chegou à cidade no final de 2007 e ajudou o Grêmio Barueri a subir para a Série B no fim de 2008. Na temporada de 2009, foi apresentado ao país com seus gols. Eleito a revelação do Brasileirão, foi contratado pelo São Paulo.
— Foi o ex-prefeito de Barueri (Rubens Furlan) quem comprou meu passe do Iraty. Foi um cara que ensinou e ajudou demais — lembra Fernandinho.
Por essa época, ficou conhecido como o Rei de Barueri. Marcava gols na maioria das partidas em casa. Mística que teve sequência também pelo São Paulo, quando o clube mandava seus jogos em Barueri.
Professor Rivaldo
Entre 2011 e 2012, época de São Paulo, Fernandinho contou com um professor a seu lado dentro de campo. Foi o veterano Rivaldo, em uma de suas derradeiras investidas no futebol antes da aposentadoria este ano, pelo Mogi Mirim.
— Ele mudou minha vida, somos muito amigos até hoje — orgulha-se.
A influência foi profissional e pessoal. Rivaldo ensinou o valor da aplicação tática, noções sobre chutes, passes e posicionamento, e ainda passou a Fernandinho lições de humildade.
— Muitas vezes, me sentia envergonhado em ver um cara como ele, que ganhou tudo, correndo dentro de campo e eu parado. De tão humilde, ele nem sabe o que representou para o futebol — avalia.
No Grêmio, é Zé Roberto, outro quarentão, quem serve de exemplo de vida para o novo reforço.
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A vida nunca foi fácil para o atacante de 28 anos, desde a separação dos pais, ainda menino, a morte do melhor amigo de adolescência, o risco de paralisia, o abandono na Coreia do Sul e a sequência de lesões no São Paulo. Nesses momentos, sempre prevaleceu o desejo de dar certo em uma profissão com a qual já sonhava desde a infância.
— Sinceramente, não sei o que seria se não fosse jogador. Nunca terminei os estudos — conta.
Também não faltou coragem para dizer a Alexandre Kalil, o todo-poderoso presidente do Atlético-MG, que só aceitaria disputar a sétima partida pelo Brasileirão com a garantia de um novo contrato. Se entrasse em campo contra o Criciúma, em Ipatinga, completaria a cota de jogos que impede a venda de jogadores para outros clubes do país.
— Fui sincero com eles, só queria que retribuíssem. Era minha carreira que estava em jogo. Se jogasse, seria foçado a aceitar qualquer proposta do Atlético-MG ou voltar para o mundo árabe — esclarece.
Fernandinho também foi firme ao negociar com o Al-Jazira e dizer que gostaria de atuar no Grêmio. Negociação concluída em 10 de julho, após pelo menos 20 dias de conversas. Agora, só falta a estreia, tão logo o condicionamento físico permita.
Por enquanto, a nova casa só lhe dá alegrias. No dia da apresentação, um dos primeiros jogadores que encontrou foi o zagueiro Bressan, de quem havia sofrido uma entrada forte dia 27 de abril, na Arena, quando Grêmio e Atlético-MG se enfrentaram.
— Falei para ele: agora chega, estamos do mesmo lado — sorri.
As recordações também não são boas do volante Edinho, a quem já enfrentou como jogador do São Paulo.
— Ele falou que agora estamos juntos. Mas o que é dele está guardado — provoca.
A serviço do Grêmio, Fernandinho quer usar a disciplina tática adquirida no Exterior. "Você aprende mesmo sem querer. Ou volta para casa", diz. Ele avisa que não será uma solução como centroavante. Gosta mesmo é de jogar pelos lados do campo.
— Mas também consigo chegar na cara do gol pelas diagonais — garante.
Morte a cavalo
Antes de virar profissional, Fernandinho foi reprovado em dois testes no Santa Cruz-PE. Aos 17 anos, tentou pela terceira vez e foi aprovado. Contrato assinado, foi comemorar com os amigos em
Ameixas, a 110 quilômetros de Recife. Era 25 de novembro, dia de seu aniversário. Eufórico, o atacante aceitou um passeio a cavalo na garupa do melhor amigo. O saldo foi trágico. O animal, sem arreios, chocou-se contra um poste, o amigo teve morte instantânea, e Fernandinho fraturou a bacia.
— Por pouco, não fiquei paralítico — recorda.
Foram três meses parado. Quando reapresentou-se ao Santa Cruz, exigiram um novo teste. Fernandinho disse não, tentou o Náutico, onde também foi reprovado, e, por fim, acertou-se com o Central, de Caruaru. Hoje, ele é casado com Giane, a irmã do amigo morto.
Aventura sul-coreana
No Central, Fernandinho foi descoberto pelo empresário Juan Figer, que o levou para o Iraty-PR. Foram dois meses no interior paranaense, até ser negociado com um clube sul-coreano. A sorte começava a mudar. Saltou de um salário de R$ 1,2 mil para US$ 25 mil, o equivalente, na época, a R$ 25 mil.
— Viajei sozinho, sem saber falar nada de inglês. Por aquela grana, iria de qualquer jeito. Cheguei em Seul perdidaço, depois de 30 horas de viagem — sorri.
Após quatro meses e dois clubes, o atacante viu-se no centro de uma disputa de empresários por US$ 30 mil e precisou voltar ao Brasil.
— Eu era um garoto, chorava todas as noites, de saudade da família. Com o fuso horário, não dormia de noite e sentia sono durante os treinamentos. Mas valeu a pena, aprendi demais — conta.
Rei de Barueri
A escala seguinte depois da Coreia do Sul foi em Barueri, interior paulista. Fernandinho chegou à cidade no final de 2007 e ajudou o Grêmio Barueri a subir para a Série B no fim de 2008. Na temporada de 2009, foi apresentado ao país com seus gols. Eleito a revelação do Brasileirão, foi contratado pelo São Paulo.
— Foi o ex-prefeito de Barueri (Rubens Furlan) quem comprou meu passe do Iraty. Foi um cara que ensinou e ajudou demais — lembra Fernandinho.
Por essa época, ficou conhecido como o Rei de Barueri. Marcava gols na maioria das partidas em casa. Mística que teve sequência também pelo São Paulo, quando o clube mandava seus jogos em Barueri.
Professor Rivaldo
Entre 2011 e 2012, época de São Paulo, Fernandinho contou com um professor a seu lado dentro de campo. Foi o veterano Rivaldo, em uma de suas derradeiras investidas no futebol antes da aposentadoria este ano, pelo Mogi Mirim.
— Ele mudou minha vida, somos muito amigos até hoje — orgulha-se.
A influência foi profissional e pessoal. Rivaldo ensinou o valor da aplicação tática, noções sobre chutes, passes e posicionamento, e ainda passou a Fernandinho lições de humildade.
— Muitas vezes, me sentia envergonhado em ver um cara como ele, que ganhou tudo, correndo dentro de campo e eu parado. De tão humilde, ele nem sabe o que representou para o futebol — avalia.
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