Matheus Biteco se recupera de um problema no púbis (Foto: Lucas Uebel/Grêmio)
A pedra já estava cantada há algum tempo. Mas a demissão de Alexandre Gallo das categorias de base da CBF, selada na última sexta-feira, estava "prevista" para depois do Mundial Sub-20. A decisão foi antecipada pelo diretor de seleções, Gilmar Rinaldi, que oficialmente diz que o objetivo é promover uma integração maior entre base e profissional. O motivo, porém, foi outro: a convocação do volante Matheus Biteco, do Grêmio.
Biteco, 19 anos, está sem jogar desde dezembro de 2014, por causa de uma lesão no púbis. Ele retornou da Alemanha recentemente, e apenas corre ao redor do gramado nos treinos do Grêmio. Após a convocação, o grupo Rogon, fundo de investimentos que comprou o jogador e trabalha com o futebol alemão, enviou um e-mail à CBF avisando sobre o problema físico do volante, que foi cortado do grupo nesta segunda-feira.
Gallo, que no momento não quer dar entrevistas, afirmou por meio de sua assessoria que procurou informações com o empresário de Biteco, Jorge Machado, e depois o executivo de futebol do Grêmio, Rui Costa, para checar se estava tudo bem. Diante da resposta positiva do dirigente, convocou o volante, porque avaliou que teria 35 dias para colocá-lo em forma. Durante todo o ciclo da categoria sub-20, o volante foi um jogador de confiança para o treinador, assumindo o posto de capitão da equipe em vários momentos.
Procurado pela reportagem, Gilmar Rinaldi não quis falar sobre o assunto, assim como Rui Costa.
Pouca conversa com os clubes
Desde o início da sua trajetória na CBF, em janeiro de 2013, Gallo enfrenta a resistência dos clubes. Uma das principais críticas feitas por coordenadores de base era ao acúmulo de funções exercidas pelo técnico.
Gallo era criticado por acumular funções na CBF (Foto: Talal Salman/CBF)
Em dois anos e três meses, Gallo foi treinador das seleções sub-15, sub-17, sub-20 e sub-23, além de coordenador geral da base da CBF. Neste último cargo, implementou mudanças, como a realização de amistosos da seleção olímpica em Datas Fifa, e a pesquisa sobre brasileiros que estão atuando no exterior.
O técnico, que chegou com o objetivo de "implantar uma nova mentalidade na base" também declarou, em entrevista ao jornal "O Estado de São Paulo", que não toleraria "brinquinhos, fone de ouvido, cabelo e marra". O meia Lincoln, do Grêmio, chegou a ser cortado da Seleção sub-15 por se apresentar com um corte de cabelo com o desenho "L-10".
A declaração repercutiu mal, mas a postura rígida do técnico com os jovens agradava ao então presidente da CBF, José Maria Marín, que precisava dar uma resposta forte para o vexame da Seleção sub-20 no Sul-Americano de 2013. O Brasil, então comandado pelo técnico Emerson Ávila, foi eliminado ainda na primeira fase do torneio.
Os clubes, porém, se queixavam frequentemente da falta de diálogo entre a base da CBF e eles. Um episódio que ilustra essa situação aconteceu em 2014, quando Cláudio Caçapa, então técnico da Seleção sub-15, convocou um jogador que havia sido dispensado do Corinthians. Outro episódio no qual não houve diálogo foi a marcação da Copa do Brasil Sub-17 de 2014 para fevereiro, mês de férias na base. Após muita reclamação dos clubes, a competição foi adiada para março.
Para convocar jogadores, Gallo nem sempre os procurava. Mas o fazia quando julgava necessário. Foi assim, por exemplo, com Marlon do Fluminense, que se machucou pouco antes da convocação. Ele entrou em contato com o diretor executivo do Tricolor, Fernando Simone, e se certificou da boa condição física do zagueiro.
Relação com Dunga e Gilmar
Pouco antes de Dunga assumir a Seleção, Gallo falou em entrevista coletiva sobre o projeto que tinha em mente. A ideia era que o técnico da equipe principal convocasse 40% dos jogadores com idade olímpica.
Dunga e Gilmar Rinaldi foram de surpresa ao encontro técnico da CBF (Foto: Felipe Schmidt)
Dunga não gostou da ideia, pois quer ter a liberdade de convocar quem quiser. O projeto mudou, e a relação entre os dois ficou complicada. No III Congresso
Técnico das Categorias de Base, realizado em outubro, ele apareceu de surpresa com Gilmar na entidade. A presença dos dois não era esperada, e o clima de tensão ficou evidente para todos os presentes. Para Gilmar e Dunga, o recado era claro: a integração entre base e profissional não era tão desejada.
