Arena Amazônia é bonita, só falta ter jogo (Foto: Divulgação)
"Era uma vez, em um país tropical, 12 elefantes. Gigantes, pomposos e caros. Certo dia, os colonizadores resolveram fazer um evento muito importante, e os elefantes eram peças-chave no espetáculo. O tempo foi passando, vários se atrasaram para a festa, mas, aos trancos e barrancos, todos ficaram prontos a tempo, ainda que necessitando de retoques na maquiagem. Nenhum problema. Um "OEAAA" de alívio ecoou pelo lugar. Mas, depois que a festa acabou, a conta ficou. Os caros elefantes começaram a pesar no orçamento. Alguns, mais badalados, ficaram com donos capazes de bancá-los e utilizá-los em outros espetáculos, ainda que de menor repercussão. Outros, no entanto, foram ficando esquecidos, mudaram de função e até perderam a cor. Desbotaram. E os elefantes brancos ficaram".
A identidade dos elefantes citados na história acima é clara. Mais evidente que muitos co-conspiradores do relatório do FBI. Os grandes e caros "animais" são os estádios construídos/reformados para o maior espetáculo futebolístico da terra: a Copa do Mundo. Mas, quase um ano após o maior vexame da Seleção Brasileira dentro das quatro linhas, a situação de algumas arenas ainda causam vergonha.
Mediante análise dos jogos das três principais divisões do futebol nacional em 2015, é possível constatar que o mais esbranquiçado dos elefantes está enterrado na floresta amazônica. A Arena de Manaus é o único estádio que ainda não foi utilizado no Campeonato Brasileiro deste ano. Ou seja, é o símbolo principal do desperdício de tempo, trabalho e tesouro: R$ 670 milhões investidos, sem retorno. Não há quem apareça para gerir o estádio, e a conta fica com o governo. Os clubes locais, sem condições de bancar os custos operacionais, optam por palcos menores para partidas. O saldo atual é de cinco jogos em 2015.
De 270 partidas (110 pela Série A e 100 pela Série B, 60 pela Série C), 55 foram realizadas em palcos do Mundial, cerca de 20% do total. O maior responsável por essa parcela é o Maracanã (11 jogos até o momento), onde Flamengo e Fluminense mandam seus jogos. Desde o fim do "OEAAA" (a Copa), foram 71 partidas. No entanto, isso não quer dizer que a vida seja fácil para quem cuida do estádio no Rio. O Maracanã não fica lotado com frequência e os prejuízos para a concessionária se acumulam. A solução é apelar para o tour e shows (vai ter Pearl Jam em 22 de novembro).
O Flamengo esteve na Arena Pantanal para enfrentar o Vasco (Foto: David Nascimento)
Entre os 11 estádios da Copa usados nas Séries A, B e C, a Arena das Dunas, outra apontada como potencial elefante branco, foi a menos usada: o América-RN só fez dois jogos lá. Mas, ao menos, a situação é melhor do que em Manaus. Depois da Copa, foram 40 jogos e outros 47 eventos, segundo a assessoria de imprensa do estádio.
A alternativa para Arena sem clubes nas principais competições do país - desde que elas foram inauguradas - é a "importação" de jogos, ainda que a rentabilidade e o apelo deles estejam em queda. O Vasco, por exemplo, mandou o clássico contra o Flamengo na Arena Pantanal, em Cuiabá: 14 mil pagantes, e renda de R$ 1,15 milhão. Nada fora da curva. O estádio do Mato Grosso (que precisou passar por reformas após o Mundial), por sinal, é quem mais "importou" jogos neste ano no Brasileiro: foram três, ao todo. Outro importador é o Mané Garrincha, que tem mais movimento de funcionários do governo do Distrito Federal, já que abriga secretarias, do que torcedores.
Para os "elefantes" que têm dono, como o Beira-Rio, a situação é mais tranquila. Ainda que a conta tenha sido alta e as finanças estejam apertadas - vide o Corinthians - a tendência é que, com o passar do tempo, a corda no pescoço fique mais frouxa.
SELEÇÃO DISTANTE
O abandono dos estádios da Copa também passa pela Seleção Brasileira. A maior parte dos amistosos acontece na Europa. Nos raros jogos recentes em território brasileiro, o Beira-Rio - que está bem cuidado pelo Inter - foi o único a receber jogo. E em um horizonte em que as Eliminatórias apareciam como luz, as trevas tomaram conta porque a CBF terá que apontar duas sedes fixas para a campanha rumo à Rússia em 2018. A tendência é que uma das cidades seja o Rio.
FUNDO DE LEGADO
A CBF tem tentado desenvolver com a Fifa alguns projetos para a utilização dos US$ 100 milhões do fundo de legado. O pontapé inicial foi dado com os centros de treinamento em estados que não receberam jogos do Mundial.
- A diretoria de patrimônio cuida disso. Estão sendo comprados vários terrenos. Você compra, faz o projeto, constrói e depois implanta. Pelo menos três terrenos estão encaminhados: Tocantins, Sergipe e Rondônia. Esse é o cronograma. A CBF compra e as Federações administram e acompanham - explicou o secretário-geral da CBF, Walter Feldman.