Percebendo a insatisfação dos clubes, Gilmar se articulou para reduzir o poder de Gallo. Primeiro, entrevistou alguns coordenadores de clube. Convidou André Figueiredo, do Atlético-MG, para o cargo, em dezembro. O convite foi rejeitado.
Veio o Sul-Americano Sub-20, a má campanha da Seleção, e as críticas ao trabalho de Gallo aumentaram. No fim de fevereiro, houve uma reunião que selaria a saída do técnico, mas o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, decidiu que não era o momento adequado. Pesava a favor de Gallo o fato de ter assumido um departamento praticamente abandonado, e tocado o projeto nos últimos dois anos praticamente sozinho.
Pouco depois, aconteceram as primeiras mudanças. Erasmo Damiani, ex-Palmeiras, assumiu como coordenador da base, e a comissão técnica inteira de Gallo foi oficialmente demitida, incluindo o auxiliar-técnico Maurício Copertino.
Foi contratada uma nova comissão técnica, que preparou um relatório sobre o técnico. A falta de interação entre eles e Gallo era um consenso, e já estava claro que o tempo de permanência dele no cargo seria curto. A saída oficializada na sexta-feira apenas antecipou os planos de Gilmar e Damiani.
O Caso Gerson
Na lista de 35 nomes escolhidos por Gallo, a ausência mais questionada é a de Gerson, meia do Fluminense. O meia teria dito ao treinador, durante o Sul-Americano Sub-20, que não queria ir ao Mundial.
Gallo o teria procurado. Queria ouvir da boca dele, e não do clube, a manifestação da vontade de ir ao Mundial Sub-20. Gerson não teria respondido em nenhum momento. A CBF, que sabia da ausência de Gerson na pré-lista desde março, não se manifestou sobre o assunto.
Demissão da Seleção sub-23 surpreendeu
Se na Seleção sub-20 Gallo esperava uma mudança após o mau desempenho da equipe no Sul-Americano, a demissão da seleção olímpica deixou triste o técnico, que deixa o cargo invicto após dois anos e três meses no comando. Ao todo, foram 24 vitórias e sete empates em 31 partidas, e dois títulos dos Torneios de Toulon, em 2013 e 2014.
Questionada sobre o motivo da demissão e por já saber da pré-lista desde março e não ter falado com o treinador, a CBF enviou a seguinte resposta.
1 - A CBF só interage com os clubes e seus profissionais. As convocações jamais serão feitas baseadas em informações de empresários, em hipótese alguma.
2 - Não cabe ao coordenador intervir a ponto de obrigar a convocação de qualquer jogador. Convocação é responsabilidade do técnico, mas, a partir de agora, o debate e a integração entre os profissionais da equipe serão obrigatórios para a elaboração de qualquer lista.
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A pedra já estava cantada há algum tempo. Mas a demissão de Alexandre Gallo das categorias de base da CBF, selada na última sexta-feira, estava "prevista" para depois do Mundial Sub-20. A decisão foi antecipada pelo diretor de seleções, Gilmar Rinaldi, que oficialmente diz que o objetivo é promover uma integração maior entre base e profissional. O motivo, porém, foi outro: a convocação do volante Matheus Biteco, do Grêmio.
Biteco, 19 anos, está sem jogar desde dezembro de 2014, por causa de uma lesão no púbis. Ele retornou da Alemanha recentemente, e apenas corre ao redor do gramado nos treinos do Grêmio. Após a convocação, o grupo Rogon, fundo de investimentos que comprou o jogador e trabalha com o futebol alemão, enviou um e-mail à CBF avisando sobre o problema físico do volante, que foi cortado do grupo nesta segunda-feira.
Gallo, que no momento não quer dar entrevistas, afirmou por meio de sua assessoria que procurou informações com o empresário de Biteco, Jorge Machado, e depois o executivo de futebol do Grêmio, Rui Costa, para checar se estava tudo bem. Diante da resposta positiva do dirigente, convocou o volante, porque avaliou que teria 35 dias para colocá-lo em forma. Durante todo o ciclo da categoria sub-20, o volante foi um jogador de confiança para o treinador, assumindo o posto de capitão da equipe em vários momentos.
Procurado pela reportagem, Gilmar Rinaldi não quis falar sobre o assunto, assim como Rui Costa.
Pouca conversa com os clubes
Desde o início da sua trajetória na CBF, em janeiro de 2013, Gallo enfrenta a resistência dos clubes. Uma das principais críticas feitas por coordenadores de base era ao acúmulo de funções exercidas pelo técnico.
Gallo era criticado por acumular funções na CBF (Foto: Talal Salman/CBF)Em dois anos e três meses, Gallo foi treinador das seleções sub-15, sub-17, sub-20 e sub-23, além de coordenador geral da base da CBF. Neste último cargo, implementou mudanças, como a realização de amistosos da seleção olímpica em Datas Fifa, e a pesquisa sobre brasileiros que estão atuando no exterior.
O técnico, que chegou com o objetivo de "implantar uma nova mentalidade na base" também declarou, em entrevista ao jornal "O Estado de São Paulo", que não toleraria "brinquinhos, fone de ouvido, cabelo e marra". O meia Lincoln, do Grêmio, chegou a ser cortado da Seleção sub-15 por se apresentar com um corte de cabelo com o desenho "L-10".
A declaração repercutiu mal, mas a postura rígida do técnico com os jovens agradava ao então presidente da CBF, José Maria Marín, que precisava dar uma resposta forte para o vexame da Seleção sub-20 no Sul-Americano de 2013. O Brasil, então comandado pelo técnico Emerson Ávila, foi eliminado ainda na primeira fase do torneio.
Os clubes, porém, se queixavam frequentemente da falta de diálogo entre a base da CBF e eles. Um episódio que ilustra essa situação aconteceu em 2014, quando Cláudio Caçapa, então técnico da Seleção sub-15, convocou um jogador que havia sido dispensado do Corinthians. Outro episódio no qual não houve diálogo foi a marcação da Copa do Brasil Sub-17 de 2014 para fevereiro, mês de férias na base. Após muita reclamação dos clubes, a competição foi adiada para março.
Para convocar jogadores, Gallo nem sempre os procurava. Mas o fazia quando julgava necessário. Foi assim, por exemplo, com Marlon do Fluminense, que se machucou pouco antes da convocação. Ele entrou em contato com o diretor executivo do Tricolor, Fernando Simone, e se certificou da boa condição física do zagueiro.
Relação com Dunga e Gilmar
Pouco antes de Dunga assumir a Seleção, Gallo falou em entrevista coletiva sobre o projeto que tinha em mente. A ideia era que o técnico da equipe principal convocasse 40% dos jogadores com idade olímpica.
Dunga e Gilmar Rinaldi foram de surpresa ao encontro técnico da CBF (Foto: Felipe Schmidt)Dunga não gostou da ideia, pois quer ter a liberdade de convocar quem quiser. O projeto mudou, e a relação entre os dois ficou complicada. No III Congresso
Técnico das Categorias de Base, realizado em outubro, ele apareceu de surpresa com Gilmar na entidade. A presença dos dois não era esperada, e o clima de tensão ficou evidente para todos os presentes. Para Gilmar e Dunga, o recado era claro: a integração entre base e profissional não era tão desejada.
Percebendo a insatisfação dos clubes, Gilmar se articulou para reduzir o poder de Gallo. Primeiro, entrevistou alguns coordenadores de clube. Convidou André Figueiredo, do Atlético-MG, para o cargo, em dezembro. O convite foi rejeitado.
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Gallo o teria procurado. Queria ouvir da boca dele, e não do clube, a manifestação da vontade de ir ao Mundial Sub-20. Gerson não teria respondido em nenhum momento. A CBF, que sabia da ausência de Gerson na pré-lista desde março, não se manifestou sobre o assunto.
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Se na Seleção sub-20 Gallo esperava uma mudança após o mau desempenho da equipe no Sul-Americano, a demissão da seleção olímpica deixou triste o técnico, que deixa o cargo invicto após dois anos e três meses no comando. Ao todo, foram 24 vitórias e sete empates em 31 partidas, e dois títulos dos Torneios de Toulon, em 2013 e 2014.
Questionada sobre o motivo da demissão e por já saber da pré-lista desde março e não ter falado com o treinador, a CBF enviou a seguinte resposta.
1 - A CBF só interage com os clubes e seus profissionais. As convocações jamais serão feitas baseadas em informações de empresários, em hipótese alguma.
2 - Não cabe ao coordenador intervir a ponto de obrigar a convocação de qualquer jogador. Convocação é responsabilidade do técnico, mas, a partir de agora, o debate e a integração entre os profissionais da equipe serão obrigatórios para a elaboração de qualquer lista.
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