Além disso, a CBF pretende usar a verba em outras áreas, como no futebol feminino, de base, capacitação dos médicos (o encontro nacional de médicos teve apoio dessa verba). Um curso de gestão do futebol também está saindo do papel e terá utilização do fundo de legado. Está na cabeça da CBF um projeto relacionado aos gramados, mas ele ainda é embrionário. O fundo de legado, no entanto, não pode ser usado na construção de estádios.
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"Era uma vez, em um país tropical, 12 elefantes. Gigantes, pomposos e caros. Certo dia, os colonizadores resolveram fazer um evento muito importante, e os elefantes eram peças-chave no espetáculo. O tempo foi passando, vários se atrasaram para a festa, mas, aos trancos e barrancos, todos ficaram prontos a tempo, ainda que necessitando de retoques na maquiagem. Nenhum problema. Um "OEAAA" de alívio ecoou pelo lugar. Mas, depois que a festa acabou, a conta ficou. Os caros elefantes começaram a pesar no orçamento. Alguns, mais badalados, ficaram com donos capazes de bancá-los e utilizá-los em outros espetáculos, ainda que de menor repercussão. Outros, no entanto, foram ficando esquecidos, mudaram de função e até perderam a cor. Desbotaram. E os elefantes brancos ficaram".
A identidade dos elefantes citados na história acima é clara. Mais evidente que muitos co-conspiradores do relatório do FBI. Os grandes e caros "animais" são os estádios construídos/reformados para o maior espetáculo futebolístico da terra: a Copa do Mundo. Mas, quase um ano após o maior vexame da Seleção Brasileira dentro das quatro linhas, a situação de algumas arenas ainda causam vergonha.
Mediante análise dos jogos das três principais divisões do futebol nacional em 2015, é possível constatar que o mais esbranquiçado dos elefantes está enterrado na floresta amazônica. A Arena de Manaus é o único estádio que ainda não foi utilizado no Campeonato Brasileiro deste ano. Ou seja, é o símbolo principal do desperdício de tempo, trabalho e tesouro: R$ 670 milhões investidos, sem retorno. Não há quem apareça para gerir o estádio, e a conta fica com o governo. Os clubes locais, sem condições de bancar os custos operacionais, optam por palcos menores para partidas. O saldo atual é de cinco jogos em 2015.
De 270 partidas (110 pela Série A e 100 pela Série B, 60 pela Série C), 55 foram realizadas em palcos do Mundial, cerca de 20% do total. O maior responsável por essa parcela é o Maracanã (11 jogos até o momento), onde Flamengo e Fluminense mandam seus jogos. Desde o fim do "OEAAA" (a Copa), foram 71 partidas. No entanto, isso não quer dizer que a vida seja fácil para quem cuida do estádio no Rio. O Maracanã não fica lotado com frequência e os prejuízos para a concessionária se acumulam. A solução é apelar para o tour e shows (vai ter Pearl Jam em 22 de novembro).
O Flamengo esteve na Arena Pantanal para enfrentar o Vasco (Foto: David Nascimento)
Entre os 11 estádios da Copa usados nas Séries A, B e C, a Arena das Dunas, outra apontada como potencial elefante branco, foi a menos usada: o América-RN só fez dois jogos lá. Mas, ao menos, a situação é melhor do que em Manaus. Depois da Copa, foram 40 jogos e outros 47 eventos, segundo a assessoria de imprensa do estádio.
A alternativa para Arena sem clubes nas principais competições do país - desde que elas foram inauguradas - é a "importação" de jogos, ainda que a rentabilidade e o apelo deles estejam em queda. O Vasco, por exemplo, mandou o clássico contra o Flamengo na Arena Pantanal, em Cuiabá: 14 mil pagantes, e renda de R$ 1,15 milhão. Nada fora da curva. O estádio do Mato Grosso (que precisou passar por reformas após o Mundial), por sinal, é quem mais "importou" jogos neste ano no Brasileiro: foram três, ao todo. Outro importador é o Mané Garrincha, que tem mais movimento de funcionários do governo do Distrito Federal, já que abriga secretarias, do que torcedores.
Para os "elefantes" que têm dono, como o Beira-Rio, a situação é mais tranquila. Ainda que a conta tenha sido alta e as finanças estejam apertadas - vide o Corinthians - a tendência é que, com o passar do tempo, a corda no pescoço fique mais frouxa.
SELEÇÃO DISTANTE
O abandono dos estádios da Copa também passa pela Seleção Brasileira. A maior parte dos amistosos acontece na Europa. Nos raros jogos recentes em território brasileiro, o Beira-Rio - que está bem cuidado pelo Inter - foi o único a receber jogo. E em um horizonte em que as Eliminatórias apareciam como luz, as trevas tomaram conta porque a CBF terá que apontar duas sedes fixas para a campanha rumo à Rússia em 2018. A tendência é que uma das cidades seja o Rio.
FUNDO DE LEGADO
A CBF tem tentado desenvolver com a Fifa alguns projetos para a utilização dos US$ 100 milhões do fundo de legado. O pontapé inicial foi dado com os centros de treinamento em estados que não receberam jogos do Mundial.
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Além disso, a CBF pretende usar a verba em outras áreas, como no futebol feminino, de base, capacitação dos médicos (o encontro nacional de médicos teve apoio dessa verba). Um curso de gestão do futebol também está saindo do papel e terá utilização do fundo de legado. Está na cabeça da CBF um projeto relacionado aos gramados, mas ele ainda é embrionário. O fundo de legado, no entanto, não pode ser usado na construção de estádios.
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